quarta-feira, 31 de agosto de 2022

LIVRO: PENA DE MANDARIM: DEUS?!

Nascido em uma família católica, extremamente religiosa e rigorosa na observância dos ritos, estudando em colégio de padres salesianos e desejando ser padre, pelas influências recebidas na pré e pós adolescência, acabei me tornando um ateu à toa mas que ainda gostaria de ter fé, como um amparo para sustentar o viver e para que, se houver outra vida após a morte, encontrar pessoas tão queridas. O que, infelizmente, já revela que gostaria de ter fé por meus interesses pessoais e não para louvar um Deus.
Tento refletir algumas vezes porque com uma inicial crença tão arraigada, acabei crendo em nada. Penso inicialmente, entre várias razões, que não consigo imaginar a aparência de um Deus nem compreender um Ser, que seja eterno, que não teve início e não terá fim. 
Aliás, como também, comparando o conceito de ideias grandiosas, penso o mesmo sobre o Universo, mas que teve um início e que poderá ter um fim, segundo a ciência. Porém, o que seria esse espaço anterior à partícula que o iniciou? O que era o Caos, que a religião prega ter sido extinguido quando Deus criou a luz, separou a noite e o dia e deu início a tudo que existe? No entanto, antes disso, aonde situavam-se Deus e o Universo?
São temas difíceis e incompreensíveis pela minha ignorância. Porém, o Universo está aí para ser visto, estudado e explorado.  Além da fé na mente dos crentes, aonde se situa Deus? 
Não desejo ser nem irreverente, nem sacrílego, muito menos  incomodar aos que têm religião. Apenas tenho vontade de falar à respeito.
Não me importaria em acreditar na Bíblia e em sua história se não lesse no Velho Testamento tanta contradição, tantos fatos inverossímeis e absurdos, tanta crueldade e selvageria. Já o início da narração, o Genesis, é muito estranho.
Se o ser humano foi criado por um boneco de barro que teve vida após o sopro divino, Deus não poderia ter criado uma boneca de barro e lhe dar vida com o mesmo sopro divino? Porque precisaria tirar uma costela do homem para criar a mulher? Deus iniciou a criação humana a partir de uma clonagem? 
E o crescei e multiplicai-vos como ocorreu? Sei que expulso do Paraíso, Adão, o primeiro homem, viveu centenas de anos, conforme a Bíblia (aliás, tudo sempre será conforme a Bíblia) e teve inúmeros filhos e filhas. Como se desenvolveu a multiplicação? Foram criados novos bonecos de barro ou o crescimento foi entre si? Se foi entre si seria normal a humanidade se iniciar assim? Não seria incesto? Esses fatos é que me ajudam a ser cada vez mais descrente.
E porque o Deus é apenas Deus de Israel, protegendo-o contra os outros povos existentes?
Não deveria ser um Deus Universal? Afinal existiam também o Egito, a Pérsia, Roma, a Grécia, a Babilônia e outros povos
Tudo o que há na leitura bíblica do velho Testamento são guerras entre os povos, massacres de cidades inteiras, assassinatos de homens, mulheres e crianças, até chegar ao ponto em que Deus se arrepende de ter criado o ser humano e resolver extingui-lo.
Mas Deus que é Onisciente, Onipotente, Onipresente não saberia isso? Não foi quem criou esse homem? Precisaria causar um dilúvio para acabar com ele? E pede a Noé que construa uma arca, salve um par de cada animal existente que une à sua família. Após o baixar das águas, a família de Noé inicia a procriação do ser humano. Novamente derivada de uma mesma família?! E porquê tudo outra vez se já havia dado  errado antes e continuará a dar errado não só por todo o Velho Testamento, mas pelo Novo Testamento, até a atualidade em que vivemos?
Porém, estou me desviando do tema. Não estou aqui desejando comentar a Bíblia. Gostaria de fazer isso numa conversa com outras pessoas, analisando texto a texto, tentando compreender as verdades, divergências e inúmeros defeitos no que é relatado.
(Porém, ainda nela, gostaria de salientar um fato que me chamou muita atenção quando Deus ordena que os homens quebrem as imagens dos deuses de outras tribos e passem a adorar somente a ele. Mas já havia outros deuses no início do mundo? Fico imaginando que imagens seriam essas. Seriam a dos astronautas, conforme o famoso livro de Erich Von Däniken? 
Contudo, o ponto principal pela minha descrença em Deus tem menos relação com a história bíblica e tem total relação com a criação da humanidade. 
Eu não sei explicar como surgiu o Universo, apesar do big bang, nem como surgiram as vidas, apesar do oxigênio, carbono, etc. 
(Inclusive me espanta sempre, saber que o planeta Terra possui incontáveis trilhões de vidas se pensarmos do micróbio ao ser humano).
Porém, é possível acreditar que um Deus teria criado o homem à sua imagem e semelhança e ele ser a pior existência do planeta? Um ser que tem o mais admirável poder de inventividade e um muito maior poder de destruição? Um ser mau, que por interesse próprio comete todos os tipos de crime? Que aonde se instala aniquila a fauna e a flora naturais, iniciando um processo de extermínio que coloca em risco a existência da própria vida e sua continuidade?  É possível acreditar em Deus, a partir da existência do homem, considerado sua principal criação? 
Numa antigo texto que escrevi, pergunto: 
- que falta faz o ser humano ao planeta Terra? 
- Nenhuma. Ao contrário, sem esse ser, a Terra seria o Paraíso. 
O único animal que está fora da necessidade de existência na cadeia biológica é o humano. Segundo Einstein se as abelhas desaparecerem, a vida na Terra terminará em alguns anos.
Se o ser humano desaparecer, nada mudará biologicamente. 
E ele se multiplica cada vez mais, domina, escraviza, suga, contamina e esgota o ambiente que o sustenta e ainda é considerado o animal "superior" do planeta.
É por isso que reafirmo: além não saber imaginar a figura de um Deus e também nem compreender qual o sentido da vida, o ser humano, para mim, é o principal motivo por não conseguir acreditar numa existência divina.
Que pena!

quarta-feira, 13 de julho de 2022

UMA ANTIGA VIAGEM Á EUROPA EM 1981- ITÁLIA E GRÉCIA

ITÁLIA

Ao deixar Viena, rumo à Itália, especificamente a Veneza, jantei no vagão restaurante e fui para a cabine com leito, que havia comprado. Ao vê-la, num espaço estreito contendo 4 leitos, dois em cima e dois embaixo e três pessoas desconhecidas, peguei o que tinha direito como cobertor e travesseiro e fui para a primeira classe, pois seria impossível dormir ali. Achei uma cabine só de assentos, com apenas um rapaz e me instalei. Lá pelas tantas o rapaz me mostrou como abrir os assentos e eles se uniram ficando como duas camas. Achei genial. Além de muito mais larga, era individual. Enquanto estávamos na Áustria tudo correu bem. Quando atravessamos a fronteira e entramos na Itália, após verificação dos passaportes, tentei dormir. Lá pelas 3 da madrugada fomos acordados por funcionários para descer do vagão. Todo mundo estranhou e ficamos na estação de uma pequena cidade, no frio (eu peguei o cobertor) esperando ver o que ia ser resolvido. Ninguém entendeu o que havia acontecido. Os funcionários falavam de um defeito e ali ficamos quase meia hora. No fim, voltamos para o mesmo  vagão que viemos, continuando sem entender, só que, agora, ele estava sem luz e sem aquecimento. Continuamos a viagem no escuro e no frio. Quando paramos em outra estação, um oficial idoso, ao ver que estávamos no escuro acendeu a luz e ligou o aquecimento. Embora eu duvidasse do meu pensamento, aí é que eu compreendi, até por conversas que tinha  ouvido na estação, daqueles funcionários anteriores (não sabiam que eu entedia um pouco do que falavam) que eram socialistas caçoando de nós da 1a.classe e estavam desforrando suas ideias e complexos, fazendo com que saíssemos para o frio, sem precisar. Achei um absurdo atrasarem o trem só por isso, mas quando perguntei para o oficial idoso porque antes tínhamos parado ele respondeu que era uma parada normal para liberar vagões que não seguiriam adiante. Apenas o nosso e os da frente iriam até Veneza. Na Itália havia o costume (não sei se ainda há) de o comboio ir desatrelando vagões que já tinham chegado à cidade de destino. Quer dizer, podíamos ter ficados quietos aonde estávamos, esperando o desatrelar e fomos enganados por meia dúzia de funcionários imbecis, que se divertiram às nossas custas. 
Hoje, tenho um pouco de dúvida dessa minha suposição que acho exagerada, mas na Itália daquela época, tão ferrenha em ideias socialistas, especialmente dos sindicatos e dos crimes da Brigada Vermelha, que inclusive assassinou o 1º ministro Aldo Moro, até pode ter sido verdade.
VENEZA
Mas enfim, depois desse aborrecimento, cheguei em Veneza, pela manhã. Desci na estação e fui procurar o hotel indicado, que ficava bastante perto. Após a instalação, peguei um vaporetto e fui me deslumbrando pelo Gran Canal, (a grande avenida aquática da cidade) vendo os palácios, as gôndolas, as pessoas, num azul cinematográfico. Passar pelo palácio Ca'Doro, pela ponte do Rialto, pela igreja Della Salute e descer num pequeno promontório entre duas colunetas, na imensidão da Piazza de San Marco, com a visão do palácio dos Dogdes, à direita, a extensa galeria lateral de lojas e cafés à esquerda (de quem desce do vaporetto), a enorme torre com o leão símbolo da cidade e a Basílica de San Marco me fizeram entrar num clima de beleza e magia que nem sei expressar.
Espantando os pombos, para poder andar, a primeira visita foi ir até a igreja, de construção bizantina, iniciada em 1.094, conforme li. Possui, no telhado uma cúpola central maior, outras 4 menores e pequenas torres ornamentadas. Passou por vários acréscimos de decoração interna e externa ao longo dos séculos à medida que a república de Veneza ia se enriquecendo com o comércio e com espólios de guerra. A fachada é espetacular, possuindo na parte superior 5 portais com arcos, em estilo oriental, apoiados em pequenas colunas com desenhos sacros no interior e rodeados por várias esculturas de anjos e santos. O Arco do meio é o maior, tendo um grande vitral colorido, principalmente dourado, com motivos sacros e, à sua frente, sob o pórtico da entrada principal, os famosos 4 cavalos em bronze, do século 12, trazidos do hipódromo de Constantinopla, em1.204, roubados por Napoleão Bonaparte no fim do século 18 e devolvidos à cidade em 1815.
Da parte central para baixo, no mesmo sentido dos arco acima, situam 5 entradas, também na forma de grandes arcos, ladeados por várias colunas, sendo que arco maior, central, corresponde a entrada principal da igreja. 
O piso interior é trabalhado com desenhos geométricos e figuras de animais. Segundo li, são do século 12. A igreja é enorme, tendo o formato de cruz, maior no sentido frontal (da porta ao altar) e menor no sentido lateral. No local do altar existe um pequeno sob um baldaquim e outro maior atrás. Tive uma grande admiração e espanto ao ver a riqueza em arte e joias do enorme Pálio D'Oro, atrás do grande altar. 
É uma alta estrutura em madeira, ocupando a parede de fundo da Basílica, em metal e mármore contendo dezenas de pinturas de santos e santas. No cimo da parte superior, quatro molduras em forma de arcos possuem pinturas de cenas religiosas. Ao centro do cimo, numa moldura especial, repleta de recortes e ângulos, há a pintura de N. Senhora e o menino Jesus, em estilo bizantino. Tanto a figura da virgem quanto a do menino Jesus são adornadas de pedras preciosas como rubis, pérolas, esmeraldas e um grande colar de diamantes.
Abaixo do cimo, na continuidade da estrutura, dezenas de diferenciadas molduras com ornamentações admiráveis em relevo, exibem pinturas de santos e santas, lado a lado em quatro patamares (andares). Aliás, toda a estrutura, com as traves de sustentação, são adornadas de esculturas douradas, pedrarias, pequenas pinturas de santos e cenas religiosas. E Cristo, numa configuração bizantina, no centro, em escala maior, numa posição frontal, como que sentado, exibe um livro de sacras escrituras. 
(E eu que pensei que já tivesse visto tudo em matéria de riqueza sacra, na Espanha.)
Internamente, as cúpolas são sensacionais, tanto a maior quanto as menores, possuindo uma decoração de mosaicos com cenas religiosas, rodeadas por  pequenas janelas, dando iluminação especial. Toda a estrutura da igreja é apoiada em arcos, também com ornamentos em mosaicos. A aparência da arquitetura interna é muito mais oriental que ocidental.
As imagens têm estilos românico, gótico e barroco conforme os séculos de suas introduções na Basílica. Junto ao altar principal está a tumba de San Marco, trazida do oriente, no século 12, toda elaborada em relevos e ornamentações douradas.
Ao sair da Basílica, extasiado com tanta história e beleza, fui a torre (campanile) de San Marco, construída na idade média (e reconstruída várias vezes), que felizmente tem elevador, o que permitiu que eu e vários outros turistas tivéssemos uma visão total da cidade. A Igreja Della Salute, à beira do canal, e o próprio Gran Canal ofereciam um panorama sensacional.
Após, fui ao palácio dos Dodges, ou palácio Ducal, que é admirável desde sua arquitetura dos séculos14/15, toda de mármore branco em estilo gótico/tardio, (chamado gótico florido), de aparência muito suave e elegante. Sua majestosa entrada entre várias esculturas exibe, abaixo do vitral, o leão alado, símbolo de Veneza. 
Dentro, pequenos pátios externos, alguns com jardim, separam partes das edificações.
Logo como primeira grande impressão vi uma escadaria imponente, denominada "dos Gigantes" pelas duas enormes esculturas que a ladeiam. Descrever todas as salas seria difícil, mas ao subir pela Scala d'Oro, (como o nome já diz, toda ornamentada de dourados) para o andar de cima, destacam-se, ali,  a grande sala do conselho Ducal, com uma pintura de Tintoretto, "O Paraiso", esplendorosa, que ocupa ampla parede e é considerada entre as maiores pinturas murais do mundo. Situa-se na parte superior da alta parede central da sala e é realmente muito impressionante contemplar, pelo motivo em si, pela quantidade monumental de pessoas pintadas e pelo seu colorido. Destacam-se ainda a sala do Senado, a sala do Escrutínio, sala dos Mapas, os apartamentos Ducais, a Capela, a Pinacoteca, Sala do Colégio e sala do Anti Colégio, conjugadas, e muitas outras. 
O que é maravilhoso nesse palácio é o trabalho de decoração. Todos os mais famosos pintores italianos da época ali trabalharam como Tintoretto, Veronesi, Tiepolo, Ticiano, Sansovino e outros, que executaram obras maravilhosas. Mas o que também admirei foram os adornos da decoração, com as inúmeras talhas douradas e grandes esculturas em madeira ou mármore, que se integram com as paredes como uma obra única. Os tetos, especialmente das salas do Senado e do Grande Conselho têm as pinturas envolvidas por molduras douradas tão grandes e bonitas, esculpidas com diferentes elementos, que lhes dão um aspecto fabuloso, exibindo um luxo artístico, para mim, igual às decorações dos tetos de Versalhes. (E o palácio Ducal foi construído 200 anos antes).
No porão existem as prisões com passagem para a famosa Ponte dos Suspiros (suspiros dos presos que a atravessavam quando nelas entravam, após a condenação. Sendo um deles, o famoso sedutor Giacomo Casanova, que conseguiu fugir). Terminando a visita ao palácio, aproveitei para sair pela ponte, entrando no prédio em frente e desci para as vielas e pontes sobre os canais. Como o frio estava cortante voltei para o hotel com o Vaporetto, para me agasalhar e sair novamente, desta vez para visitar a igreja Della Salute, uma das obras mais bonitas do estilo barroco italiano, chamada a Igreja dos Papas porque, além dos antigos, os Papas mais contemporâneos como Pio X, João XXIII, Paulo VI e João Paulo I, nela rezaram. Comprei dois bonitos terços como lembrança e andei pelos arredores. Vi numa indicação: Coleção Peggy Gughenhiem, imaginei as maravilhas que poderia conter a coleção dessa famosa milionária, mas preferi andar pelas pequenas ruas e pontes. Numa esquina havia uma loja de trabalhos em vidro com um rapaz fazendo as peças. Fiquei, por fora, admirando o forno aceso, a perícia dele em esculpir as peças com o vidro quente e acabei entrando para comprar lembranças. Foi genial. Como ainda era início da tarde voltei para a praça de San Marco e andei por vielas mais estreitas que as de Toledo para chegar à Igreja de São Giovano e São Paulo, que tem na praça em frente, famosa estátua em bronze Lo Condotieri, esculpida pelo Verrochio. 
A igreja tem estilo desde românico até o gótico, é enorme e, além do grande altar e belas pinturas, está cheia de tumbas de personalidades venezianas civis e eclesiásticas, inclusive o papa Leão X, (que não sei porque não está no Vaticano). Possui uma relíquia medonha de Santa Catarina de Siena (um pé) que evitei ver. Voltei pela praça de San Marco e vi as Arcadas com os cafés iluminados. Parei, inclusive, na porta do café Florian, um dos mais conhecidos, com seus lustres, espelhos e cristais. (Por um momento até me lembrou o café A Brasileira, em Lisboa. Mas o Florian é bem mais rebuscado e bonito). As ruas, pelos canais, têm muitas lojas e como Veneza é famosa por seus vidros, vi nas vitrines muitos vasos, esculturas, pesos de papel e outros objetos de grandes mestres dessa arte. Já ficando tarde, resolvi voltar pelo Vaporetto, vendo, no Gran Canal, alguns palácios iluminados, com janelas e terraços abertos, permitindo ver parte do interior com quadros, lustres e tetos decorados.
No hotel, após descansar, saí para jantar num restaurante de "pasta" (massas). Achei curioso que primeiro servem a salada e depois vem a massa escolhida. Foi gostoso e barato.
No hotel, saboreando meu último pedaço de chocolate austríaco de marzipan, anotei o que fiz. E reparei que o mais importante turisticamente, como está concentrado no entorno da piazza de San Marco, parecia já ter visto tudo. Ledo engano.
Em Veneza  flutua-se em todos os sentidos. Como é gostoso andar à toa por estas ruas e canais e ir descobrindo coisas geniais.
Pela manhã fui a Lido, conhecer o mar Adriático, com sol e céu azul. Tomei o barco, desci perto da igreja de Santa Maria Elisabete e andei até o Hotel Excelsior. Mas o Lido, em si, é feio com uma praia estreita e centenas de cabines para banhistas que a tornam menor ainda. O Hotel Excelsior tem um estilo mourisco e é muito grande. Meu interesse nele era apenas ver se tinha sido o hotel no qual o diretor Luchino Visconti filmou "Morte em Veneza", sua última obra genial. Mas quando vi o Hotel Des Bains, mais adiante, também muito chique, fiquei na dúvida. Fui até o Cassino e ao moderníssimo prédio aonde é realizado o festival de Cinema, com o cobiçado troféu Leão de Ouro que já premiou tanto filme importante inclusive o filme brasileiro "Eles não usam Black Tie", com o ótimo texto do Gianfrancesco Guarnieri.
Esperava encontrar a Sofia Loren ou o Marcello Mastroianni, mas eles não estavam. Ela estava em casa na Suíça e ele, em Roma. Que pena esse desencontro. Mas conheci o sr. Giuseppe, o amável porteiro.
Ali também se realiza a Bienal Internacional de Veneza, uma das mais importantes exibições de Artes Plásticas de Vanguarda, do mundo. Voltei para a piazza de San Marco para almoçar e atravessei novamente a Laguna para ir a Ilha de São Giorgio, ver a igreja desse Santo, obra do genial arquiteto Palladio, no Renascimento. Ela possui pinturas de Bassani e Tintoretto, sendo que na capela Della Depozicione, Tintoretto pintou seu último quadro " A Deposição de Cristo". Visitei a Fundação G.Cini, sobre estudos oceanográficos e o Teatro Verde, ao ar livre, rodeado de vegetação e com acústica excelente. Muitos Tenores e "Divas" ali se apresentam. Voltei da ilha, tomei outro vaporetto e fui para outra ilha, a de Murano, visitar as fábricas de vidro, uma ao lado da outra, com obras magníficas dos mestres Venini, Barovier, Seguso, Vecchin e outros, nas vitrines, com preços exorbitantes. Há todo tipo de confecção: antigos, imitando os dos séculos passados e os modernos. Pode-se entrar nas fábricas/lojas e ficar vendo os artistas trabalharem. Comprei pequenas lembranças, práticas de serem carregadas. Mas teria comprado muito obra grande e bonita, as que não eram caras, se não tivesse que carregá-las, visto que ainda vou viajar muito. Na volta para a piazza de San Marco (o ponto referencial para tudo) fui ver o teatro La Fenice, templo da ópera veneziana e a escada Bovolo, próxima, pertencente ao palácio Bovolo. É bastante alta, tendo uma construção em caracol, toda aberta, vazada, mas com centenas de colunetas verticais, como segurança. Não subi.  Continuando à toa pelas ruas fui ao Campo Bartolomeo ver a estátua do Goldoni, já que eu estava ali. E havia uma feira de livros. Numa loja, comprei écharpes para a família e voltei para o hotel.
Ah! Dio mio. Já sinto saudades de Veneza mesmo antes de deixá-la. Especialmente quando ouço o som do Vaporetto, no Gran Canale.
(Como, não tenho tido vida noturna, após jantar, volto para o hotel, escrevo o que vi e logo durmo. Assim tenho acordado cedo demais o que me dá tempo para várias visitas).
Hoje, saí as 7 da manhã para visitar a Basílica dei Frari, iniciada na Idade Média. Fui, por causa das obras que contém. Já na entrada há uma espetacular de um santo, do escultor Canova. Entre as pinturas destacam-se "A Assunção" no altar mor, do pintor Ticiano e, na Sacristia,  a "Madona do Trono" um tríptico enorme, do pintor Bellini. A igreja possui o estilo de Coro em frente ao Altar (como na Espanha) e uma torre quadrada bastante alta. Saí da igreja lá pelas 8h30 e já estava à caminho da cidade de 
VICENZA 
de trem, que não sendo suíço, atrasou meia hora, para uma viagem muita curta. Antes de chegar a cidade, o trem passou por Padova que achei maior do que imaginava. Vi uma igreja vermelha enorme e muito alta e fiquei pensando se seria a de Santo Antônio. Vicenza é uma cidade pequena e anda-se a pé. 
E assim fui vendo o que me levou até ela: as obras do arquiteto Palladio, da Renascença, por volta de 1.500, cujo acervo aqui, é grande. Vi o que se chama Basílica Palladiana que não é uma igreja, mas um mercadão construído em estilo clássico, cheio de colunas, do chão ao teto, a característica da obra do artista. Contém no teto uma espécie de cúpula, mas em formato quadrado e no interior há lojas variadas. 
Visitei o famoso Teatro Olímpico, em estilo grego, porém coberto, dentro da edificação na qual se situa. Há no palco a construção de um cenário fixo ocupando todo o espaço cênico, representando a parte interna de um palácio renascentista, com grande arco central, colunas, portas e janelas tendo inúmeras esculturas de cima a baixo e teto decorado. Em aberturas (portas) dessa sala interna saem ruas compridas, para o fundo do espaço cênico, com portas e janelas de fachadas de outras casas, com objetos variados, dando a ideia de profundidade. A ação teatral passa-se no que seria a sala de entrada do palácio (ou seja, o palco) e na utilização das ruas. A plateia, em frente a todo esse cenário, é um meio círculo, rodeada de colunas e estátuas, como um teatro grego, tendo no teto a pintura do céu com nuvens. Como o cenário é fixo, não há necessidade de troca de ambientes, o que dá uma interessante solução teatral.
Depois, andando bastante, fui até a Vila Rotonda, afastada da cidade, também obra do Palladio, aliás como várias outras vilas pelos arredores. Esta, dentro de grande jardim, quis ver por ter sido cenário do filme D.Giovanni, ópera interpretada por Plácido Domingo e a soprano  Kiri Te Kanawa (que se tornou a grande "Diva" da Ópera Internacional). A vila é quadrada com fachadas nos 4 lados, iguais a entrada de um templo grego, com colunas, frontispício triangular e estátuas. No teto, um grande domo. Parece mais uma grande mansão do que um palácio. 
Como as obras do Palladio são do século 16, muitas necessitam restauros, mas a emoção em ver, é grande.
VERONA
Sempre agradecendo minha ideia de ter comprado o Euro Pass para trem, saí de Vicenza e às 14h30 já estava em Verona. Da estação tomei um ônibus  até a parte central aonde se localizam as principais atrações. Verona é um museu de história à céu aberto.
Possui um anfiteatro romano enorme (tipo Coliseu, só que inteiro), muralhas e arcos romanos, muralhas e palácios/fortaleza medievais, igrejas românicas, góticas, barrocas e neo clássicas.
Além da bela e grande arena/anfiteatro, na praça Bra, aonde acontecem consertos e representações, os lugares principais são a Piazza Erbe, com o palácio medieval della Signoria; os Arcos Scaligere, construção medieval; a casa de Julieta, também medieval, com 4 andares e o famoso balcão, que é  pequeno. Uma estátua em bronze de Julieta fica no jardim, próxima à entrada.
Em seguida, fui à Piazza Duomo, local da catedral, no estilo românico/gótico, com belo vitral em forma de rosácea gótica na parte central e alta torre atrás. Sempre caminhando, vi o palácio governamental no estilo clássico, com grande e bela fonte, na frente.E ainda uma pequena capela com o túmulo de Julieta (?!) e a Igreja de San Zeno, românica, enorme, com imagens góticas sensacionais.
Andei pela Via Cavour, ou melhor Corso Cavour, aonde tem o castelo Vecchio, medieval, com fosso ao redor e pequenas pontes, hoje, transformado em museu. A cidade é grande e avista-se nas colinas palácios antigos. Após a parte antiga inicia-se a moderna até a estação de trem. O grande rio possui pontes de todas as épocas, desde romana até renascença. Existem também muitas praças com monumentos.
Achei Verona uma cidade importante artisticamente e bastante agradável. Saí às 19h30 e cheguei de volta em Veneza às 21h30.
Antes de ir para o hotel, dei umas pequenas voltas como despedida e comi doces numa confeitaria.
Adio Veneza, cara e bela. Tomara outros lugares me agradem tanto.
Que estranho! Hoje Veneza amanheceu nublada e fria. 
Que sorte eu tive com o tempo sempre azul.

MILÃO
Saí da cidade às 8h45 e cheguei a Milão às 13h. Viagem longa pelo norte italiano, com montanhas e ciprestes. Almocei no trem, vendo plantações e vinhedos; restos de antigos palácios e fortalezas. Ao fundo, uma cadeia de montanhas que fiquei imaginando se seriam as Dolomitas (!?) 
Depois de procurar hotel, os do guia estavam cheios, achei um agradável, o hotel Bologna, com quarto moderno. 
Lá pelas 14h30 indagando como ir, tomei um ônibus para ver a Catedral. O impacto foi emocionante. Toda de mármore branco, é a construção gótica mais espetacular que vi, (denominada gótico flamejante) com suas inúmeras pequenas colunas na fachada e nas laterais, com diversos enfeites e centenas de pequenas torres apontando para o céu. As portas centrais são enormes em bronze esculpido com cenas que vão desde a anunciação até a morte de Cristo e acima de tudo, a glória celeste. 
É um trabalho inacreditável, desenhado no século 16, mas apenas concretizado nos séculos 19 e 20. Por dentro, a igreja é simples, com altar central gótico, um sacrário dourado bonito e embaixo, um caixão de prata e vidro com o corpo de São Carlos Borromeu. Há pequenos altares laterais barrocos. Abaixo do piso existem restos dos alicerces da primeira igreja construída nesse local,  paleocristã, do século III. Mas o espetacular da igreja é mesmo sua construção externa, com um mar de agulhas góticas dirigidas ao céu e rodeada de centenas de imagens. É permitido subir no telhado e passei pelos arcos góticos e torres pequenas, admirando todo esse trabalho.
De um lado da Igreja, na Piazza, há o palácio real, em estilo barroco. Não é grande mas é bonito. E do outro lado fica a galeria Vittorio Emanuelle, construída no século 19, num estilo de decoração híbrido, com estátuas, pinturas, ornamentos rococós e um teto grande envidraçado. É bonita, com o seu ar "Belle Époque", cheia de lojas finas e cafés. Quase ao lado, fica o Teatro Scala, na Piazza Scala, que pode-se visitar. Assim, vi o museu, com cenários, objetos, partituras e roupas e máscaras de artistas famosos que por ele passaram. Há uma vasta biblioteca teatral. Mas o que queria ver era o teatro mesmo, com palco e plateia e não foi possível. Só podia chegar até o Foyer. (A mesma coisa que aconteceu na Ópera de Paris). Em frente ao teatro fica o palácio Comunal, da época da Renascença. Pelo nome, acredito que seja administrativo. As praças estavam enfeitadas com flores amarelas, assim como o Teatro e o Palácio. Talvez alguma comemoração cívica.
Deixando esse local, fui ver o palácio Sforzesco, uma fortaleza enorme aonde morou Ludovico, o Mouro e Beatriz D'Este, sua esposa, senhores de Milão. Por fora, é interessante, com torres e portas medievais, fosso em volta e pequenas pontes. Mas já estava fechado. O parque que o envolve é muito grande e caminhei até o grande Arco da Paz. Continuando a andar, voltei para a Catedral e Galeria Victor Emanuelle para ver iluminadas, pois já era noite. A catedral estava belíssima.
Como é bom o fato de nas cidades europeias as atrações principais ficarem relativamente próximas, na parte central antiga. Assim é possível ver muita coisa e aproveitar bem o dia.
Milão é uma cidade enorme e a mais importante da Itália, economicamente. Tem avenidas, parques e prédios antigos e outros muito modernos e um comércio bastante chique com filiais das mais famosas lojas da Europa. A vida cultural é intensa com teatros, exposições, concertos musicais e inúmeros cinemas. Possui escolas de todos os gêneros, de Moda à Medicina.
Como memória de sua arquitetura milenar, vi arenas e portas romanas, fortalezas medievais, além das construções góticas e barrocas.
No dia seguinte, logo cedo, às 8 h, fui visitar as colunas de São Lourenço, que fizeram parte de um templo romano. São interessantes por se imaginar sua época milenar. 
Peguei um ônibus tão cheio e fui tão empurrado pelas gordas mulheres italianas que não via a hora de sair dali. 
Isso, para me dirigir ao palácio Brera, para ver os quadros que me interessavam: a Pietá, de Bellini, a N.Senhora, de Piero della Francesca e os Esponsais de N.Senhora, de Rafael. O palácio é grande e possui obras importantes, inclusive modernas. Mas estou limitando a ver só o  que mais me interessa. E por essa razão, voltei ao Castelo Sforzesco, que já estava aberto. Possui vários pátios internos, com alguns objetos de sua história medieval. Entre as inúmeras salas de exposição pelas quais passei rapidamente, parei na nº 8, para ver o teto pintado por Leonardo Da Vinci, fabuloso e na nº 15 para ver a Pietá inacabada de Michelangelo. É uma escultura vertical genial, com N.Senhora, em pé, segurando Jesus. 
Após, via Piazza Codorna, fui ao mosteiro Santa Maria delle Grazie,  para ver no local em que era o antigo refeitório, a pintura 
A Santa Ceia, afresco de Leonardo da Vinci. É uma obra emocionante, situada do meio para o alto da parede, ocupando-a toda. Fiquei muito tempo admirando. Do lado oposto há uma pintura da crucificação, mas não soube de que pintor.
Visto o que queria, na cidade, ou seja, pouco, mas para mim o mais importante, voltei ao hotel e me arrumei para pegar o trem das 14h, rumo a Mônaco.
Achei Milão uma cidade curiosa. Tem partes bonitas e cuidadas e outras muito abandonadas, inclusive no entorno de Santa Maria delle Grazie, que deve ter tanto turista para ver "A Ceia". Estou me referindo há 40 anos atrás. Atualmente, talvez esteja diferente.
Outra constatação foi a de que os milaneses, com os quais lidei, são muito grosseiros e mal educados. Não posso julgar o povo de uma cidade apenas por esta meia dúzia de contatos. Contudo, posso julgar que são bem politizados porque vi uma manifestação político-social bem séria, com milhares de trabalhadores, ao lado do palácio Sforzesco, quando saí de lá, iniciando uma marcha barulhenta, com cartazes e faixas contra os salários baixos. Havia polícia por todo lado e os manifestantes a enfrentavam com grande violência, prontos para brigar. Resolvi me afastar logo.
Na Inglaterra, França, (a não ser na Sorbonne que havia cartazes chamando o Mitterand de monarquista), Suíça e Áustria encontrei a mais absoluta calma. Já na Espanha, como contei, também houve protestos estudantis.

MÔNACO
Depois de uma cansativa viagem de 5 horas, passando por Gênova
com seu famoso porto mediterrâneo e a cidade se espalhando pelas montanhas; San Remo, a cidade dos antigos festivais musicais, que é bonita, com avenidas arborizadas e construções modernas; pelo Mediterrâneo em diversos lugares, com praias feias e pedregulhos,
cheguei a Mônaco, cansado e com dor de cabeça. Bastou ver a baía toda iluminada e cheia de iates, comecei a melhorar rapidamente.
Após me instalar no Hotel Cosmopolite, na rue de la Turbie, 4, saí para ver a noite e achei uma beleza. As ruas e jardins são muito bem cuidados com prédios antigos, na parte antiga e modernos nas partes novas, que a engenharia do principado foi conquistando nos aterros que realizou. As lojas, ainda abertas, eram finíssimas e caríssimas. Muita gente pelas ruas e a avenida beira-mar, com a lua refletindo na água, estava cinematográfica. Há montanhas rochosas com diversas construções e o mar abaixo. Na elevação rochosa maior, a mais antiga e que deu início ao principado, situa-se a Catedral, o belo prédio do museu Oceanográfico, dirigido, na época, pelo Jacques Cousteau, e no fim da rua, o palácio principesco, com a frente reformada mas mantendo nas laterais restos de construção da fortaleza que foi na Idade Média. Situa-se numa pequena praça, com vista sensacional para o mar, mesmo à noite. Amanhã vou voltar. Desci novamente para avenida beira mar e havia uma espécie de quermesse com barracas de brinquedos eletrônicos, diversões e lanches. Comi um delicioso sanduíche de paté e tomei uma taça de vinho. E subi em direção ao Cassino. (Mônaco é toda de altos e baixos). 
O Cassino de Monte Carlo (aliás, não comentei que Monte Carlo é a capital do principado de Mônaco) tem a construção mais Belle Époque e Rococó possível de se imaginar. Por dentro e por fora. O interior é muito bonito, de um luxo exagerado, cheio de mármores, espelhos, veludos, cristais e dourados, nas diversas salas. Claro que entrei só para ver. E depois de ver, apenas na saída (ou seja, a mesma da entrada) foi que li um aviso em francês e inglês pedindo que as pessoas não entrassem em traje esportivo. Eu estava de paletó mas usando tênis. Curioso que nenhum funcionário do Cassino me impediu de entrar (talvez pensassem que eu fosse algum parente do Onassis). Em frente há um parque com alamedas, fontes, lagos e mil flores, num cuidado exemplar. Ao lado do Cassino fica o Hotel Paris, um dos mais caros da Europa. Tive a audácia de entrar. Curioso que nessa idade eu não via problema algum em entrar nos lugares que queria. Na época e ainda hoje tenho uma filosofia à respeito: "o não eu já tenho, o sim pode ser possível". Vi uma decoração com estilos rococó, Belle Époque e Art-Nouveau, no saguão e no salão. E filiais de Cartier, Yves Saint Laurent, Van Cleef, etc. (Creio que hoje, talvez não deixem mais entrar qualquer um, após tanta mudança social no mundo, para pior). Na rua só tinha Rolls Royce e Mercedes. Se bem que os táxis aqui são Mercedes novos e os ônibus, bonitos e modernos. Todo o Principado é extremamente turístico e bem cuidado. Em diversos lugares vê-se fotos dos soberanos Grace e Rainier. Tenho a impressão que a ideia do Príncipe é transformar Monte Carlo em uma mini Las Vegas, embora bem mais chique, porque em todo lugar há um convite ao jogo ou diversões que tirem dinheiro do turista. Talvez por isso não tenham me barrado em lugar algum e até me tratado muito bem.
Pela manhã seguinte voltei à parte mais antiga, em cima do grande penhasco e vi com calma o palácio que é histórico, bem cuidado, pintado de amarelo, mas sem aparência grandiosa. 
Na guarita, perguntei ao guarda com farda bonita e penachos no capacete, se havia horário de visita e ele respondeu que não. A única parte que poderia ser visitada, na continuidade lateral, era o museu de armas (que não me interessou). O Museu Oceanográfico
é um prédio bonito, com vários andares e parece mais palácio que o do príncipe. A Catedral é normal, sem grandes arroubos de arquitetura mas com decoração super caprichada. Quando entrei, as luzes se acenderam. Foi a primeira vez que vi esse tipo de censor luminoso, visto que só eu estava ali. Ainda nessa mesma e única avenida do penhasco situam-se a Mairie (Prefeitura) e o Correio.
Dela, saem pequenas ruas com 2 metros de largura, arcos e passagens internas para casas bem conservadas, pequenas praças com monumentos, fontes e muita flor. A limpeza é incrível. Passei por rampas e portas antigas da colina e parei num dos diversos mirantes para ver o Mediterrâneo e o porto embaixo, já me despedindo. Voltei devagar, subi outra vez até o Cassino e o Hotel de Paris. Vi o Hotel Hermitage e o Escritório da Olimpic, do Onassis, num canto da praça, que não tinha reparado. São construções antigas e bonitas. Fiz um lanche, peguei minha mala e saí, com destino a Gênova. O Mediterrâneo, pelo caminho é genial. Pequenas cidades como Menton, Ventimiglia, San Remo e outras ficam muito simpáticas vistas do trem, que quando passa por dentro, sempre diminui a marcha. Cheguei à Genova às 18h15. Quando escutei o alto falante da estação anunciar que o trem expresso para Roma ia passar, às 18h32, com parada em Pisa
às 20h40, resolvi desistir de Gênova e fui direto para Pisa, que me interessava muito mais. 

PISA 
Consegui me hospedar no Hotel La Pace, perto da estação e do Correio, que  para mim é importante para comunicação com a família. O hotel é moderno e barato. O melhor que estive, até agora. Como Florença fica a 1 hora e 45' daqui, estou pensando em me sediar em Pisa e ir a Florença quantas vezes forem necessárias. 
Dias atrás soube que a nave Columbia ia subir e hoje, vi na TV do Hotel que ela está descendo por um incidente. É espantoso como estou por fora do que acontece no mundo, estando no centro dele.
Pela manhã, ao abrir a janela e ver a uns 2 quilômetros de distância a cúpola do Domo e a Torre de Piza, no céu azul, já me alegrei demais. Depois de um delicioso café com um divino croissant "sfogliatelli" que como todos sabem, contém mel dentro,
peguei um ônibus e fui à Piazza del Duomo. Entrando por um Arco de antiga muralha, vi em primeiro plano, o Batistério, em seguida A Catedral e ao fundo a Torre. Foi genial.
Piza foi cidade grega, etrusca e romana, Antes de Cristo (B.C.)
E por todo lado há vestígio disso.
O Batistério é uma construção da época românica, mas com decoração externa gótica em mármore e imagens góticas, renascentistas e barrocas internas. O púlpito e a pia batismal, em mármore, são obras do mestre Nicola Pisano. A pia Batismal tem enfeites em mármores que parecem rendas.
A Catedral, também em estilo românico, muita alta e formato em cruz, com três naves, tem decoração gótica por fora, inclusive na abóboda e centenas de pequenas colunas em toda a sua fachada de três patamares. Iniciada em 1064, foi consagrada em 1118, quando estava quase completa. Sofreu incêndios mas foi restaurada. Seu interior é belíssimo. Possui um altar principal em mármore, com anjos em bronze dourado, tendo em volta dezenas de quadros, de cima a baixo, com motivos sacros. O teto possui placas quadradas douradas, em relevo que parecem bordados, com botões floreados no centro. As imagens são de várias épocas. O púlpito, em mármore, é obra de Giovani Pisano  e o grande lampadário é chamado de Galileu porque esse astrônomo/cientista, que nasceu em Piza, se inspirou na oscilação dele para criar sua teoria sobre o pêndulo. Há enorme pintura acima do altar do Cristo Pantocrator, de inspiração bizantina, cujo rosto foi pintado por Cimabue e o corpo terminado por Giambologna. 
Sob a grande abóboda há uma pintura da Assunção de N.Senhora, a quem a igreja é consagrada. Os altares laterais em mármore possuem imagens e ornamentos exageradamente elaborados. Um em especial, exibe uma urna com os restos mortais de San Rainieri,  o patrono da cidade. 
As naves são separadas por colunas que na parte de cima, assim como nas paredes, têm listras em negro, destacando-se na brancura do mármore branco.
Fiquei admirado tanto com a beleza da decoração gótica da parte externa, quanto com o capricho de decoração de várias épocas e estilos da parte interna. As portas frontais, de bronze, com cenas da vida de Cristo e diversos anjos internos foram desenhadas pela oficina do pintor  Giambolonga. Também o pintor Andrea del Sarto colaborou com diversas obras.
Não imaginei que depois de ver muita catedral bonita, fosse admirar tanto a decoração desta. Espantado com tanta preciosidade, sai para ver a Torre tão famosa. Confesso que ao estar subindo, senti um pouco de medo porque havia gente demais e pensei, com todo esse peso é capaz de cair de vez. É alta, vê-se toda a cidade e arredores e as montanhas ao fundo. Pela inclinação torna-se cansativa ao subir e achei um pouco perigosa porque é toda aberta. No topo, quando eu estava exatamente ao lado dos sinos eles começaram a soar 10 horas. Eu precisei tampar os ouvidos. Ainda bem que era a céu aberto, espalhando o som.  Achei que a história de dizerem que a cada ano a torre se inclina devia ser meio lenda, porque senão não deixariam subir tanto turista.
Depois da Torre fui ver o Campo Santo, cemitério com restos de pinturas murais de 1.300, incluindo a pintura "Juízo Final" uma das 5 mais famosas do mundo, obra do pintor de Buonamico Buffalmacco, que li no guia e na minha ignorância, nunca tinha ouvido falar. 
Fora do conjunto das obras, numa calçada ao lado, com lojas e cafés, comprei várias pequenas lembranças e comi pequenas pizzas, num Pizza Snach Bar, tendo na janela, a vista da Torre.
Andei por praças e vielas passando pela igreja de Santa Catarina, pela Piazza dei Cavalieri, pela Piazza Garibaldi, ao palácio Municipal e Arquivo Estatal (ambos da Renascença), junto ao rio Arno. Andando pela margem, cheias de velhos palácios, fui até a Capela della Spina, uma joiazinha gótica, com imagens de Cristo e  Apóstolos, por fora, enfeitada de centenas de colunas e agulhas. Por dentro só havia a imagem de N.S.da Rosa, obra de Nino Pisano. (Mas a rosa "levaram").
Voltei para o Hotel, descansei e saí, de ônibus para ver por fora o Museu Nacional de San Matteo, a Prefeitura e o lado oposto da cidade, a cittadela, com a bonita igreja de San Paolo a Ripadarno. Quase toda a cidade é rodeada de muralhas e portas romanas ou medievais. 
Só tenho falado das partes boas e bonitas, nas cidades que tenho ido, mas em todas, como também aqui, existem partes bem feias.
E isso é normal em toda cidade de qualquer país.
Também tenho falado demais como acho tudo bonito, genial, maravilhoso, sensacional, etc. Até me faltam adjetivos novos para não ser tão repetitivo. Mas a verdade é que são reais a emoção e o contentamento que me levam a essas expressões.
Gostei muito de Piza e o que me interessava, vi em uma manhã. 
O resto foi um bom acréscimo. Ao escurecer, jantei e vim dormir, agradecendo o tempo, durante o dia, estar sempre tão azul.
Acordei bem cedo hoje (14.11) para ir a Florença. A viagem de trem foi muito fácil e logo cheguei.

FLORENÇA
Ao sair da estação tive pane cultural. Sabendo, pelos meu livros, que havia tanto a ser visto, não sabia aonde devia ir ou por onde começar.  E sentei no degrau de uma igreja próxima para me acalmar. Como todos os museus estavam fechados por ser 2a. feira, resolvi que deveria ir aos palácios e igrejas que pudesse ver. Já que estava sentado em frente a uma, a Igreja Sta. Maria Novella, entrei e vi que, como todas, é enorme, bonita, com belo altar e os estilos são românico, decoração gótica, barroca, etc. 
Só que não imaginei que fosse ver pinturas e esculturas de artistas como Ghiberti, Giambologna, Brunelleschi, Perugino, Ucello e até Giotto no mesmo local, numa demonstração de arte sacra que só mesmo as antigas igrejas europeias podem ter. 
Estar nela foi como estar num museu. Como única atração religiosa diferente dos quadros, imagens e esculturas, destacava-se a Capela Espanhola, muito ornamentada, muito dourada, com afrescos de Andrea de Firenze.
Saí e andei até a próxima igreja, a de São Lourenço, que por fora é feia, de tijolos, sem acabamento. E por dentro é grande e contém: um portal interno que é obra de Michelangelo; dois púlpitos de bronze com esculturas que são obra de Donatello; relevos e esculturas de Verrochio e a Sacristia é obra arquitetônica de Brunelleschi. (Alguém pode querer mais? Só falta um cafezinho)
Na saída, sentei novamente num degrau para assimilar melhor a preciosidade artística que vi em apenas duas igrejas.
Como, no trajeto estava a Biblioteca Laurenciana, seguindo o livro-guia fui ver ali, uma famosa tríplice escadaria, obra de Michelangelo.
Caminhando cheguei a Piazza Duomo com a Catedral e em frente o Batistério. Fui logo atraído pelas 3 altas portas do Batistério porque as conhecia dos meus livros. As portas são de bronze com  relevos (quase pequenas esculturas) contendo cenas: do "Paraíso ao Velho Testamento" na porta desenhada por Ghiberti; "da Esperança" com desenhos de Andrea Pisano; "da Anunciação até o Novo Testamento", também desenhada por Ghiberti. 
O Batistério, (como a Catedral e outras igrejas da região) é revestido, por fora, de mármore branco com faixas de mármore preto. Dentro, o teto exibe um grande mosaico com cenas desde a Criação até o Juízo Final. Em volta à pia batismal, há esculturas de Donatello. (Curioso como o mosaico é muito usado nas igrejas)
Atravessei a rua e entrei no Duomo, a Catedral tão famosa de Florença em arquitetura, pinturas e esculturas. Foi iniciada em 1296 e terminada em 1336, sob a direção de Giotto e outros. 
A grande cúpola é obra de Brunelleschi, que tanto trabalho de solução arquitetônica deu aos engenheiros. Ruiu algumas vezes.
Possui obras de vários dos artistas já citados nas duas igrejas anteriores. As portas de bronze também possuem relevos sacros e tanto os vitrais como os mosaicos do chão são bonitos. No porão existem restos da primitiva igreja de Santa Reparata. 
(Interessante construírem uma nova Igreja em cima de restos de outras antigas, como outras que já citei).
Subi ao Campanile de Giotto para ver a cidade lá de cima. Ele também é gótico, acompanhando o estilo da Igreja. 
As esculturas externas ao redor dessas construções são cópias. As verdadeiras estão no museu da Catedral, por causa da ação do tempo. E é claro que fui ver. O museu possui esculturas de Donatello e outros, mas a única coisa que me chamou muita atenção foi uma pietá inacabada de Michelangelo. Gostei demais por ser tão expressiva, sendo tão tosca. Parecia obra moderna.
Fui a a Piazza della Signoria, tão conhecida, filmada e fotografada.
E a achei demais. Sei que tenho exagerado nas minhas admirações. Mas estar no centro dessa arte e história seculares, num dos principais continentes do Velho Mundo, eu que sou do Novo, me faz sentir muito privilegiado. Visitei a Loggia com suas esculturas ao ar livre e entrei no palácio Vecchio, iniciado no século 13, que tem na entrada principal a cópia da famosa escultura do David de Michelangelo, além de outra de Hércules. O palácio tem inúmeras salas, capela, quartos, etc. Alguns tetos são tão elaborados em pinturas e entalhes parecidos com os do palácio dos Dogdes, em Veneza. A maioria das salas exibem obras de artistas como Michelangelo, Vasari, Ghirlandaio, Bronzini e outros. A mais impressionante, para mim, pelo tamanho e decoração, foi a Sala do Conselho, chamada Dei Cinquecento, (dos Quinhentos).
É monumental. O palácio possui uma grande torre, conhecida como Torre de Arnolfo, que servia de arquivo e os porões, de prisão. Todo o conjunto era morada dos Médici. E foi sempre sede do governo da cidade, depois que eles deixaram o poder. 
Na capela, como eu gosto de arte sacra, há imagens que achei geniais. Saí de lá cansado. (Aliás, acho que estou me cansando de ver quase tudo igual e repetir tanto: magnífico, sensacional, maravilhoso, etc.)
Fui a Galeria dei Uffizi e dei graças ao estar fechada, por ser 2a. feira. Andei até a Ponte Vecchio e lá descansei a cabeça e o corpo. Fiz um lanche e passeei por ela. É bem interessante com centenas de lojinhas vendendo de joias de ouro a marcador de livros de couro. Entre ouro e couro fiquei com o último. Comprei alguns. Andando à toa, passei pelo palácio Strozzzi, da antiga família e gostei; pela Piazza de la Republica, comum, e pelo Mercado Novo (que é bem velho) com um famoso porco de bronze, antigo. Nesse mercado há aos domingos a feira da Paglia, com antiguidades, velharias e novidades. Continuei por ruas antigas, estreitas, escuras, sujas e acabei na igreja Orsanmichele, de 1.380, que é pequena mas tem obras sacras de Ghiberti, Donatello, Verrochio e Giambologna, além de um altar sensacional em esculturas. Passei pela Casa de Dante, mas como sabia que ele não estava, não entrei e segui adiante. Passei pela Coluna da Abundanza, pela Badia que é uma torre românica/ gótica e pelo palácio Bargello, onde se localiza o famoso museu, que visitarei amanhã. 
Tomei o ônibus nº 13 e fui a Piazzale Michelangiolo, no alto da cidade, do outro lado do rio Arno. De lá vê-se a maior parte da cidade e a Catedral, muito bonita. Na Piazza há uma grande mansão que foi morada da Imperatriz Eugênia, quando a República na França acabou com o reinado de Napoleão III.
Voltei pelo mesmo ônibus 13 e fui a Igreja de Santa Croce, repleta de pequenas capelas. É uma espécie de panteão porque nela estão enterrados Dante, Galileu, Maquiavel, Michelangelo e Rossini. 
Os afrescos e o altar são bonitos e há um grande Cristo em madeira, obra de Donatello. Mas o que chama atenção é a pintura "O Coroamento da Virgem" obra prima de Giotto. Há um museu com pinturas de Cimabue e no antigo refeitório a "Árvore da Cruz" de Gaddi.
Já quase noite, cansado, com frio e fome, saí de Florença e voltei ao hotel em Pisa, para me aquecer e alimentar. 
No dia seguinte acordei às 6h e às 8h40 já estava na porta da Academia de Belas Artes, que abria às 9h. A sala com obras do Michelangelo é a mais sensacional. A escultura inacabada "Os Quatro Prisioneiros" tem um vigor extraordinário; a "Pietá Palestrina", no seu sofrimento, é mais expressiva que a Pietá do Vaticano e o "Davi" é mesmo soberbo. Florença está cheia de cópias dele mas nenhuma se compara ao original. A expressão do rosto, o posicionamento do corpo e a textura do mármore fazem merecer ser escultura tão elogiada.
Após, fui à Capela Medici, que é o Panteão da família. Tem cúpola altíssima e pinturas sacras, rodeada de mármores e dourados. Próximo fica a Sacristia aonde estão os famosos túmulos de Lourenço e Juliano de Medicis. O de Lourenço possui as esculturas " O Dia e A Noite" e a de Juliano as esculturas "A Aurora e o Crepúsculo",  todas obras de Michelangelo. Há ainda "N. Senhora com o Bambino", também desse mestre, que acho que deve ter sido, talvez, o maior artista das artes plásticas, visto que suas esculturas e pinturas até a atualidade são tão geniais. 
Na capela há uma urna de prata dourada com um "espinho da Coroa de Espinhos" de Jesus crucificado!  (Será que alguém pode acreditar nisso?)
Da Capela fui ao Museu Bargello ver as esculturas de Donatello tais como: o Davi, São Giorgio, São João Batista e outras. Há também um Davi, de Michelangelo, pequeno, diferente do famoso, mas igualmente bonito. 
Vi ainda algumas esculturas do Cellini, inclusive o famoso Mercúrio, em metal. Entre inúmeras estátuas sacras góticas e renascentistas há uma N.Senhora da Misericórdia, abrigando em seu manto esculturas menores de reis, cardeais, autoridades e o povo, num trabalho semelhante a mesma N.Senhora que vi em Madri.
Em seguida, sempre caminhando, fui ao palácio Pitti, prédio muito grande, da Renascença, com todas as salas decoradas de cima abaixo com pinturas e ornamentos. Foi residência dos Medici, numa determinada época, e mais tarde, palácio real da monarquia italiana. Por isso contém sala do Trono, do Rei, da Rainha, etc.  
Abriga uma enorme e importante coleção de telas e esculturas. 
As telas são tantas, colocadas uma ao lado da outra, de cima a baixo, misturadas à decoração original do palácio que até fiquei  desorientado. Ainda bem que meu "santo livro-guia" me indicava o que me interessava, ou seja: de Michelangelo: A Madona; de Rafael:A Madona e o quadro A Fornarina; de Tiziano: A Madalena.
Há ainda várias outras obras de Rafael e de outros mestres como Rembrandt, Velasquez e muitos mais. 
O palácio tem um grande jardim com fontes e estátuas. Foi gostoso sentar ali ao sol e descansar. 
Fiz um rápido lanche (é extremamente curiosa a minha falta de fome desde o início da viagem em Lisboa. Até lamentava ter que parar para me alimentar) e fui com calma A Galeria dei Uffizi ver as madonas de Giotto e Cimabue, e obras de Ucello, Piero della Francesca, Perugino, Rafael, Fra Angélico e tantos mais. 
Fiquei um tempo maior vendo o quadro "O Nascimento de Vênus", do Boticelli, pensando como foi o grande precursor de Michelangelo, Leonardo, Rafael. De Leonardo da Vinci há a obra "A Adoração dos Reis Magos", que apesar de inacabada é genial. Também aqui no Uffizi há muito quadro de Rafael, inclusive a "Madona del Cordellino" e há ainda uma "Sagrada Família", de Michelangelo. Obras de Rembrandt, Tintoretto, Caravaggio, El Greco e até de Goya se espalham pelas salas. Com tanta arte, acredito que este deve ser um dos maiores museus do mundo, no seu gênero. 
Às vezes fico imaginado, com a atual valorização das obras de arte neste século 21, qual poderia ser o valor em dólar, de um museu como esse? Até lembrei de um texto que escrevi neste mesmo blog, tempos atrás (uma história real) chamado A Venda da Pietá, no qual a Papa Paulo VI desejava vender a Pietá do Vaticano e outras obras de arte, a um famoso negociante de antiguidades europeu, para amenizar a fome do Terceiro Mundo. Apesar da ingenuidade do Pontífice, claro que a Cúria Vaticana e o povo italiano jamais permitiriam a saída do país desse patrimônio artístico.
 
Ontem a primazia foi das Igrejas. Hoje foi a dos Museus.
Andei à toa pelas margens do rio e por ruazinhas até a Catedral e o Batistério, novamente, como despedida e voltei para Piza.
Uma coisa que ainda não comentei é a beleza dos cartazes de propaganda nas ruas europeias. Já desde a Espanha venho notando. Os de Paris são muito bonitos, mas os italianos anunciando exposições, objetos, utilidades, acontecimentos, são muito superiores. Não é à toa que o design italiano é famoso no mundo todo.
Na manhã seguinte foi a vez de me despedir de Pisa visitando outra vez a Catedral, O Batistério e a Torre. O Duomo de Pisa é mais simples e elegante que o de Florença. Hoje comparei bem os dois.

ROMA
Tomei o trem lá pelas 10h30 e cheguei em Roma às 14h30.
Me hospedei no Hotel Maxim, na Via Nazionale, 13, perto da Estação de trem (Termine). O lugar é ótimo para andar a pé. Fica perto de tudo o que interessa. Já logo me aventurei descendo a Via e passei em frente a umas ruínas com cúpola do Mercado de Trajano, que só soube porque estava escrito. Continuei andando e fui até o monumento ao rei Victorio Emanuelle, construção do século 20. Fica ao alto e é de mármore branco, cheio de colunas, esculturas, relevos e a estátua do rei, em bronze. Na direção em frente, há a Piazza Venezia com o palácio renascentista Venezia, do qual, num pequeno balcão, Mussolini vociferava ao povo, tanta besteira. Ao lado do monumento a Victorio Emanuelle, uma ampla avenida me conduziu à famosa coluna de Trajano, que tanto vi em livros. É toda esculpida contando as vitórias bélicas do imperador. Pena que a Igreja Católica, quando dominou Roma, colocou em cima a estátua de um Santo.
Na coluna vê-se nitidamente esculpida a enorme cruz (de ouro) que o Imperador roubou do Templo de Jerusalém e que alguns amigos judeus, até hoje, me dizem a bobagem de que ela está escondida no Vaticano. Naquela época os católicos eram perseguidos e nem havia ainda o Vaticano.
Continuando a caminhar surgiram restos de colunas, templos, ruínas do Forum de Augusto, o Mercado Trainei até o Coliseu. Sem saber, já estava na parte dos restos centrais da Roma Imperial. O Coliseu é uma construção enorme e bem mais alta do que imaginava. Pela parte conservada vê-se que foi uma grande obra de arquitetura. Dentro vi os antigos porões e alas internas com diversos corredores por onde saíam os que iam morrer. Em frente a ele, do lado de fora, situa-se o Arco de Constantino e mais adiante o Arco de Tito. Fui aos restos do templo de Venus e parei nele porque o resto  do Forum Romano já estava fechado. Eram 17h30 e começou a escurecer. 
No entardecer romano só havia uma estrela enorme (como em Madri). Um avião a jato passava deixando um rastro branco. Aqui na Europa, reparei em alguns países, que aviões à jato, de dia,  deixam um rastro branco bem longo, no céu.  Em São Paulo isso não acontece? Será a poluição?!
Dei uma volta pelo Coliseu e voltei para o hotel com bastante frio na noite já escura. Mas antes passei pela Piazza da República para comprar uns doces. (Não entendo essa vontade de doces. Será carência?) Na praça, a fonte das Naiádes estava jorrando, toda iluminada. E reparei como a Via Nazionale, iluminada, é cheia de lojas, restaurantes, cinemas e teatro. O teatro Eliseu está exibindo a peça Il Girotondo, com os atores Gian Maria Volonté e a Carla Gravina. Se der, vou assistir. 
O que há de igreja aqui é uma loucura. Entrei na Sagrado Nome de Maria, já que passei em frente e o estilo barroco  é de um luxo espantoso. 
Depois de degustar os meus doces, vi um pouco da TV italiana no salão do Hotel e fui dormir.
Pela manhã começou a maratona novamente. 
Fui a Igreja San Pietro in Vincoli, que é grande, com muitas pinturas e esculturas. Mas meu motivo era ver a escultura do profeta Moisés, feita pelo Michelângelo, que depois de terminada, diz a lenda, o escultor a achou tão perfeita que teria dito: - Parla!
A escultura é uma obra-prima, mas ainda bem que não falou porque tem um ar tão sério, tão bravo, que sabe-se lá o que teria dito. Ela é o centro do que seria a tumba do Papa Júlio II, o Papa guerreiro que conquistou muitas terras para a Igreja. E que também muito brigava com Michelângelo para que acabasse logo a pintura da Capela Sistina, do Vaticano.
No altar da igreja havia umas correntes que, diz a lenda, seriam as que prenderam São Padro.(!?) Como estava perto, fui a Igreja Santa Maria Maggiore, que é "maggiore" até demais. O estilo é renascentista por fora e renascentista e barroco na decoração. Possui muitas colunas de mármore, chão também com trabalhos em mármore e muitas imagens, pinturas e capelas. Tem uma espécie de cripta, com o menino Jesus na manjedoura, cuja simulação da palha é feita em prata dourada ou ouro, num trabalho barroco impressionante de luxo e riqueza. Embaixo da manjedoura há uma urna em prata e cristal, que guarda um pouco da palha da manjedoura verdadeira de Belém. (!?) (Essa farsa é até mais ousada do que o espinho da cruz de Jesus, em Florença).
E em frente, ajoelhado, há uma escultura do Papa Pio IX, de mármore, em tamanho natural, rezando. Toda a igreja tem uma decoração excessivamente rica, na qual, o bronze dourado, o pórfiro, o mármore, a prata e o ouro, além das esculturas e pinturas, sobejam. Dois Papas estão enterrados nela. Talvez a razão de tanto luxo. Há um pequeno quadro de N.Senhora com o bambino, atribuído a São Lucas.
As poucas igrejas de Roma que vi são tão ostensivamente luxuosas que estão me fazendo mal. Não posso deixar de me sentir constrangido ante tanta miséria no mundo e mesmo a daqui em Roma. As igrejas de Toledo, Pisa, Florença, Veneza, são ricas em arte e joalheria, mas não têm esse luxo sufocante. 
E essa história de cada Igreja ter um pedacinho da cruz, da roupinha, da palha, da coroa de espinhos, pertencentes a Jesus, sempre guardadas em caixas de ouro, prata, pedrarias e cristal, é tão ridícula que não sei como continuam.
Ao sair da Igreja voltei ao Coliseu para ver o Fórum Romano, agora aberto, que fica em frente. Mesmo todo em ruínas e cheio de gatos, é emocionante. Fui até a praça do Capitólio para ver o museu Capitolino porque tem famosas esculturas romanas como Amor e Psiché, a Menina com a Pomba, a agonia do Galo (cópia em mármore do bronze de Pérgamo) e o quadro em mosaico
As Pombas, que parece pintura e não mosaico.
Do museu fui a Santa Maria Aracelli, outra igreja, que é ao lado. O que tem de destaque são as 22 colunas provenientes de diferentes templos pagãos e uma imagem do menino Jesus, sufocado de ouro e jóias, por promessas dos fiéis, alcançadas.
De ônibus, fui até o Panteão, com uma arquitetura admirável para a época. É a única edificação totalmente conservada da época imperial romana, construída sob o reinado de Adriano. A cúpola tem um grande óculo central aberto. Sendo da época pagã, foi transformado em igreja católica. Abriga jazigos do pintor Rafael e dos reis italianos Vitório Emanuel e Umberto Iº.
Do Panteão fui até a Piazza Navona, passando antes pelo palácio Vila Madama, o Senado Italiano. 
A Piazza Navona tem ao centro a famosa fonte do escultor Bernini. Ao jorrar pelos seus 4 canais homenageia os 4 grandes rios do mundo, mais considerados no séc.17: Nilo, Ganges, Prata e Danúbio. No meio da fonte há um alto obelisco egípcio. 
Nessa praça fica também o palácio Dória Pamphili, residência histórica cardinalícia, do século 17, que como parte dele já era sede da embaixada brasileira na Itália desde a década de1920, foi comprado pelo Brasil, em 1960, que o restaurou. O fato causou grande indignação no meio intelectual e artístico italiano, por obra de tal valor histórico passar a pertencer ao Brasil. Por sua beleza artística, recebe visitas de turismo.
Comi uma pizza num restaurante com mesa na calçada e estava muito gostoso ficar no meio de tanta história e tanta gente jovem e bonita. Dali, pela Piazza Colonna cheguei a fonte de Trevi, tão grandiosa, tão famosa, tão "Roma". É toda barroca, circular na frente mas apoiada numa grande parede de outro prédio ao fundo, com estátuas e a água jorrando por todo lado. Joguei minha moeda para voltar um dia...
Para chegar a Piazza de Spagna, passei pelo palácio Quirinale, sede do governo da Itália (estilo renascentista), pela Igreja das 4 Fontes, com famosa e muito retratada fachada barroca, ao palácio Barberini (bonito) na piazza Barberini (a qual possui a fonte do Tritão, de Bernini), pela Via Sistina e encontrei à escadaria tão conhecida da praça, cheia de turistas, pintores e eu. No topo situa-se a Igreja Trinitá dei Monti.  Sentei na escada, como todo mundo, ouvindo diversos idiomas, vendo todo tipo de gente e me senti feliz. Numa das casas antigas de esquina, há uma placa com a informação de que o poeta Lord Byron, em determinada época, ali morou. Fui passear pela Via Condotti, em frente a praça, cujo comércio é dos mais chiques e caros da cidade: Valentino, Gucci, Cartier, Bulgari, etc.
Passei por umas ruínas que foram o Mausoléu do imperador Augusto, atravessei o rio Tibre (bonito) e na Praça Cavour, vi o palácio da Justiça de Roma, que lembra muito a construção do palácio da Justiça de São Paulo. Apenas, é maior. Como estava anoitecendo fiz um lanche, andei à toa por diversas ruas e voltei para o hotel. 
Há um grande teatro próximo ao Hotel, como se fosse oficial, no qual vê-se muitos buracos grandes na parede (seriam da 2a. guerra?). Roma, historicamente é fascinante mas está muito mal conservada. Tudo é velho, é lógico, mas estragado, sem a preocupação de conservação, como nas outras capitais antigas. (Talvez, atualmente esteja mudado).
Hoje, 18.11.81, fui ao Vaticano. Peguei um ônibus na praça da Estação e desci em frente à Praça de São Pedro, diante de toda aquela grandiosidade da Igreja e das colunatas, com estátuas em cima. É emocionante pela beleza, pela arte e pela história. Até agora só tenho comentado minha admiração, até exagerada, por tudo que estou vendo. Mas a Basílica de São Pedro é um caso à parte. Acho que é a construção mais rica que já vi. Disse isso outras vezes, mas à medida que caminho as surpresas vão sendo maiores. Nem vou falar demais porque não conseguiria passar a ideia de sua grandeza. Já na entrada, após as enormes portas de bronze, situa-se a escultura da Pietá, de Michelangelo, que é lindíssima. Exibe uma delicadeza gestual, um equilíbrio de composição, uma serenidade facial, emocionantes. Eu tinha achado outras Pietás do artista, geniais. Mas nenhuma se compara com a majestade tão simples, desta.
Ao entrar na Basílica, com o seu incrível tamanho e esplendor, senti como a capacidade do ser humano, quando quer, é divina. Suas imagens de mármore com 3 ou 4 metros, suas pinturas, inclusive de Rafael e tantos outros, seus dourados, colunas, bronze e prataria acho que deixaria Salomão com enorme complexo em relação ao seu Templo. A enorme e genial cúpola, que teve solução arquitetônica de Michelangelo, o altar, com o baldaquino e colunas salomônicas, criados pelo escultor Bernini (o altar, no chão, tem uma comunicação direta por escada, ao túmulo de São Padro, na cripta), os raios dourados atrás do altar iluminados pelo óculo do vitral, os púlpitos, as esculturas dos anjos, as pequenas capelas adjacentes, a decoração extremamente suntuosa e tudo mais que pode conter uma igreja em seu apogeu de criação artística, aqui estão e são sensacionais. É um extasiante espetáculo como Arte. Como religião, fico imaginado se tal pompa seria para ser oferecida a Deus ou para exibir o poder do Papado. Após admirar outras obras de arte,  desci à cripta para ver o túmulo de São Pedro e de outros Papas. 
O túmulo de São Pedro, como não podia deixar de ser, é todo em mármore, dourados e ornamentos. Ele tem, inclusive, como já comentei, abertura direta com o altar principal, acima. Os outros túmulos são simples. O do Papa João 23, o papa da minha época, da minha admiração pela reforma que iniciou na Igreja (e do qual possuo um autógrafo especial), é muito singelo e atraente. Após a cripta, ainda no subterrâneo, há a sala do Tesouro. A ourivesaria, a prataria, as joias, as capas solenes e outras artes religiosas igualam-se a tudo o que comentei até agora em matéria de tesouro sacro. A antiga coroa papal (a tríplice coroa, que representava a autoridade moral, espiritual e política do Papa sobre os reis) é uma enorme mitra de tecido, de forma arredondada, bordada em ouro e cravejada de pedras preciosas, contendo as três tiaras de ouro simbólicas, separadas por intervalos regulares. É tão grande que imagino o esforço dos Papas ao usá-la. Ainda bem que a matriz é de tecido. Mas mesmo assim, tão enfeitada, deve pesar muito. Ela está no tesouro porque foi abolida pelo Papa Paulo VI que achou seu exagero um acinte e passou a usar nas cerimônias religiosas uma mitra comum. 
obs: Fiquei sem saber se essa coroa é uma cópia ou verdadeira, porque o Papa Paulo VI tinha a intenção de vendê-la e não sei se conseguiu, visto que a Cúria era contra)

Um fato curioso aconteceu nesse subterrâneo. Ele tem várias pequenas salas. Antes de chegar a sala do Tesouro, vi numa delas, fotógrafos com equipamentos e iluminação (o que me chamou a atenção) fotografando uma Pietá exatamente igual a de Michelângelo, em cima, na Igreja.
Não resisti e perguntei: - É questa la vera Pietá? Todos se apressaram a responder não. Até hoje eu tenho dúvida, porque acho que aquela sendo fotografada devia ser a verdadeira e a de cima, na igreja, uma cópia perfeita, depois que, poucos anos antes, um louco a atacou com um martelo conseguindo quebrar o nariz e queixo de N.Senhora, antes de ser impedido pela guarda suíça.
Após a Basílica, tive a coragem de enfrentar o museu do Vaticano, sabendo que é enorme, um dos maiores do mundo. Atravessando a Praça de São Pedro e as colunatas, dei a volta num enorme muro (fortaleza) lateral da cidade Santa, inclusive passando pela entrada oficial, com as cabines da guarda suíça e entrada para pessoas e carros oficiais, e segui até o final para virar a esquina e chegar a entrada do museu.
Ao entrar, pelo pátio octogonal, resolvi me ater somente no que me atraísse, visto que o museu tem cerca de quase 70 mil obras distribuídas em mais de 50 galerias. Além das galerias de obras existem pequenas capelas, quartos e salões. Há salas de vestes religiosas de diversas épocas, de filatelia, de moedas, de mapas que logo descartei. Assim sendo, escolhi ver a arte grega e romana, com obras tais como Apolo de Belvedere; Laocoonte; a Caridade; Adriane Adormecida; a Vênus de Cnido. Passei ou melhor, passeei por salas com arte egípcia, etrusca, grega, romana, bizantina, medieval, gótica e barroca. Há um salão redondo, com grandes estátuas em toda a sua volta e no meio uma bacia de pórfiro, vinda do Egito Antigo, com mais de 10 metros de circunferência. 
A Pinacoteca é formada por obras desde a Idade Média até o século 19. Além de pinturas contém Tapeçarias e Esculturas. Os destaques, como sempre são para os quadros de Leonardo da Vinci e Rafael. Mas possuem obras de Perugino, Caravaggio, Tintoretto, Ticiano e muitos, muitos mais. Seguindo em frente, me chamou a atenção a existência de uma sala com quadros sacros de pintores do século 19 e 20. Achei sensacional uma N.Senhora feita em recortes azuis por Matisse. Seguindo adiante, nas salas pintadas por Rafael, entre várias obras, está o famoso afresco A Escola de  Atenas.  A decoração do apartamento Bórgia possui as pinturas de Pinturicchio sobre A Anunciação e sobre o Nascimento de Cristo. Outras salas com obras de Fra Angélico, de Boticelli, a decoração das inúmeras "loggias", são tão magníficas que compõem um patrimônio artístico que honra a humanidade. Mas o maior patrimônio para essa honra que senti, foi ao entrar na Capela Sistina. Tive uma emoção indescritível ao conhecer esse espaço que expressa a obra de um gênio principal, Michelangelo, seguido pelas obras de outros gênios como Rafael, Boticelli, Perugino, Pintoricchio, Ghirlandaio. Segundo o guia impresso, Michelangelo apagou uma antiga pintura do teto e desejou retratar nele a criação divina, o homem e a sua queda. Fiquei um grande tempo admirando a Criação do Mundo. Sentei no chão, num canto, para poder olhar os afrescos acima com calma. Toda a sua estrutura é preenchida por pinturas do Gênesis, desde Deus originando a luz e o Universo até a criação de Adão e Eva, o Pecado Original, a expulsão do Jardim do Éden, o Dilúvio. Contei mais de 30 cenas principais. Mas há também inúmeras outras pinturas laterais, com Profetas, Sibilas, cenas do antigo Testamento, Santos e Anjos, criadas por Rafael, Boticelli, Perugino e Pinturicchio. Me espantou a permissão de tanta nudez nas obras de Michelangelo, nesta época do século 16. 
Em cima do altar está a pintura do Juízo Final, muito grande e majestosa. Num enorme fundo azul, destaca-se o Cristo, julgador, tendo a sua direita os que serão salvos e à esquerda os condenados. A pintura dos condenados é tenebrosa. Resolvi olhar novamente para o teto e sair da Capela com essa bela imagem na memória.
O que estou relembrando aqui, não chega nem a metade das obras primas existentes. Assim também como no Museu, o que destaquei foi uma mínima parte de seu espetacular acervo.
(Aliás, a saída do Museu possui uma escada dupla, uma em cima da outra, para não atrapalhar os que sobem e os que descem. Me lembrou a escada de Leonardo da Vinci, em Chennonceaux, na França).
Fiz um lanche no próprio Vaticano, olhando os jardins internos e a enorme cúpola, por fora. Ainda tenho dois guardanapos de papel que trouxe como recordação.
Na volta do enorme muro/fortaleza, existem os vendedores ambulantes de tudo. Comprei belos écharpes para presentear.
No ônibus de volta,  parei nas Termas de Caracalla, que são enormes e pelos restos vê-se que foram suntuosas. A TV Italiana estava realizando um filme e foi curioso ver subir dos subterrâneos atores com togas da Roma Imperial. A um canto, com roupas modernas, estava um rosto conhecido. Era o ator Grabrielle Tinti, ex marido da atriz brasileira Norma Benguell, que quando casado, chegou a fazer filmes no Brasil.
Das termas, num outro ônibus fui à Via Apia Antica que ainda tem arcos e restos de portais, colunas e pedras do calçamento da época romana. Possui vários monumentos, túmulos e Capelas.
Passei pela denominada Capela do Quo Vadis (?), pela tumba de Cecília Metela e catacumbas. Não sei que bobagem me aconteceu que resolvi entrar na Catacumba de São Sebastião, talvez por ser considerada a mais importante visto que nela estiveram além do próprio santo, também São Pedro e São Paulo. Ela é mais impressionante que emocionante e ainda bem que acabou logo porque já estava cansado daqueles subterrâneos de terra cheio de ossadas. E um padre que servia de guia, resolveu se fazer de engraçado e, de propósito, andava apressado demais, naquele labirinto, como que para deixar todos com medo de se perder. Eu, jovem, andei junto a ele, mas os turistas mais idosos tiveram dificuldade em segui-lo. Claro que se alguém se perdesse ele voltaria para os guiar. Mas achei uma brincadeira tola e infantil. 
No fim, havia uma escada para subir à igreja, aonde vimos uma tumba que contém o corpo de São Sebastião. Acima da tumba há sua imagem, em mármore branco, maravilhosa, feita pelo escultor Giorgetti. É a estátua mais bonita que já vi desse Santo.
Na volta para o hotel, fui a uma agência turística na Praça da República para tratar da viagem que quero fazer à Grécia. 
Com o meu italiano deficiente o agente que atendeu foi tão impaciente que parecia que estava me fazendo um favor em vender uma viagem turística. Tudo ficou combinado mas nada resolvido. Teria que esperar vaga em hotel ou avião. Isso é normal, é lógico em qualquer compra de pacote turístico, mas saí inseguro, porque achei o funcionário muito deficiente e voltei pensando como na Itália a maioria dos atendentes são grosseiros.
No hotel, degustei  meu lanche saboroso com sobremesa de doces. Também aqui estou comendo muito doce. Será porque são muito gostosos ou a carência pela solidão continua?
Descansei um pouco e como ainda era cedo, resolvi ir até o Teatro Eliseu, aqui na mesma Via Nazionale, para assistir a peça que comentei com o Gian Maria Volonté.
O texto de Il Girotondo (A Ronda), é de 1897, do autor Arthur Schnitzler, que tendo sido médico e contemporâneo de Freud, também se interessava pela investigação do comportamento humano sob o ponto de vista psicanalítico e escrevia peças teatrais sobre o tema. Por tratar de verdades comportamentais sexuais, o texto foi proibido e liberado em 1900.
A atuação foi com Carla Gravina,  atriz famosa do cinema italiano e com o ator Gianmaria Volonté, igualmente famoso. Outros atores aparecem em papéis secundários e a direção é do próprio Volonté. 
O tema é sobre o encontro de um marquês desapontado com questões da própria vida e do meio que o cerca que, vagando pela noite, entra numa boate de baixa categoria e encontra uma prostituta. Em dez cenas curtas, os personagens discutem as misérias da vida sexual e sua falsa moralidade em todos os níveis de condições sociais, nobres ou plebeias. A participação de outros atores revela-se conforme a referência das falas. A encenação foi muito interessante. Entre os objetos de cena, há um escorregador no meio do palco. Quando um personagem aprofunda a problemática das suas questões, sobe no escorregador e desliza como se fosse um mergulho ao âmago do seu inconsciente, para buscar as causas de suas inquietações e talvez, um vislumbre de solução. Nesse momento a iluminação é de um branco prateado intenso. Após muito conversarem, o Marquês vai embora, saindo desapontado com a vida, como entrou. 
A sonoplastia é muito insistente nos momentos críticos e existem diálogos gravados nos quais os atores só se mexem. Toda a encenação é estranha, meio surrealista, meio teatro do absurdo, porque há muito simbolismo e fantasia. 
Eu achei fascinante. Tanto pelo texto e pelo autor que não conhecia, como pela interpretação e pela parte técnica (cenário, luz e som) tão integrada ao texto. Voltei bem tarde para o hotel, pensando se conseguiria acordar cedo para o meu passeio já programado.

NÁPOLES 
Acordei. E hoje, sábado, fiz uma excursão a Herculano, Pompéia, Nápoles e Sorrento. Pelo caminho, Via del Sole, vê-se o palácio Papal de Castelgandolfo, alguns palácios renascentistas e medievais e Monte Cassino, famoso pelo Mosteiro e pela 2a. guerra mundial, aonde, exatamente ali, participaram os pracinhas brasileiros.
Antes de chegarmos a Nápoles, passamos pela cidadezinha de Pozzuoli e a guia explicou que ali tinha morado a atriz Sofia Loren. E logo a mim que sempre fui fã da atriz, perguntou se no Brasil ela era conhecida.
Chegamos em Nápoles às 10h30 e fizemos um Tour, vendo o Palácio Real; o Teatro São Carlos; a Galeria Umberto I (no gênero da Vittorio Emanuelle de Milão); a Catedral (antiga e bonita); uma fortaleza medieval, no meio da cidade, com belo Arco Renascentista; a Piazza Garibaldi com a estátua desse militar que lutou pela unificação da Itália no século 19; a Universidade, fundada no anos de 1.200; e o Corso Umberto I. 
Numa praça havia um calendário de flores, cujo dia é plantado "diariamente". Depois, mais afastada, fomos para a cidade velha, que é aquela coisa de filme italiano, com mil casas velhas coladas, (cheia de roupas penduradas atravessando a rua, de terraço a terraço), igrejas velhas, lojas, mercados, crianças, etc. 
Passamos também pela parte moderna com belos edifícios. Adiante, paramos num ponto especial para admirar e fotografar a bela Baía (que é mesmo bela); vimos o porto com pescadores e seus barcos e ao fundo de tudo isso, O Vesúvio, imponente, dominando a cena. Paramos numa fábrica de camafeus feitos de concha-caracol, parecendo marfim (todos caríssimos) e fomos almoçar numa cantina típica. Bem alimentados, partimos para Herculano numa passagem rápida, apenas vendo sem sair do ônibus e seguimos para Pompéia, aonde descemos. A cidade é muito interessante tendo as ruas muito bem delimitadas, com as antigas pedras exibindo o sulco das bigas, templos, casas de banhos e muito resto de construções com mosaicos e pinturas de cores ainda vibrantes, que sobreviveram às lavas do Vesúvio. Em algumas havia corpos calcinados mas não quis ver. Esperei fora. 
E chegamos a famosa casa de pinturas pornográficas, (essas eu quis ver) que estão muito bem conservadas e que hoje não espantam ninguém. (A não ser uma bela jovem norte-americana bem descontraída, que fez questão de fotografar tudo e nós rimos bastante). Aliás, nessa excursão só a guia e o motorista eram italianos. Tinha turista de todo lugar expressando sua admiração em várias línguas.
O que mais gostei em Pompéia, foi sentar numa mureta e sentir o clima de uma cidade romana antiga verdadeira, sem interferências do tempo, já que ressurgiu das cinzas, e sem novas construções. Foi bastante emocionante e para mim valeu o dia.
Em seguida fomos a Sorrento que é realmente bonita, com aqueles rochedo altos, as casas em cima e o Mediterrâneo embaixo.
As praias, como sempre, são feias, pequenas, escuras e com pedregulhos. Já anoitecendo, jantamos em Cássina e voltamos a Roma, para um Tour noturno com a cidade toda iluminada, especialmente as fontes. Também de noite, Roma é muito atraente.
Aliás, iluminados, deu para reparar como a cidade é cheia de obelisco egípcios.
Hoje, domingo, tomei o metrô ( que é moderno e limpo) e fui a igreja San Giovanni in Laterano, a catedral da cidade de Roma, cuja construção foi iniciada na Idade média, terminada na Renascença e decorada na época Barroca. Como a maioria das igrejas que venho descrevendo desde Portugal.
É grandiosa e muito exagerada na decoração. Também possui imagens barrocas, com 3 ou 4 metros de altura. O Altar é belo, tendo a parte superior gótica e atrás um mosaico do século 13. Existem muitas pinturas, sendo a principal um belo afresco de Giotto, muito conservado e bem protegido, entre vidros. As portas principais, na entrada, são de bronze, têm uns 5 metros de altura e pertenceram a um Templo do Fórum Romano, uns dois mil anos atrás.
Na volta, de novo de metrô, fui ao Museu Nacional ( Termas de Diocleciano) que possui muitas obras da Roma Antiga e, em menor número, obras gregas, egípcias e etruscas. Vi o célebre Discóbulo, estátua em mármore de um jovem esportista lançando um disco.
O Museu conseguiu recuperar e expor afrescos de antigas vilas romanas da época imperial. Estão quase inteiros e as pinturas são bonitas. Há também mosaicos geniais, cuja técnica parece pintura.
À tarde fui a Vila Borghese mas o museu já estava fechado. O Palácio é bonito e foi residência da célebre irmã de Napoleão, Paulina Bonaparte, que foi obrigada a casar com o príncipe de Borghese, com idade para ser seu avô, mas que Napoleão exigiu pela antiguidade nobre do príncipe, a influência na sociedade romana e sua riqueza. Assim, vivendo mais em Paris (com seus amantes) do que em Roma, a agora princesa Paulina, adorava exibir na corte napoleônica as joias com enormes rubis e esmeraldas, da família Borghese, causando inveja nas outras damas.
Andando pelos jardins, encontrei uma rua com o nome São Paulo del Brasile. Por ela cheguei a Piazza Brasile. Todo o local contém palacetes do final do século 19 e me lembrou o bairro de Higienópolis, em São Paulo, 100 anos mais antigo. De lá havia uma bela visão da cúpola da Catedral de São Padro, local para uma ótima fotografia. Por todo lado vê-se  Arcos e antigos pedaços de construções da época imperial.
Continuando meu passeio cheguei até a Via Veneto, cheia de cafés e restaurantes e pensei na Roma da década de 1960, época da "dolce vita"e era de ouro do cinema italiano. Vi o famoso Hotel Excelsior, local aonde tanta celebridade foi perseguida pelos "papazzari". Que pena que tudo passou! 
Fui novamente à Piazza de Spagna apreciar o movimento, ficar à toa, gostosamente, sem obrigação de ver nada e voltei para o hotel. Após jantar, tentei ver o novo filme do diretor Zefirelli, 
"Amore senza Fine", mas a fila era enorme. Andei pela noite romana e voltei ao Hotel para dormir, continuando preocupado com a falta de confirmação da viagem à Grécia. Talvez eu esteja ansioso demais, mas como sou super organizado, me espanta essa falta de informação. A Cia. ficou de confirmar para a portaria do Hotel. Toda vez que pergunto, não há nada.
Aqui em Roma, como já comentei, os servidores são muito grosseiros e é difícil não ficar irritado. Que diferença de Veneza.

Hoje, 2a. feira, pela manhã, fui a Tivoli, ver os jardins. Mas estava fechado, por ser 2a. feira. Vou voltar amanhã. 
Andei pela cidadezinha, que tem uma paisagem bonita.
Quando retornei ao Hotel, havia a confirmação da viagem. Fiquei bem aliviado. À tarde fui ao Jardim Gianicolo, que entre as sete, é a colina mais alta de Roma. Na entrada há uma fonte muito grande e um terraço em frente de onde se avista quase toda a cidade. É muito belo! O jardim é cheio de estátuas civis, com uma enorme do Giusseppe Garibaldi. Ali, pela primeira vez encontrei alguém muito gentil, uma senhora elegante a quem perguntei o nome daquela fonte. Ela respondeu e perguntou de onde eu era. Falei que do Brasil. Ela disse que achava que o país devia ser muito bonito pela fotografias que já tinha visto. Perguntou se era verdade que a água do mar (oceano) era fria, eu disse que sim. Ela ficou admirada porque a água do Mediterrâneo é mais quente do que fria. Comentou sobre o jogar de futebol Falcão, que é  brasileiro, apelidado o "rei de Roma" que admirava muito e perguntou como era a pronúncia certa do nome. Eu respondi Falcão. Ela tentou mas não disse igual. O italiano não consegue pronunciar o ã como nós. Ela só conseguia dizer Falcao. Rimos, agradeci muito, nos despedimos.
Contei esse encontro apenas para salientar, é claro,  que em Roma também há gente educada e gentil.
Tomando um sorvete Cornetto Crocante, desci pela via Garibaldi e fui dar no famoso e antigo bairro Trastevere. Acho que é um dos mais antigos da cidade. Entrei na igreja Santa Maria do Trastevere que foi a primeira igreja de Roma. Está bastante reformada, mas mantém aspectos bizantinos. Há belos mosaicos na fachada e no altar-mor. Alguns pequenos quadros bizantinos são geniais. Passeei pelo bairro, com as ruas muito estreitas e sem calçada para poder passar carro. O Trastevere é feio, mal cuidado, velho demais, com cortiços demais, turistas demais, mas tem pequenas praças, igrejas, fontes e diversos restaurantes, muito pitorescos.
Voltei ao Hotel de ônibus, num trânsito infernal. Antes fiz um lanche. Ao andar, fui sentindo o gostoso cheiro de castanha assada vindo dos carrinhos de rua.
Ás 20 h. tentei assistir o último filme do Zeffirelli. É um filme fraco, exagerado e piegas demais. A atriz Brooke Shields é muito bonitinha e acho que fará uma bela carreira.
Voltei, comendo um doce.
O barulho dos ônibus, aqui no Hotel, quando estou à noite, me transportam continuamente para Veneza. Eles diminuem a marcha por causa do semáforo e depois têm um arranque suave lembrando o dos Vaporettos. Aliás, por falar em ônibus, eles são baratos e os motoristas atenciosos com o público. O sistema de pagamento é o mesmo em toda a Europa, não há cobrador. Compra-se o bilhete em quiosques ou tabacarias.
Pela manhã, às 9 h, eu já estava em Tivoli (peguei o ônibus às 7h45) esperando abrir a Vila D'Este. Acho que tem esse nome por causa da família d'Este. É um palácio renascentista do século 16, grande, contendo afrescos, quadros, esculturas, móveis e objetos, além de lustres enormes (tipo quase maior que a sala). Infelizmente está mal cuidado, com ar de abandono.
Os jardins, entretanto, os famosos jardins de Tivoli são realmente belos e o cuidado é enorme. As fontes são inúmeras, grandes, bonitas, com muitas esculturas e algumas misteriosas, dentro de cavernas. Por todos os jardins existem jatos d'água formando desenhos em muitos tanques, pequenos lagos e jorrando de paredes. Há um lago principal, comprido com centenas de orifícios e estátuas jorrando água, num efeito grandioso e sensacional. 
A vista da Vila D'Este para o vale é tão tipicamente italiana com casinhas, igrejas, campos, ciprestes e ao fundo, montanhas altas, cobertas de árvores e com os picos rochosos, brilhantes, dando a impressão de neve, que atrai bastante. Ao longe via-se um castelo-fortaleza.
Da Vila fui para outra Vila, a Adriana,uns 15 minutos de distância, num ônibus que parecia filme do Fellini. Só faltava um papagaio.
O motorista cantava, todo mundo conversava e o cobrador (esse ônibus tinha) tentava conquistar uma passageira. Do ponto final, andei um bom caminho até a Adriana. Quando cheguei em cima, na Vila, dei com um pastor adolescente, com um rebanho de cabras cuja cena não podia ser mais típica de livros ou filmes. Tanto na Vila D'Este como nesta paga-se mil liras para entrar. 
A Vila Adriana é muito interessante. É de 175 D.C (A.C.), enorme, com templos, termas, teatro em pequena ilha, restos de cúpolas e colunas por todo lado, pequenos lagos e o lago maior, tão famoso por fotos, como se fosse uma enorme piscina, com  estátuas e Arcos ao redor e uma grande semi- concha ao fundo. As estátuas refletidas na água, o azul do céu, um único cisne branco nadando e a mata verde ao redor foi uma cena inesquecível. Fiquei imaginando o Imperador Adriano vivendo ali, com toda a sua corte e pensei como todo governante é esperto e sabe viver bem à custa do povo. O tempo estava delicioso. 
Voltei para Roma e sem almoçar, corri para o museu do palácio Borghese porque fechava às 14 h. Valeu o esforço porque ele é belíssimo , com salas ornamentadas com muito luxo e imponência, pinturas nos tetos e famosas obras expostas, sendo a mais conhecida aVenus Vencitrice, estátua em mármore do artista Canova que representa Paulina Borghese, de corpo inteiro, núa, reclinada num almofadão de veludo em mármore tão perfeito que senti vontade de apertar para ver se era macio.
Há importantes esculturas de Bernini como o David, o Rapto de Prosérpina e a de Apolo e Dafné. O museu tem muita estatuária da época romana e quadros de Boticelli, Rafael, Perugino, Bellini, Caravaggio, Tiziano e Rubens. Muitas obras são conhecidas em livros e gostei bastante de conhecer tão precioso acervo. Saí do palácio, comprei sanduíches e coca cola e fiquei descansando nos jardins.
Ao voltar para o Hotel, passei pela agência turística para acertar os últimos detalhes da viagem. Paguei 500 dólares para 5 noites, com meia pensão, hotel de luxo, excursões incluídas e avião. Não achei caro. Após, comprei umas lembranças na Piazza de Spagna, as últimas. Deixo Roma contente culturalmente. Mas senti não encontrar mais aquela Roma da época de 1960 dos filmes, embora fosse grande infantilidade minha esperar isso 20 anos depois.
Vou deixar a mala maior aqui no Hotel. Em Madri deu certo. Espero que aqui também, embora só contenha roupas.
Tenho esquecido de dizer que aqui em Roma há uma pirâmide pequena, de Caio Céstio. Está bem conservada, mas é um pouco estranho e inesperada, no meio da cidade.
Hoje, 28 de novembro, tomei o avião para a Grécia. O curioso é que o tempo que sempre esteve azul, estava feio e frio. Me lembrei de Veneza onde aconteceu a mesma coisa.

GRÉCIA
A viagem foi curta e achei muito curioso ver, pela janela do avião,  outro avião voando abaixo do nosso. Bem abaixo, é claro, mas não imaginei que pudessem voar assim próximos. 
Desci em Atenas com um sol e céu bonitos e sem frio. Muita gente me disse que Atenas era uma cidade feia. Eu não achei, em lugar algum. Muito pelo contrário, pelo menos aonde andei.
Com a ideia da Grécia antiga na cabeça, achei a cidade muito maior do que esperava, com partes modernas, avenidas amplas e ajardinadas. O guia que me recebeu no aeroporto foi dirigindo por partes antigas e interessantes, até chegar ao hotel.
Minha maior vontade era ver o Parthenon e o vi, de longe, ao alto. 
A primeira sensação histórica foi no templo de Zeus, com restos de colunas altas e históricas. Passamos pelo Arco de Adriano (romano), pelo Jardim Nacional, um grande parque com prédios cívicos, pelo Túmulo do Soldado Desconhecido e pelo Parlamento.  No Túmulo havia um guarda de Honra com um uniforme de saia plissada branca, colete escuro bordado, meias brancas e na cabeça uma espécie de fez, com pompom. Foi pitoresco.
Passamos pela Syntagma Square que também é grande e ajardinada. Por avenidas amplas vi os prédios da Academia, da Universidade e da Biblioteca Nacional. São deste século 20, mas em estilo grego, cheio de colunas.
Na praça Omonia (centro da cidade) desci no Hotel King Minos, esquina da rua Pireus, nº1. O Hotel é excelente, o melhor que fiquei até agora. Estou pagando bastante caro, mas como a viagem está no fim e estou cansado de economia, pago com o maior prazer.
Após me instalar, saí às pressas, às 14h30, animadíssimo, por me encontrar na Grécia e com o mapa na mão, me dirigi ao Parthenon. Foi só seguir reto pela av. Athinas e chegar até lá.
Antes de subir a colina, existe um bairro velho, o Plaka, muito badalado, com ruas e casas típicas, todas com comércio. As ruas são de pedras, possuem trepadeiras de uvas, restos de ruínas, uma pequena igreja no estilo Bizantino, barzinhos e restaurantes. 
Fui subindo devagar, e apreciando a vista da cidade, que quanto mais alto subia, mais bonita ficava, com montanhas de um lado, o mar Egeu do outro e o céu azul, sem uma nuvem.(Só o rastro branco de um jato).
Toda essa região da Acrópole e adjacências é cheia de ruínas históricas entre muito verde natural. Ali situa-se uma antiga Ágora (praça) com restos de templos, uma reconstrução do Pórtico de Attalus e um Templo pequeno, bonito, muito conservado, no meio, chamado Tission ou Templo de Hephaitos. Em frente a ágora grega ficava a ágora romana, da época da dominação
(quando os gregos pichavam nos muros: romans go home).
Continuei subindo e paguei 65 dracmas para entrar na Acrópole, por um antigo pórtico, com colunas jônicas e degraus altos, de mármore, muito quebrados. Logo que subi,  dei com a visão total do Parthenon, glorioso. Parei para sentar numa pedra e apreciar essa primeira visão que recordarei sempre. (Curioso: senti a mesma emoção quando, em Paris, inesperadamente, dei de frente com a Notre Dame, à noite, toda iluminada. Também lá precisei me encostar no muro da ponte do Sena para apreciar o momento.)
Em frente ao Parthenon, um senhor me pediu para tirar uma fotografia dele com o Templo atrás. Apesar de a máquina fotográfica dele ser bem superior à minha, pedi o mesmo a ele, com a minha maquininha.
Fiquei andando, sentando, andando, sentando e vendo o Parthenon acho que por uma hora. É belíssimo, de linhas arquitetônica puras, num equilíbrio exemplar. As colunas são dóricas e nas traves e arquitraves vê-se algumas esculturas em relevo, ainda inteiras. Toda a construção é de encaixes. Xinguei muito os Turcos quando fizerem dele depósito de pólvora e explodiram boa parte das colunas. Ao redor existem restos de pequenos templos e, inclusive, as 5 famosas cariátides sustendo um pequeno pórtico. Eram 6. Uma está no Museu Britânico. De cima dá para ver que abaixo, ao pé da colina existem dois anfiteatros: Odeon, de Herodes Atticus, com portal de Eumenedes (escultor/arquiteto), bem conservado, mostrando como era um teatro grego e outro de Dionísio, mas só com restos de arquibancadas. Os dois são ao ar livre, é claro. 
(É lógico que todos os nomes que falei, li no guia que comprei).
Aos pés do Parthenon fica o museu da Acrópole, mas deixei para ver outro dia para não quebrar a magia do momento.
A vista lá de cima é de 360º. Atenas é plana, com poucos prédios altos, assim a visibilidade é total, com o sol brilhando no mar Egeu. 
Comecei a sentir um vento forte e frio e como ia fechar, saí devagar, descendo pelo mesmo caminho da ida com as casas típicas e lojinhas para turista. Toda a região é velha e muito simpática.
No centro de uma praça há uma igreja católica ortodoxa. Dentro, o luxo é grande, com ícones de prata e enfeites dourados. Mas, o mais curioso foi ver uma capelinha bizantina, cheia de pequenas cúpolas, que por fora, parecia de brinquedo.  Quando entrei vi que era bastante alta porque desci vários degraus. (Será que o tempo e o acúmulo de terra foi fazendo ela ficar meio enterrada?) Havia uma cerimônia com dois padres e um acólito, vestidos à caráter, cantando e espalhando incenso. Umas velhinhas de preto rezavam, outras cantavam. "Foi tão grego".
Voltei devagar, tive um gostoso jantar no hotel (que bom que não preciso procurar lugar para me alimentar) e depois saí a passear pela praça e arredores, cheio de gente, o que deu um ar muito alegre.
No hotel, subi para descansar e dormir. Não sei o porquê mas me sinto muito "em casa" em Atenas (!?).
Acordei cedo para ir a Delfos. Saímos, em excursão, passando por Kfissias, bairro chique aonde mora o 1º ministro. No caminho, entre outras coisas, vimos o lago artificial Maratona, construído aonde se deu a famosa batalha entre persas e gregos e o guerreiro grego ( correio) veio a Atenas avisar a vitória grega correndo os 42 km e meio e morrendo de cansaço, ao chegar. Passamos em Tebas, que mantém sua história em pequenas ruínas, mas é uma cidade grande, industrial, diferente do que imaginava. Por toda a estrada há camponeses montados em burros, com cestas cheias, não sei do quê.(!?) Há rebanhos de carneiros, com seus pastores e cães. Pequenas cidades com casas de pedra branca enfeitadas de videira. Os campos são bem cultivados mas cheio de pequenos pássaros pretos que voam juntos, parecendo uma nuvem, comendo as plantações.
Começamos a subir pelas montanhas, aonde se destaca o Monte Parnasus com o pico coberto de neve. O caminho é cheio de oliveiras e pedras. As casas dos pastores são feitas de pedra e se confundem com as pedras das montanhas.
Passamos por Levadia, cidade pequena aonde paramos para um café e depois por Arahova, também pequena, com comércio de peles e tapeçarias. Chegamos a Delphos e visitamos diversos monumentos como o teatro de arena, o templo de Atenas (a deusa), pequeno e genial e o templo de Apolo, que era o principal santuário, aonde os oráculos faziam as profecias com as quais orientavam os gregos. ( Hoje, 2022, penso no futuro, lá por 2050, quando os computadores possuírem total inteligência artificial, se com a soma de dados implementados, poderão ser os novos oráculos, orientando os humanos como proceder).
Fomos ao Museu, que é pequeno porém com peças importantes, inclusive "o Auriga de Delphos" escultura em bronze de mais de 2 mil anos, de um jovem conduzindo uma biga. É uma obra interessante e histórica. 
Possui, entre outras, uma seção de joias com placas de ouro, cabeças de marfim com coroa e enfeites de ouro. 
Fomos almoçar no Amália Hotel, dentro da cidade. Descansei num terraço moderno vendo, lá embaixo, uma outra cidade e seu porto com vários navios cargueiros. E lá em cima, montes com os picos cobertos de neve. 
Depois, todos descemos para a parte baixa do conjunto de templos do santuário, para ver talvez, o mais famoso, ou pelo menos o mais fotografado: o Templo de Marmaria, no qual os peregrinos faziam suas oferendas antes de subirem ao Templo de Apolo. Ele é pequeno, muito conservado, muito genial e não é à toa que está em todos os livros de história e de arte.
Lá pelas 16h30, voltamos chegando às 19h30. Jantei no hotel, muito feliz pelo dia. (Que bom que a alimentação oferecida é internacional). Escrevi toneladas de cartões que nem sei se vão chegar, (como aliás, não sei se chegaram os que já mandei).
Mas espero que sim, porque serão os últimos e valem muito serem vistos. Ouvi música grega e deitei cedo porque amanhã a "Maratona" será maior.
Mesmo com chuva a paisagem grega é bonita. Hoje o tempo teve uma mudança tão rápida que agora compreendo porque não consegui excursão para as ilhas, que terminam em Outubro.
De repente, uma névoa úmida surgiu e não se via quase nada. Parecia o Lago de Leman, na Suíça. Até fiquei na dúvida se haveria excursão. Mas havia e saímos com o céu nublado, passando por Daphni, na periferia de Atenas, aonde vimos o antigo mosteiro Bizantino, do século 11. Não é grande e é bem velho.
Vimos os estaleiros do armador Niarchos. Continuamos por Elefsis e pelo golfo aonde aconteceu a batalha naval de Salamina, na qual Temístocles venceu os Persas. A estrada vai margeando o mar que está cheio de ilhas, próximas e distantes. Pelo caminho vimos outras montanhas rochosas com cavernas de pedras dos pastores, rebanhos de carneiros, plantações, pequenas cidades brancas e, às vezes, um ou outro pequeno moinho com hélice de fazenda branca, talvez lona, parecendo vela de barco. As praias são mais claras que o Mediterrâneo mas continuam com os pedregulhos. Como deve ser ruim pisar neles. Existem balneários chiques e casas de praia isoladas, muito modernas. Passamos pelo Canal de Corintho, artificial, extremamente reto, arquitetado por Lesseps, o mesmo engenheiro criador do Canal de Suez. Entramos na região do Peloponeso e na cidade de Corintho que é toda reconstruída pois há uns 50 anos foi destruída por um terremoto. Mais distante há a Acrópole, no alto de uma montanha, sendo escavada e recuperada. Vê-se, em volta dela, enormes muralhas. Pela cidade existem ruínas romanas da antiga Corintho reconstruída pelos romanos, quando a anterior, grega, foi destruída em guerras. Quanta reconstrução!!! Apenas o Templo de Apolo de 530 A.C. (B.C.), construído pelos gregos, com colunas monolíticas, resta da primeira cidade. Na parte romana o mais interessante é a tribuna de pedra na qual São Paulo falou aos corínthios. Próximo há a Catedral Bizantina de São Paulo e um Museu interessante de obras gregas e romanas.
Fomos para Micenas, uns 40' de distância, passando por plantações de laranjas, camponeses e pastores com seus rebanhos.
Micenas tem a cidade atual e as ruínas ficam um pouco além. 
Para vê-las, subimos para a antiga Acrópole, desenterrada pelo arqueólogo alemão Schliemann e sua equipe. Micenas foi o reino de Agamenon, cujo irmão Menelau perdeu a esposa Helena para o sedutor Páris, o que deu início a guerra de Tróia. As ruínas têm 2 mil anos A.C. (B.C.) Entramos pela famosa Porta dos leões e fiquei atônito ante tanta importância. As paredes que compõem a entrada são enormes, em monoblocos pesando toneladas e, como hoje, tecnicamente não há explicação lógica, os cientistas acham que a cidade foi construída com o auxílio dos ciclopes, gigantes de enorme força muscular (!?).  
O tempo foi piorando e começou a chover. Alguns aventureiros como eu, subiram até o topo da Montanha, cheia de ruínas. Lá, num vento poderosíssimo, na chuva, contemplando uma montanha mais baixa e próxima envolta em nuvens escuras, vendo todo o vale,  rebanhos de cabritos pelas montanhas e o mar, embaixo todo agitado, me fez sentir como se os Deuses, furiosos, estivessem açoitando a Terra e eu, romanticamente, apreciando. Foi uma sensação meio insana mas interessante. Desci, tremendo de frio e fomos todos ver a tumba de Agamenon, do outro lado  da montanha, com entrada longa, também de pedras enormes, bem recortadas e uma espécie de capela alta, no fim. Em cima tinha esculturas de dois leões de pedra, um de cada lado que, segundo o guia, desapareceram. Tudo isso foi desenterrado da montanha. E dentro da tumba foi encontrado grande tesouro em ouro e outras peças, que hoje estão no Museu Arqueológico de Atenas. 
Almoçamos em Micenas e seguimos para Argos que tem ruína do antigo palácio, do século 12 A.C. (B.C.)
A cidade possui um teatro de arena de uns 500 anos A.C. (B.C.)
Na continuação do passeio fomos para Nauplia, cidade à beira mar, com casas velhas e floridas, muros de pedra, tabernas, hotéis pobres, parecendo a cidade do filme Zorba, o Grego. Vê-se , no alto de uma  montanha uma grande fortaleza medieval e também no mar, um forte antigo. O mar estava tão agitado que os barcos pareciam que iam voar. Mesmo os navios grandes, cargueiros, dançavam nas ondas. A Grécia está repleta de navios cargueiros. E possui a 3a. maior frota do mundo. (1981)
Nauplia é muito procurada no verão por ser balneário famoso.
Sempre adiante, chegamos finalmente em Epidauro, último lugar do passeio, para ver as ruínas da cidade, especialmente o lugar do hospital onde Esculápio, Deus da Medicina, exercia seu ofício.
(Aqui tudo é assim, não se sabe onde acaba a história e começa a lenda). Mas a fama da cidade deve-se também ao seu teatro de arena, ao ar livre, como todos. Construído em 500 A.C. (B.C.) possui uma acústica perfeita. Diz-se que se alguém jogar um palito embaixo, ouve-se perfeitamente em cima, na última fileira. Como chovia demais, não fizemos o teste. O teatro tem capacidade para 14 mil pessoas, mas quando a cantora Maria Callas se apresentou,
acomodou 17 mil.  Encharcados, mas felizes, voltamos para o ônibus, rumo a Atenas, chegando aqui às 19h30. Acho incrível eu estar neste canto fabuloso do mundo conhecendo milhares de anos de Arte e História. Após o jantar, fui dormir cedo.
(Senti muito não poder ir a Mikonos e outras ilhas famosas. Mas o que estou vendo é bem superior para mim a qualquer ilha turística).
O tempo, hoje, sábado, foi uma ótima surpresa, de horrível ficou totalmente azul. Só que a temperatura caiu uns 6 ou 7 graus e precisei sair até de cachecol.
Fui ao Museu de Arqueologia, que fica numa praça grande e bonita. O prédio é enorme e já sabia que veria obras muito importantes. Entrei pela sala dos tesouros de Micenas, aonde ficam as famosas máscaras funerárias de ouro, inclusive uma maior que atribuem a Agamenon. É espantosa a quantidade de peças e adornos de ouro e moedas. E há uma infinidade de atrações como cerâmicas decoradas, frascos, pequenas estátuas, espadas, punhais, etc. As joias são bonitas e os anéis muito diferentes e grandes. 
Numa das salas de  arte cicládica, anterior a época de Agamenon, existem pequenas estátuas estilizadas, sem definição de detalhes, parecendo arte moderna. 
Quando contemplo a arte arcaica dos Gregos, dos Sumérios e mesmo dos Maias, tenho a sensação que os primeiros povos terrestres descendem de seres de outros planetas e que os deuses eram mesmo astronautas. Estátuas de 4 ou 5 mil anos A.C./B.C. pela variedade física, demonstram bem isso. Suas estilizações são mais modernas que as obras atuais de Brancusi, Moore ou Brecheret.
Fui a ala da Arte Grega dos séculos 7,6,5 A.C./B.C. São peças bonitas mas a maioria é proveniente de monumentos funerários, relevos de urnas e ficou muito repetitivo.
As obras sensacionais são mesmo as mais reproduzidas em livros: as várias estátuas dos Kouros, (cujo termo significa homem jovem), que são rapazes esportivos, em pé. (Os primeiros foram esculpidos por Polimedes). E as várias Korés, mulher jovem, donzelas do lar, com roupa plissada e longos cabelos trançados. A simetria e equilíbrio das Korés, em mármore é cativante.  Há ainda, urnas de cerâmica e vasos com decorações bonitas de cenas familiares ou guerreiros, esportistas e desenhos geométricos. Salientam-se também as famosas estátuas de bronze de 400 anos A.C./B.C. como de Poseidon, de Antikitera e do jovem jóquei encontrado no mar.
A sala Helenística tem estátuas em mármore como algumas Vitórias, Vênus, a célebre estátua de Pan, bustos e torsos. Mas as obras melhores, infelizmente, estão mesmo no Louvre e no Britsch.
Mesmo assim, o museu tem um acervo muito rico e fiquei 4 horas vendo as obras, das 9 às 13h. 
Almocei, descansei e lá pelas 15 h. fui para a Acrópole. 
Mal consegui andar pelo conhecido caminho de lojas e mercadinhos por estar tão cheio de gente. Ao invés de grego parecia mercado árabe. Vende-se de tudo e a bagunça é deliciosa. Antes da Acrópole fui outra vez ao Templo Teseum porque é uma joiazinha de arquitetura e arte aplicada. 
Subi ao Parthenon. Todos aqueles mármores resplandecendo no céu, novamente azul, estavam maravilhosos. Desta vez fui ao Museu, que é pequeno mas bem interessante, com todas as obras originais em estátuas e relevos que pertenceram ao Parthenon e demais templos que haviam no local. Lá é que fiquei sabendo que tudo o que está fora é cópia e que retiraram os originais para preservação. Mesmo as conhecidas cariátides estão ali gloriosas, protegidas. Os verdadeiros relevos externos e internos do Parthenon, vendo de perto, são muito bonitos.
Algumas estátuas ainda têm restos de policromia. Li  que as geniais Korés, em tamanho menor, eram muito "produzidas" porque representavam o lar e a família e eram cultivadas como hoje, os católicos cultivam santos em casa.
(Interessante! Também na China faziam (acho que ainda fazem) jovem donzelas, em marfim, carregando elementos femininos como frutas, flores, representando a futura ideia de lar e família)
Alguns penteados das Korés me lembraram os de imagens sacras que tenho, do ano de 1.600, Depois de Cristo, é claro. Tudo se repete e aqui na Grécia está a raiz de tudo. Michelangelo, Bernini, Canova e tantos mais e mesmo o Brancusi tão moderno,  são apenas geniais derivados. É espantosa a semelhança de expressão de algumas estátuas gregas com as de Michelangelo, que nunca as viu, apesar de conhecer as cópias romanas.
Saí do Museu e fiquei no Parthenon até fechar, já que era a última vez, talvez para sempre. Foi interessante um fato de três bonitas jovens americanas, louras de olhos claros, estarem relativamente perto de mim na murada, olhando o entardecer, muito alegres, falantes, adorando tudo e, como ia fechar, foram saindo. 
Eu também comecei a andar e vi, na mesma murada, metros depois, uma maravilhosa máquina fotográfica Pentax com lente de longo alcance. Dei um longo EEEIIII. Elas olharam assustadas e eu apontei a máquina. Uma voltou correndo, agradeceu muito e disse que podia ter perdido todas as fotos dela, pela Europa. 
Eu, econômico como sou, logo pensei foi no valor em dinheiro da máquina que ela ia perdendo, se eu também não tivesse visto. 
Saindo, aproveitei bem o livro guia e andei pelos lugares em volta como a Propileia, na entrada, os já comentados teatros de Dionísio e Herodes Anticus, o monumento a Filopapus, a colina de Fênix, aonde Péricles de dirigia aos atenienses, o Aerópago, colina mitológica, primeira corte de Justiça na qual Orestes foi perdoado pela morte de Clinteminestra, sua mãe, mulher de Agamenon. Deixando de lado a mitologia, também São Paulo ali pregou aos Atenienses. (Como ele falava, não?)
Vi também a Torre dos Ventos e o Cerâmicos, cemitérios de heróis.
Tudo isso, apesar de próximo, na mesma área, é cansativo de ficar subindo e descendo. Ainda bem que continuava claro e o sol voltou a brilhar no mar. Já muito cansado sentei numa rocha, vendo parte da cidade, que achei muito simpática.
Voltei pela mesma via das igrejas, (Todas bizantinas. Nenhuma em estilo Ocidental) lojinhas e mercados. Comprei lembrancinhas, só mesmo por serem gregas. 
Peguei um ônibus para ir ver o palácio real, (agora presidencial) já que era perto e não achei nada especial: é cinza, o que já não ajuda e parece mais um colégio. Mas por dentro deve ser bonito.
A guarda, é aquela já descrita. Há um belo jardim e em frente fica o grande parque nacional da cidade. Toda a região é bonita, com avenidas largas e as motos e carros esportes corriam como loucos.
Voltei ao Hotel com frio, precisei tomar um banho escaldante para esquentar e desci para o último jantar. Vi um pouco da televisão grega que não é colorida e muito primária. Os filmes são falados na língua original com letreiros gregos. Ainda bem que são em francês ou inglês, o que dá para entender um pouco. Os anúncios têm intervalos em branco entre um e outro, sem aparecer nada no ar (!?)
Apesar de ser a última noite, não saí por causa do frio e cansaço.
 
Outra vez Roma. Deixei Atenas ao meio dia, mas desde às 10h30 já estava no aeroporto. O tempo começou feio mas azulou e fui admirando o mar que na costa é verde e depois muda para azul.
A viagem foi tranquila, pela Olimpic. De cima, a Grécia é bastante recortada, com várias ilhas. O mar tem um traçado de cor muito nítido, verde na Costa e azul escuro, em diante. Me lembrou os mapas escolares de geografia que eu fazia, com o litoral sempre mais claro que o mar. Em toda viagem de avião, venho reparando que as nuvens, na parte voltada para a terra parecem lisas, mas de cima são como montanhas de suspiros ou castelos de areia, quando escuras. 
Cheguei em Roma às 13h (seriam 14h mas há a diferença de horário) e estou novamente no hotel Maxim, onde deixei minha mala grande. Depois de me instalar, descansar bastante e jantar, fui assistir o filme "Mamãe faz 100 anos" do Carlos Saura. É a continuação de "Ana e os Lobos". Gostei bastante. Foi num cinema da Via Nazionale, não muito longe do hotel. Voltei rápido porque esfriou demais. 
De cima Roma é bonita. Mas não falo de avião, falo da cúpola de São Pedro. Pela manhã fui ao Vaticano, ver a Capela Sistina, como despedida e fiquei uns 50' vendo tudo e pensando em quanto Papa importante saiu daquela capela para o mundo católico. 
Lembrei do meu padrinho de crisma, o Cardeal Motta, arcebispo de São Paulo, ali votando, em 1958. E, até hoje, eu agradeço a ele ter lembrado de trazer um autógrafo do novo Papa, que eu tinha pedido, e que veio a ser o de João XXIII. 
Fiz novamente um lanche no Vaticano. Entrei outra vez na Basílica onde também fiquei um bom tempo e depois subi na cúpola, até a extremidade. A primeira parte tem elevador, mas depois são 300 degraus pequenos, quase em diagonal e cansa. Porém a vista é belíssima, principalmente no dia azul de hoje. Vê-se todos os palácios e jardins do Vaticano, a genial praça de São Pedro com a colunata e esculturas de santos e toda Roma. Aos poucos fui me situando e reconhecendo lugares. Como o vento estava muito forte e já satisfeito, resolvi descer. Desci pela escada e vi que havia uma série de placas com nomes de reis, rainhas, presidentes e outros famosos que subiram até lá. O último nome era do Xá do Irã. 
No outro lado do muro da escada estava cheio de nomes grafitados de pessoas de vários lugares do mundo. É claro que escrevi o meu.
Andei devagar pela praça e tomei um ônibus para a Fontana de Trevi. Começou a entardecer e estava repleto de turista jogando sua moedinha. Apesar de já ter voltado, joguei outra novamente.
Fui para o hotel, peguei minhas coisas e cá estou no aeroporto esperando o voo para São Paulo, Brasile. Como tenho longo tempo de espera, estou escrevendo.
Tudo valeu de bom e ruim. Culturalmente tive emoções maiores do eu esperava. Turisticamente nem tudo foi o que pensei. Minha insegurança e inexperiência foram normais. Senti a solidão, compensada por tanta novidade. Nem sempre fui bem tratado como já contei. Reparei que a desonestidade é geral tanto na Itália, quanto na Áustria e na Grécia, por empregados entrarem no quarto, quando eu estava fora passeando, e vi minhas coisas mexidas, na volta. Ainda bem que sempre levei o dinheiro e passaporte comigo, até no banho. 
Engraçado que me sinto um pouco mais velho do que cheguei (!?)
Como escrevi num cartão para minha mãe, a peça acabou e estou deixando o teatro. Os melhores atos foram Paris, Suíça, Veneza, a Capela Sistina e o gran finale, uma Grécia maravilhosa. Em tudo isso eu estava na plateia e ao mesmo tempo no principal papel. Isso me faz divagar (já que não tenho o que fazer aqui no aeroporto e parece que o voo atrasará) sobre o sentido ambíguo da vida: nós representamos e nos assistimos ao mesmo tempo.
Agora que já vejo tudo com olhares de saudades me parece um sonho ter feito essa viagem tão longa e tão cheia de novidades a cada dia.
Tudo o que escrevi nesta agenda só tem sentido para mim que lerei quando quiser relembrar. E feliz porque vi muito mais do que os vários esquemas que planejei. Talvez tenha escrito e descrito alguns nomes e lugares com algum erro, mas isto continuará como parte original da narração. Sorry!
Termino esta narração esperando o avião levantar voo. Estou numa poltrona, no fundo, sozinho.

Aeroporto de Fiumincino, Roma, 24h15. 03.12.1981