HOTEL DELÍRIO - A PEÇA GALILEU GALILEI EM SÃO PAULO

AUTOR: BERTHOLD BRECHT
TEATRO TUCA – SÃO PAUL0 - 2015
DIREÇÃO: CIBELE FORJAZ

DEPOIS DE MUITOS ANOS, VOLTEI A ASSISTIR ESTA PEÇA DE BRECHT,
ÚLTIMA OBRA DO AUTOR, FINALIZADA EM 1945, NOS ESTADOS UNIDOS.
É DE CONHECIMENTO GERAL QUE GALILEI GALILEU ERA UM MATEMÁTICO ESTUDIOSO DE ASTRONOMIA, QUE CONCORDAVA COM AS ANTIGAS OBSERVAÇÕES DE COPÉRNICO SOBRE O PLANETA TERRA E SUA POSIÇÃO 
NO UNIVERSO.
EM 1610, AUMENTANDO A CAPACIDADE DE VISÃO DO TELESCÓPIO (QUE HAVIA SIDO INVENTADO NA HOLANDA), PÔDE CONCLUIR QUE A TERRA GIRAVA
EM TORNO DO SOL E NÃO O CONTRÁRIO, COMO DIZIA A IGREJA CATÓLICA.
APESAR DO FATO SER COMPROVADO ATÉ POR ALGUNS MONGES CIENTISTAS
DO VATICANO, ESSA IDEIA IA CONTRA A DOUTRINA DA IGREJA DE QUE A TERRA ERA O CENTRO DO UNIVERSO, POR CRIAÇÃO DIVINA.
PARA NÃO SER QUEIMADO NA FOGUEIRA, PELA “SANTA” INQUISIÇÃO,
COMO HEREGE, GALILEU FOI OBRIGADO A ABJURAR SUAS AFIRMAÇÕES E VIVER EM PRISÃO DOMICILIAR, ATÉ SUA MORTE, EM 1642. MAS, CONSEGUIU REESCREVER SEUS TEXTOS E, NUM ÚLTIMO ATO, FAZER COM QUE CHEGASSEM A HOLANDA, ABRINDO AS PORTAS DO UNIVERSO PARA O FUTURO.
A PEÇA É UM MUSICAL, CUJO TEXTO FAZ GRANDE CRÍTICA A TODA FORMA DE 
OPRESSÃO E TERMINA COM A FRASE: “INFELIZ A TERRA QUE PRECISA DE HERÓIS”, NUMA ALUSÃO A TODOS OS QUE SOFRERAM OU MORRERAM, NA LUTA PELA VERDADE.
A ADAPTAÇÃO ATUAL NÃO DEIXA DE FAZER IRONIAS À OCASIÃO POLÍTICA QUE VIVEMOS, QUE TENTA IMPOR SUA INCAPACIDADE ADMINISTRATIVA, ATRAVÉS DE QUALQUER MEIO, LÍCITO OU ILÍCITO.  
COM BOA ATUAÇÃO, BEM MONTADA, INTERESSANTE CRIAÇÃO DE ELEMENTOS DE CENA E DE FIGURINOS, TORNA-SE, UM MUSICAL VIBRANTE E “BRASILEIRO”, NOS MOMENTOS ADEQUADOS.

ESSA EXIBIÇÃO ME TROUXE A RECORDAÇÃO DA PRIMEIRA VEZ QUE ASSISTI ESTE BRECHT, NO TEATRO OFICINA (SP) COM A DIREÇÃO DE JOSÉ CELSO MARTINEZ CORREA, EM 1968. REPRESENTANDO A ÉPOCA POLÍTICA EXTREMAMENTE PERIGOSA DA DITADURA MILITAR BRASILEIRA, O ESPETÁCULO APRESENTOU-SE, INTENCIONALMENTE, EM TONS CINZAS E ESCUROS, COM GRADES SIMBOLIZANDO PRISÕES, PERSONAGENS ATUANDO COMO PRISIONEIROS, EMBORA, SEGUINDO, SEMPRE, A LINHA DO TEXTO.
COMO TODA OBRA DO DIRETOR ZÉ CELSO, HOUVE, TAMBÉM, AQUELAS TÍPICAS E DELICIOSAS “LOUCURAS” PERFORMÁTICAS, CARACTERÍSTICAS DO SEU ESTILO, ENVOLVENDO NÃO SÓ OS ATORES, MAS, A TODOS NÓS, PLATEIA, NA ENCENAÇÃO. A DIREÇÃO MUSICAL FOI DO MAESTRO JÚLIO MEDAGLIA E ALGUNS ARRANJOS DO MAESTRO ROGÉRIO DUPRAT.
O ELENCO TRAZIA FAMOSOS NOMES, TAIS COMO: CLÁUDIO CORREA E CASTRO, ESTHER GÓES, ÍTALA NANDI, MIRIAM MUNIZ, OTÁVIO AUGUSTO, RAUL CORTEZ, PEDRO PAULO RANGEL E RENATO BORGHI, ENTRE OUTROS.
MUITO JOVEM, VENDO O ESPETÁCULO PELA PRIMEIRA VEZ, NUMA ÉPOCA DE PERSEGUIÇÕES, TORTURAS E CENSURAS DA POLÍCIA MILITAR, MINHA EMOÇÃO
FOI, EVIDENTEMENTE, BEM MAIOR.                       
ASSISTIR ESSA OBRA E DIVERSAS DO MESMO GÊNERO, NOS INCITAVAM AOS INÚMEROS PROTESTOS QUE NÓS, ESTUDANTES DA USP, FAZÍAMOS CONTRA A DITADURA, RESPIRANDO MUITO GÁS LACRIMOGÊNIO E LEVANDO CACETADAS.

O INFELIZ FATO É QUE TUDO CONTINUA IGUAL. DESDE A ANTIGUIDADE ATÉ HOJE, 2015, VIVENCIAMOS ESSE TEMA DE PERSEGUIÇÕES A MINORIAS, INJUSTIÇAS, CORRUPÇÕES, DITADURAS, TORTURAS E MORTES, EM TODO LUGAR DO MUNDO. REALMENTE, PAZ, JUSTIÇA, BEM ESTAR SOCIAL NÃO PASSAM DE UTOPIAS, PARA A HUMANIDADE.

NOTA: BERTHOLD BRECHT NASCEU NA ALEMANHA EM 1893. A PARTIR DE 1918, INICIOU SUA CARREIRA DE POETA, DRAMATURGO E ENCENADOR. ESCREVEU VÁRIAS PEÇAS E MUSICAIS ATÉ O INÍCIO DA 2ª GUERRA MUNDIAL, QUANDO DEIXOU SEU PAÍS, REFUGIANDO-SE NA DINAMARCA. MAS, COM A INVASÃO ALEMÃ, VIAJOU PARA A AMÉRICA, ESTABELECENDO-SE EM NOVA YORK E EM
HOLLYWOOD, AONDE CONTINUOU SUA PRODUÇÃO.
COM A PAZ ESTABELECIDA, VOLTOU PARA A ALEMANHA EM 1948.
EM 1949, FUNDOU A CIA. TEATRAL BERLINER ENSEMBLE, NA QUAL ENCENOU GRANDE PARTE DE SUAS OBRAS. BRECHT INAUGUROU UM NOVO TIPO DE ENCENAÇÃO TEATRAL, COM FORTE CRÍTICA POLÍTICA E SOCIAL. NAS COMPOSIÇÕES MUSICAIS DE SEUS TEXTOS, CONTOU COM A COLABORAÇÃO DE KURT WEILL E, MAIS TARDE, DE HANS EISLER.
ENTRE SUAS PRINCIPAIS OBRAS ENCONTRAM-SE:
MÃE CORAGEM,  A ÓPERA DOS TRÊS VINTÉNS,  O CÍRCULO DE GIZ CAUCASIANO,  
A VIDA DE GALILEU GALILEI,  TERROR E MISÉRIA NO 3º REICH E OUTRAS.
FALECEU EM 1956.