quinta-feira, 23 de junho de 2022

UMA ANTIGA VIAGEM Á EUROPA EM 1981 - LONDRES E PARIS

LONDRES 

Deixei Barcelona cedo e cheguei à terra da rainha ao meio dia. Esperava encontrar dificuldades na alfândega, porque ouvi dizer que eram muito rigorosos com bagagem mas não revistaram nada e a passagem foi totalmente livre. Tomei o metrô no aeroporto de Heathrow e vim direto até a estação Russel Square. Por azar, as escadas rolantes não funcionavam e subi seis lances por uma estreita escada de segurança, em caracol, carregando a mala. 
Me hospedei numa casa-pensão, a Edimburg House, na Bernard Street, conforme a indicação do livro. Se em Portugal e Espanha o tempo estava excelente, aqui estava feio, ameaçando chuva. Como tinha feito lanche no avião, após me instalar fui visitar o British Museum, que fica a dois quarteirões do hotel. Aos poucos fui descobrindo que o lugar em que estou é perto de muito do que quero ver. 
O Museu é enorme, com fachada imponente. Foi o primeiro museu do mundo a se tornar público na década de 1920. Seu enorme acervo é devido principalmente a peças trazidas de diversas partes do planeta por exploradores britânicos, (o que até hoje causa polêmica entre os países espoliados) e também por diversas coleções doadas por milionários, colecionadores e outros beneméritos, inclusive da nobreza inglesa. 
Como um dos mais importantes museus da Europa, possui obras de todo tipo, dos mais diferentes países do Ocidente e do Oriente, de todos os continentes e de todas as épocas.
De pequenos templos gregos como o de Ártemis, original, a barcos nórdicos milenares, objetos de decoração, joias, moedas, documentos, papiros, esculturas, livros raros e muito mais, tantas obras tornam impossível uma descrição abrangente.
 Entre as atrações principais pode-se citar: 
- A Arte egípcia, que realmente é sensacional, com centenas de sarcófagos, múmias, pinturas murais, papiros, joias e esculturas grandes e pequenas sobre a história desse antigo povo. Próximo 
está a grande e famosa pedra da Roseta, pela qual o estudioso francês Champollion descobriu o significado dos hieróglifos egípcios.
- Arte Grega, com vasos, cerâmicas, vidros, pequenas imagens, enorme estatuária, inclusive partes originais do Parthenon (de Atenas) como murais esculpidos, frisos e outros, trazidos da Grécia pelo explorador inglês Lord Elgin. 
- Arte da Babilônia, da Assíria e da Mesopotâmia como os famosos leões com cabeça de reis, de uns 3 metros de altura  e o enorme Mausoléu de Helicarnasso. 
E muita escultura e objetos da Roma antiga, da Suméria, do Oriente e da África.  Achei muito bonito um grande vaso azul, translúcido, da época romana, bem conservado, denominado vaso Portland porque um nobre com esse nome o trouxe da Itália. O Museu possui ainda seções de indumentária e móveis de várias épocas, da Antiguidade até o século 19. A exposição de vidros e objetos art-nouveau é primorosa. 
Tem inúmeras coleções de arte  do Japão, da China, da Pérsia e demais países do Oriente Médio e até uma escultura dos gigantes de pedra da ilha de Páscoa.
Meio tonto ao ver tanta coisa, saí quando fechou e fui fazer um lanche com chocolate quente para espantar o frio. Voltei para o hotel, mas não resisti e fui ver a Londres noturna. Caminhei pela Russel Square que é muito arborizada, como outras praças pela região. Entrei numa rua típica, chamada Bedford Place, aquela que se vê em filmes, toda com casas brancas iguais, grades e entrada superior e inferior. As casas tornaram-se pequenos hotéis, clubes e associações. Passei novamente em frente ao Museu e saí na Bloomsbury Street, a rua de  reunião de famosos escritores, como Virginia Wolf. Continuei pela Shaftesbury Avenue, com cinemas, teatros, inclusive o Globe e fui dar direto no Picadilly Circus, a tão famosa praça de Londres com seu monumento central e os leões.
Entre as muitas lojas, uma chama-se Swan&Edgar. Lembrei do personagem Swan do livro do Proust e de moi même. Na Regent Street admirei ainda existirem lojas tão antigas como a Mappin-Web, Woodwedge, Liberty e outras. Paralela A Regente St., num trecho pequeno fica a outrora tão famosa Carnaby Street de onde surgiu a mini-saia e os Beatles se apresentaram. Já não causa a sensação da década de 60. De simpático há a taberna Shakespeare Head, muito típica, com uns 3 andares revestidos de madeiras e a cabeça do poeta em esmalte. Voltei pelo mesmo caminho e reparei na Russel Square, o hotel Russel, muito grande e, todo iluminado, deu para ver da entrada, espelhos, bronzes e lustres de cristal.
Esta região na qual estou é muito próxima de teatros e o Covent Garden fica a alguns quarteirões.
Pela manhã seguinte peguei um ônibus-tour, aqueles de de dois andares, que deu umas duas horas de voltas pela cidade exibindo os pontos mais importantes. Para mim foi ótimo porque eliminou uns 60% de praças e monumentos que queria ver. Passamos pelas atrações St.James Palace, National Gallery, The Horse Guards com os guardas em uniformes vermelhos e à cavalo, Abadia de Westminster, Torre de Londres, Mansion House (aonde mora o prefeito), Catedral de São Paulo, Parlamento, Lambeth Palace, Tate Gallery, Ponte de Waterloo, ponte das Torres, Park Lane, Centro econômico da City, aonde vi o inglês típico de chapéu coco e bengala. E outras ruas que gostei muito. Estranhei apenas não passar em frente ao palácio de Buckinghan.
Findo o Tour, almocei e fui visitar a Tate Gallery que é fabulosa não só de pintores ingleses, mas universais, com obras de Klee, Kandinsky, Naum Gabo, Brancusi, além de Cézane, Braque, Picasso, Léger e tantos outros.
Mas as maiores coleções são, é claro, dos ingleses, tais como Turner, Gainsborough, Reynolds, Constable, William Blake e demais, antigos e modernos.
Saindo da Galeria fui à Abadia de Westminster e a achei fabulosa. É toda em estilo gótico sóbrio com aplicações de dourados nas colunas, nos lustres e nos vários altares. Cheguei até o altar (paga-se 1L) e fiquei imaginando quanto reis ali foram coroados. Há uma Capela Real, gótica, construída por Henrique 7º, cheia de belos vitrais e grandes bandeiras das províncias inglesas.
Toda a Abadia serve de mausoléu para reis ingleses falecidos e também para ingleses famosos como cientistas, escritores e outros. Assim, entre muitos, lá estão Santo Eduardo, Elisabeth I, Maria Stuart, Guilherme, o Conquistador, o escritor Charles Dickens, o cientista Spencer etc. Os jazigos reais rivalizam-se uns com outros em luxo. Atrás do altar-mor situa-se a Cadeira da Coroação, do ano de 1.300, na qual são coroados todos os reis ingleses. Ela é bastante simples, mas tremendamente histórica. Enquanto estava entre os jazigos de Elisabeth I e de Maria Stuart, que ficam lado a lado, um padre, num microfone, pediu a todos, 1 minuto de oração pela paz universal, rezando o Padre Nosso.Foi emocionante. Ao sair da Abadia fui andar pelos jardins laterais do Parlamento, junto ao rio Tâmisa, aonde são exibidas obras conhecidas do escultor francês Rodin. Esperei numa longa fila para entrar no Parlamento e visitei só a Câmara dos Comuns porque queria ver o local aonde Wiston Churchill tanto discursou. Apesar de construído no século 19, o edifício é em estilo gótico, com decoração em mosaicos e muitas esculturas.
Peguei um cheíssimo metrô para voltar e fiz um lanche num shopping center perto do hotel. Descobri um ótimo supermercado e uma sucursal do Correio, que me deixou feliz porque em geral, nas capitais que estive, as pessoas compram selo e colocam as cartas nas caixas do Correio pelas ruas. Só que eles sabem quantos selos colocar e eu não. Aproveitei para mandar cartões para a família e amigos.
Tenho só falado das partes boas da viagem, mas as ruins também acontecem como se perder algumas vezes, sentir-se só, estar sob tensão ante o inesperado, não gostar de determinada alimentação e fugir para os lanches e sanduíches, o que me fez emagrecer demais, unindo-se ainda ao andar tanto.
Nesses passeios a pé descobri que a cidade tem uma porta antiga e pedaços de sua antiga muralha medieval.
Na manhã seguinte fiz um tour a Windsor, cidade muito próxima a Londres. Pelo caminho há um belo e típico rio inglês, o rio Eton, muito cheio, ladeado de árvore. Passamos pelo célebre colégio Eton, com igreja gótica bonita. Antes de chegar a Windsor vimos uma reserva ecológica que pertence a rainha-mãe.
O Castelo de Windsor é enorme, com várias partes construídas pelos diversos reis ingleses que ali moraram. Com muitas torres, a maior foi construída no reinado de Henrique VIII. Como atrações vimos, na entrada, o desfile da guarda e dentro, a capela de São Jorge, salas e os quartos reais. Falei que a Abadia de Westminster era o mausoléu dos reis, mas aqui também há muitos reis falecidos como Henrique IV, Henrique VIII, Carlos I, além de reis mais atuais como George VI, pai da atual rainha. A Capela é grande, com belos vitrais e também cheia de bandeiras. Toda de madeira esculpida e com brasões pelas paredes, nela se reúne o Conselho da Ordem da Jarreteira, com lugar especial para o rei e seu herdeiro. A construção foi terminada por Henrique VIII para ser seu Mausoléu. Existem muitos jazigos com trabalhos artísticos exagerados, mas o de Henrique VIII é apenas uma lápide no chão. Ainda pertencendo ao corpo da Capela, atrás, há uma capela menor, do século 19, gótica, para não destoar do resto das edificações, construída pela rainha Vitória como mausoléu para seu marido o príncipe Alberto. É bonita, mas muito exagerada na ornamentação.
Fomos aos apartamentos reais que ainda são usados pela rainha Elisabeth II.  Visitamos a Câmara de Waterloo, enorme, sóbria, repleta de quadros da realeza. A Sala do Trono, muito ornamentada, com tapetes azuis, espelhos, belos lustres e também com diversos quadros de reis, sendo o maior e muito bonito o da atual rainha. O trono é pequeno, sem ostentação. Achei a sala mais bonita a de Recepções, toda com enfeites dourados, espelhos e lustres enormes, mas mesmo assim, sóbria e elegante. Há a São Jorge Hall, grande, com dois tronos pequenos, cheia de retratos e enfeites e uma Sala de Armas. Visitamos as salas da rainha: de audiência, escritório, de visitas pessoais e as salas do rei com quarto de dormir, de vestir e escritório. Curioso que não se entra no quarto da rainha porque o dela ainda é usado. Por toda as salas do palácio vê-se quadros famosos de séculos atrás, móveis antigos, grandes lustres, tapeçarias e belos tapetes.
Na saída, almoçamos gostosamente numa taverna típica aonde conheci um casal canadense que perguntou de onde eu era e que ficou muito espantado quando contei que minha cidade de São Paulo tinha 8 milhões de habitantes. Ele trabalhava na I.B.M. e falei que em São Paulo a I.B.M. possuía alto e grande edifício. Não sei se ele acreditou, porque acho que pensava que no Brasil só havia índio.
Da taverna, dirigimo-nos para Hampton Court. Pelo caminho vi muitas casas de campo e paisagens bonitas lembrando quadros de Constable e Gainsborough.

Passamos pelo memorial do presidente Kennedy e lembrei da inauguração com a rainha, a Jacqueline Kennedy e os filhos.

Hampton Court foi moradia do rei Henrique 8º. É muito histórico e tem o estilo gótico inglês, menos rebuscado e em cor escura. Além de grande, com torres e portas enormes de madeira, tem na fachada o famoso relógio astrológico. Tive grande decepção por visitarmos apenas pequena parte porque estava em restauros, o que achei um absurdo a agência de turismo não avisar antes de pagarmos. Assim, apenas vimos o grande Hall e algumas salas do rei. É mais histórico que bonito. Fomos para os jardins que são grandes e conservados como quando iniciados. Cada um foi construído para uma mulher do rei o que justifica ter tantos já que ele casou muitas vezes. Há uma videira de estufa que dizem ser original e que ainda dá uvas. Numa pequena ala envidraçada jogou-se uma partida de tênis pela primeira vez na história, segundo a guia. Sentei no jardim, tentando sentir o clima de época e lembrando do que li e do que assisti sobre a história desse palácio.
Voltamos a Londres às 17 h.
Fui passear pelo Covent Garden e gostei muito. Tem vários pequenos mercados de flores e de frutas, artesanato, galerias comerciais e barzinhos. Os frequentadores são na maioria estudantes e muita gente que imagino ser de teatro, porque além da Ópera House existem outros vários. Há a famosa Igreja do Ator, celebrizada em textos pelos autores Inigo Jones e mais tarde Bernard Shaw, cuja sua peça teatral Pigmalião, ali se passa. Destruída por um incêndio no século 18, a Igreja foi reconstruída no século 19.
Jantei, voltei para o hotel e escrevi diversos cartões aos familiares. O silêncio em Londres depois das 22 h é quase total e estou numa região próxima ao Centro urbano. A cidade é muito vigiada por pequenos aviões e helicópteros, creio que para verificar o trânsito.
É só imaginar sirenes tocando e está criado um clima da 2ª. Guerra Mundial.
Obs: a Ópera House está apresentando Arabella, do Richard Straus, com a cantora Kiri te Kanawa, a diva operística do momento. Em novembro está anunciada a vinda do célebre pianista Maurício Pollini.
Isto é que é maravilhoso no 1º Mundo, o melhor na arte e em tudo mais está aqui.
Na manhã seguinte fui a Catedral de São Paulo. É a maior igreja que entrei, até o momento. Apresenta os estilos Renascimento e Barroco, épocas de seu início e término. Tem enorme abóbada com bonitas pinturas internas, mas o mais belo trabalho de decoração está acima do altar mor cujo teto possui pequenas abóbodas com mosaicos coloridos belíssimos, nos quais predomina a cor dourada. Apesar do tema ser diferente me lembrou o também admirável mosaico da cúpula da Mesquita de Córdoba. O altar, com imagens sensacionais e todo em mármore, é cercado por altas portas de ferro com aplicações douradas, num efeito bastante bonito. No chão, em frente, há uma inscrição em homenagem ao ex 1º ministro inglês Wiston Churchill. Por toda a Igreja se encontram diversos pequenos monumentos aos heróis nacionais.
Como curiosidade havia uma vitrine com o bouquet de casamento de Lady Diana com o príncipe Charles além do convite do casamento. (As flores deviam ser cópias, pois o casamento tinha sido muito meses antes). Aliás, por toda cidade ainda se vê lembranças como pratos, xícaras e fotos do tema.
Desci para a grande Cripta aonde, entre outros, estão enterrados almirantes como Nelson e Wellington, pintores como Turner e Millais. No centro situa-se uma pequena capela militar. Próxima a Cripta situa-se a Sala dos Tesouros com antiguidades como objetos sacros de prata, livros, capas e vestimentas de diferentes ordens reais, mas não há o exagero das igrejas latinas.
Depois da Catedral fui a Torre de Londres ver as joias da Coroa. Não é apenas uma torre, é uma fortaleza com fosso e é um conjunto de torres, antiquíssimo, sendo a principal a White Tour, datada do ano de 1050. Cada torre tem sua data. E nomes na entrada como Porta dos traidores, dos covardes, etc. Abrigam museus de armas, de armaduras, de instrumentos de tortura ou de decapitação sempre lembrando seus hóspedes famosos, principalmente Tomas Morus e Ana Bolena. As joias e prataria ficam num edifício à parte com o interior todo modernizado e muito bem vigiado por guardas e câmeras. No andar de cima situam-se pratarias, cetros reais, baixelas, medalhas, insígnias, colares de ordens, com muito ouro, prata e pedrarias, além de uma batina ou vestido e o manto da coroação trabalhados em ouro.
Embaixo, num porão protegido eletronicamente e com portas de aço ficam as joias e objetos de ouro. As peças são realmente bonitas: vasos, pratos de decoração, enormes castiçais e candelabros, em ouro. Ao lado, num circuito em forma de estrela tendo em cada ponta duas vitrines, exibem-se as coroas de diferentes reis e rainhas, anéis, cruzes, cetros em ouro e pedras preciosas. A coroa da atual rainha feita em 1953, além do grande rubi central e demais pedras preciosas, exibe o diamante Small Star of Africa, um pedaço do grande diamante Star of Africa, (mais de 300 quilates) que está encravado em cima do cetro real de ouro, usado apenas na cerimônia de coroação. O número de coroas e tiaras com brilhantes, pérolas, rubis e esmeraldas é enorme.
Andei pela torre para sentir sua história e após, impregnado de realeza, resolvi tomar um plebeu metrô e ir ver o palácio de Buckinghan, descendo no parque Saint James. Isso porque queria ver o palácio em sua visão da avenida frontal rodeada de jardins e com o grande monumento da rainha Vitória em frente ao palácio.
Aliás, o que há de monumentos à rainha Vitória, em frente de todos os palácios, é impressionante.
Pensei que fosse possível visitar o palácio e abraçar a rainha, mas não deu. Ela estava na Escócia (kkkkk ).Fiquei vendo a guarda, e a fachada com o famoso balcão central.
Os portões são bonitos e imponentes com aplicações de bronze dourado. Aliás todo o lugar é muito elegante com parques como o Saint James, Green Park e o enorme Hyde Park, que percorri uma parte pequena por ter já andado muito. Voltei pela avenida central, The Mall, passando por Clarence House, Malborough Palace até o Admiralty Arch, na avenida, de mármore, grande e bonito, com 3 portões por onde passam os carros, sendo que o maior, do meio, todo em dourado, só se abre para a rainha. Esse Arco divide a avenida The Mall da Trafalgar Square, com a coluna do Almirante Nelson no meio e ao fundo a National Gallery, que não entrei por estar bastante cansado. Mas deu ainda para andar e ver por fora o famoso Albert Hall, sala de concertos, de arquitetura circular, tendo na frente a escultura do príncipe Albert, marido da rainha Vitória, precocemente falecido. Aliás, estou meio tonto de tanto museu. E não estou nem na metade da viagem.
Voltei para o hotel para descansar. E lá pelas 18h45 saí para assistir My Fair Lady no antigo teatro Adelphi. O espetáculo foi simpático, com uma boa representação, cenários mais práticos que luxuosos, sendo alguns cenários móveis, com recurso de aproximação ou recuo conforme a necessidade da encenação. A voz da cantora no papel de Elisa Doolitle era fraca. Só não me arrependi por ser uma peça tão famosa, tantos anos encenada em Londres. Mas a mesma peça que assisti anos antes em São Paulo, com a Bibi Ferreira e o Paulo Autran foi melhor encenada e cantada. 
Saindo do teatro, voltei a pé, me despedindo de Londres. Passei pelo Covent Garden, aonde músicos tocavam e uma carrocinha de castanhas mostrava o azul do braseiro. Só faltava a Audrey Hepburn como florista.
Pela manhã tomei o avião para Paris e cheguei às 15h30. 

Et bien, je suis a
PARIS!

Cheguei à cidade-luz às 15h30 e depois de muita indecisão no aeroporto, tomei o ônibus 351 Nation que me deixou na place de la Republique, após cobrar absurdos 22 francos ou seja 4 dólares. Ali tomei o metrô para o Jardim de Luxemburgo e vim para o Hotel de Flandres, na rua Cujas, travessa do Boulevard Saint Michel.
O Hotel é velho, sem elevador e o quarto é normal. Estou pagando 50 francos, mais 10 pelo café da manhã. O mais caro até então.
O que muito agrada aqui é o local, o Quartier Latin, e estou a um quarteirão da Universidade da Sorbonne. Na sua igreja está enterrado o Cardeal Richelieu (já comecei a entrar na história) que descobri por acaso ao ver sua estátua e placa, em frente à igreja, quando saí para fazer um lanche. Entrei na praça da Escola, vi alunos saindo e entrando dos prédios acastelados e me senti em casa. Fui seguindo pelo Boulevard Saint Michel e numa esquina, deparei com algo que já tinha visto e me conduziu à minha infância. Um castelinho do século 16, no melhor estilo gótico francês, que conhecia de uma coleção de cartões antigos franceses de meu avô, que os trouxe da França em 1914. É o Museu Cluny, antigo e pequeno mosteiro, atualmente com acervo de obras da época medieval. Fiquei emocionado ao pensar que meu avô também tinha estado ali há quase 70 anos atrás.
Fui descendo pelo Boulevard e reparando como em todas as ruas transversais e avenidas existem cafés, restaurantes, docerias, lojas e cinemas, com muita gente e muito turista. No fim do Boulevard, já anoitecendo, senti um vento muito forte, entrei à direita e vi uma ponte. Logo pensei se seria o rio Sena. E era. Me dirigi rápido para vê-lo e quando cheguei, olhei para à direita e deparei com a fachada da Notre Dame, toda iluminada. O impacto foi tão inesperado que fiquei com olhos cheios de lágrimas. Caminhei até ela e fiquei um tempo enorme admirando, apesar do frio e do vento que vinha do rio. Enquanto estava sentado fora, porque já estava fechada, de repente uma luz forte começou a vir pelo Sena, iluminado ainda mais a catedral e todos os prédios arredores.
Era um barco turístico (bateau mouche) com faróis poderosos, iluminando a noite para os turistas que nele estavam. 
Para me esquentar, andei novamente, pela Île de la Cîté, local de milionários famosos, depois pelo Quais Bourbon, Pont Saint Louis, sempre pensando na beleza da Catedral com seu trabalho gótico milenar, seus vitrais, a Rosácea frontal, as torres milenares e toda a história que já passou por ela. Por outra ponte do Sena vi ao longe muitos prédios e o obelisco da Place de la Concorde.
O Boulevard Saint Michel, próximo ao rio Sena, tem uma estátua monumental de Saint Michel com uma fonte, infelizmente seca. E próximo, um salão de chá, todo iluminado com seus lustres de cristal, tendo a fachada e letreiros em estilo art-nouveau. Achei bonito. Por estar tarde, voltei para o hotel e vi numa grande avenida paralela à rua Cujas, o Pantheon, todo iluminado. Não imaginei que o local fosse tão bom, apesar do hotel ser tão simples. E muito perto também, está o Jardim de Luxemburgo. A única nota desagradável é que achei as ruas muito sujas e os monumentos mau cuidados. Que diferença para quem vem de Madri e Londres.
Paris abre às 10 h, como Madri e Londres. Saí com calma e fui a igreja Saint Etienne du Mont aqui perto, construída por Luiz XV para abrigar o corpo de Sainte Genéviève, padroeira de Paris. Iniciada no período do Gótico foi terminada no Renascimento e possui decoração Barroca. Em 1805, quando o Papa Pio VII foi obrigado a vir a Paris para coroar Napoleão como Imperador, ele rezou aos pés da Santa. Fui depois ao Panteão, que é em frente. Edifício grandioso, com cúpula enorme, construído no século 19, conserva nos jazigos os grandes da pátria, entre os quais os escritores Victor Hugo e Émile Zola.
Tão próximo do Jardim de Luxemburgo fui conhecê-lo e vi o palácio Luxemburgo, antiga residencial real e agora prédio oficial do Senado.
Admirando as famosas entradas de metro desenhadas pelo artista Guimard (que só conhecia em livros) fui de metrô até a Notre Dame des Invalides, igreja construída por Napoleão III para abrigar os restos mortais de seu tio Napoleão I. Enorme, com grande cúpula, decoração no estilo clássico, tem a tumba do Imperador no centro, mas no andar de baixo, podendo ser contemplada tanto de cima na galeria, como embaixo. Exagerada, como de resto toda a Igreja, percebe-se que é um monumento a Napoleão I e não apenas seu jazigo. Na igreja, também estão enterrados o Rei de Roma, filho de Napoleão e ainda José Bonaparte, irmão do Imperador.
Após, passei pelo Hotel des Invalides, belo palácio construído por Luiz XIV, que abriga o Museu Militar e situa-se no mesmo quarteirão, porém do lado exatamente oposto à Igreja. Andando pelas várias avenidas e ruas cheguei ao Campo de Marte aonde está a Tour Eiffel. É muito imponente, entre jardins, com ampla visão por todos os lados. Era tão grande a fila para o elevador que subi, pela escada, parando nos vários estágios, até o topo. A vista é belíssima e abrange toda a cidade. Só atrapalhou o enorme número de turistas (como eu). Ao descer, descansei ao sol para esquentar porque o frio está ficando mais forte. Fui ao Palais de Chaillot, no Trocadero, que é em frente, do outro lado do rio Sena. De lá tem-se outra visão belíssima da Torre, com toda a sua imponência. No Palais de Chaillot situa-se o museu de Arte de Monumentos de Paris.
Continuando a andar pela avenida Kleber, toda arborizada, fui ver o Arco do Triunfo, na Étoile, atual praça Charles de Gaulle. É um arco muito grande e bonito, tendo no centro o fogo sagrado para o soldado desconhecido. Subi até o topo, sem elevador, mas a vista para todos os lados, valeu muito. Voltei pela avenida dos Champs Elisée, muita larga, muito arborizada, com comércio fino, galerias de arte, restaurantes e cinemas. Aproveitei para almoçar. Sempre andando pela avenida vi, numa travessa lateral, o Grand Palais e o Petit Palais, um em frente ao outro. Tanto o Grand (que parece um bolo de noiva) quanto o Petit (mais elegante) são locais de exposições temporárias e próximos a um pequeno parque chamado Gal. Eisenhower, em homenagem ao militar norte-americano da 2ª. Guerra Mundial e ex presidente dos U.S.A. (que vi em São Paulo, quando de sua visita oficial, no final da década de 50). Sempre andando pela avenida cheguei a Place de La Concorde, com o famoso obelisco egípcio, ao centro, oferecido pelo Egito ao rei Luiz Felipe, em 1831. A Place tem antigos prédios governamentais. Fora da praça, em extremidades opostas, no fim de uma rua, está a Igreja de Madeleine, que parece um templo grego e no fim da outra rua está a Câmara dos Deputados, também cheia de colunas. De longe, uma construção está de frente para a outra e o rio Sena no meio. A ponte que o atravessa é muito bonita com lampiões tríplices e pés de ferro ornamentados.
Até então eu estava na rive Droîte. Ao atravessar a ponte passei para a rive Gauche. As margens do Sena estavam repletas de pequenas bancas de livros usados, discos, selos, estampas, artesanato e alguns artistas pintando. (Parecia filme)
Nessa margem a avenida tem vários nomes: quais Anatole France, Voltaire, De Conti, etc. Ao me aproximar da Notre Dame, como estava aberta, entrei e me emocionei.
É bastante sóbria, num gótico puro, imponente e é muito alta. Os vitrais coloridos com cenas religiosas dão uma luz especial, mas os mais bonitos são as duas enormes rosáceas frontais numa arte sensacional. Possui em cima, duas galerias laterais. O atual altar fica no centro, com imagem de N. Senhora, sob a abóboda. Mas ao fundo vê-se outro, maior, com uma Pietá em mármore, muito bonita. O Coro é todo em madeira com cenas religiosas entalhadas e com policromia ainda original. A Igreja começou a ser construída em 1.160 e as torres não estão terminadas e acho que nunca mais estarão. (Deveriam ter como acabamento, pequenas torres apontando para o céu). Os lugares para acender velas são inúmeros e acendi para minha mãe. A Igreja estava muito iluminada porque ia haver missa. Mas demorou tanto que desisti de esperar e saí caminhando pelos boulevards Saint Germain e Saint Michel. Fiz um lanche/pizza com vinho tinto e voltei ao o hotel. O que me espanta aqui em Paris é como tudo é bem mais caro. Uma passagem de ônibus, num circuito pequeno paguei o equivalente a 120 cruzeiros. Em Londres, num percurso maior gastei 40 cruzeiros. Também a alimentação é cara. O que me salva são os McDonald’s no qual um cheeseburguer custa 6F, menos que a passagem do ônibus que foi 7F. Por falar em preço, à tarde, na Champs Elisée vi o preço da excursão que quero fazer aos castelos do Loire: 75 dólares. E ainda pretendo ir a Chartres e Versailhes. Pensei ir ver o pianista Claudio Abbado tocar com a Orquestra de Londres, na Sala Pleyel. Mas o preço me fez desistir. Ainda tenho muita viagem pela frente.
Este Quartier Latin também parece uma festa contínua, como em Madri. As ruas estão sempre cheias, o que dá uma alegria especial.
Hoje, domingo de manhã, fui a Igreja Val de Grace, aqui perto. Era um antigo mosteiro do século 12 que no século 17 foi restaurado por Ana D’Áustria, esposa de Luiz XIII.
É bonita, num estilo Renascença com acabamentos Barrocos. No altar, há grande escultura em mármore sobre o nascimento de Cristo sob um dossel dourado com colunas coríntias, como as do Vaticano. Era frequentada pelos reis e toda a Corte. 
No caminho vi cenas de um domingo pela manhã: pessoas passeando com cachorros, outras fazendo ginástica e muitas com um pão bengala, debaixo do braço, sem embrulhar. Fui passear outra vez no jardim de Luxemburgo, que ainda está florido e admirei suas várias estátuas, um lago com fonte no meio e o palácio, que de perto é bem maior do que tinha achado antes. Atrás dele, numa pequena praça fica a igreja de Saint Sulpice, gótica e bastante grande. No altar há uma N.Senhora, em mármore sobre umas nuvens, que se espalham pelas colunas num trabalho muito diferente e de difícil execução.
Toda essa região é o início de Saint Germain de Près e na Place Odeon, situa-se o célebre teatro Odeon onde hoje atua a Comédie Française. Fiquei imaginando quantas vezes a atriz Sarah Bernardt deve ter atravessado aquelas portas. Dentro, num hall em cima, há estátuas e pinturas das glórias do teatro francês.
Depois de um lanche, fui para os lados da Notre Dame para conhecer o Hotel de Ville, palácio da Prefeitura de Paris, numa grande praça, tendo a fachada coberta de estátuas. Na volta, passei pela torre de Saint Jacques, gótica e alta. Acredito que fazia parte de alguma igreja, destruída.
E perto fica a praça com dois grandes teatros: o De la Cité e em frente o Teatre National que se chama Sarah Bernardt.
Atravessando o Sena fui visitar a Saint Chapelle, que tem uma decoração gótica espetacular. É feita de colunas muito finas tendo entre elas centenas de vitrais coloridos e rosáceas trabalhadas. As colunas são pintadas em azul com filetes dourados e a abóbada e arcos também pintados em azul com aplicação de flor de Liz (a flor real) em dourado. O altar também é todo dourado, em estilo gótico. A sensação que tive foi a de estar dentro de um caleidoscópio. Só lamentei tanta beleza não estar bem cuidada.
A Capela situa-se dentro do Palácio da Justiça que ocupa todo o quarteirão. Do lado da entrada para a Capela, numa torre, na quina da construção há um enorme relógio astronômico, todo em metal dourado que dá o nome a Torre do Relógio. Ainda nesse enorme Palácio da Justiça, no lado que dá para a margem do Sena fica a Concièrgérie, prisão de muitos séculos, aonde permaneceram o rei Luiz XVI e a rainha Maria Antonieta até a morte. A cela de Maria Antonieta é pequena e propositalmente horrível. Ao lado, fizeram um pequeno museu de suas últimas coisas. Além dos processos judiciais que sofreu, há uma carta para Madame Elisabeth, irmã do rei, na qual pede que cuide dos filhos e o fac símile do famoso bilhete escrito com alfinete, pedindo ajuda a amigos.O bilhete original está no Arquivo do Estado.
Saí apressado e oprimido para o sol mas fiquei muito surpreso ao ver que o tempo estava escuro e frio.
Ainda quis ir a Place de Vosges, e atravessando novamente o Sena, andei rápido porque ela fica bem mais longe, numa parte antiga, com ruas medievais, estreitas e tortas. A praça fica no Marais e é toda fechada por construções acasteladas, do século 17. No meio tem um grande jardim. As construções foram habitações de famosos como o pavilhão da rainha Ana d’Áustria, o pavilhão do cardeal Richelieu e a casa de Victor Hugo, que visitei. Por dentro das construções vê-se que possuem grandes jardins internos.
Muito perto situa-se a Praça da Bastilha que como lembrança só tem um alto monumento à Vitória (da Justiça). Tomei o metrô e voltei a praça do Hotel de Ville para ir ao Centro Pompidou, que é perto, numa outra praça. Na minha opinião o Centro não é bonito e destoa completamente do local, com sua construção moderna e feia. É todo de vidro, com estruturas aparentes, cheio de tubulações pintadas, ocupando as laterais. Me pareceram servirem de condutores utilitários como refrigeração, eletricidade e água. Mas a sua importância cultural é tão grande que desfaz qualquer má impressão. Sobe-se até o último andar por uma série de escadas rolantes externas que ficam dentro de tubulações de vidro. À medida que subi, fui vendo os telhados de Paris e uma bela visão da Sacré Coeur de Montmartre, ao longe.
No 5º e último andar há a exposição Paris – Paris, de 1937 a 1957, que exibe esses 20 anos em todas as suas realizações sociais, tendo como manifestação principal a Arte. Numa estrutura baseada principalmente em quadros e esculturas, possui obras de mestres como Picasso, Matisse, Braque, Léger, Giacometti e tantos outros do período. Exibe dois áudio-visuais com fotos, capas de revista, jornais, que dão a história da época, inclusive a 2ª guerra mundial. Cada manifestação artística tem o seu correspondente na literatura e na música e vídeos apresentam depoimentos atuais das personalidades que viveram esse momento. Há a presença física de objetos como roupas de Dior e de Balenciaga, design de indústria, maquetes de arquitetura, móveis modernos como por exemplo: de Le Corbusier, televisores, variados eletro-domésticos, vidros
artísticos (Daum), luminárias, automóveis e inclusive uma miniatura do avião Caravelle. Existem bonecas e manequins surrealistas, criação do artista Salvador Dalì e a famosa e discutida escultura de Picasso: um selim de bicicleta transformado em cabeça de touro. No meio da exposição, a interrompendo, há um stand todo em preto sobre o período negro da 2ª. Guerra mundial também com fotos, filmes, documentos, depoimentos, uniformes e bandeiras. E na saída, muitos affiches de propaganda desde apresentação do cantor-ator Maurice Chevalier até cigarros, artigos de beleza, perfumes e outros decoram as paredes.
Desci para o Museu de Arte Moderna que ocupa o 4º e 3º andares. A quantidade de peças em quadros e esculturas dos artistas modernos é incrível. São tantas que só dá para falar os nomes principais senão não pararia de escrever. E mesmo os nomes mais conhecidos têm inúmeras obras expostas. Assim, os Picassos, Légers, Braques, Klees, Chagalls, Kandinskys, Matisses, Giacomettis, Brancusis, me deixaram maravilhado.
Deixei o museu pelas escadas rolantes, rolando de cansaço pois não aguentava mais andar. Descansei embaixo, no saguão, aonde tem anfiteatro, livraria e outras pequenas exposições que não fui ver. Na rua, em frente ao museu havia gente tocando, fazendo malabarismos, vendendo artesanato, bem alegres.
Voltei para o hotel e quase chegando começou a cair uma chuva com pingos gelados como nunca tinha sentido. Nem em Nova Iorque, num novembro com neve, senti pingos tão frios.
Estou no quarto, escrevendo, esperando a chuva passar para descer e jantar antes que fechem os restaurantes. E depois, dormir para descansar. Penso como tenho andado em todo lugar, o dia inteiro. Claro que pego ônibus e metrô, mas os museus, as igrejas, os palácios, as praças obrigam andar bastante.

Hoje, pela manhã fui a Montmartre, ver a Sacré Coeur. É uma igreja enorme, toda branca em estilo românico-bizantino, apesar de ser construída no século 19. O teto tem belas decorações em mosaico. A vista das escadarias e dos terraços são atrações à parte. Vê-se quase toda Paris, com a torre Eiffel bem distante. Andei por diversas ruas e comi doces de creme muito gostosos num frio desagradável, sob um céu azul. Todo o bairro possui construções bem antigas e diferentes e fachadas com esculturas e relevos. Fui a praça Pigalle e vi perto, o Moulin Rouge, tão famoso.
No final do passeio, desci a enorme escadaria e fui de metrô a Étoile, no começo do Foubourg Saint Honoré, para comprar ingresso para o recital do pianista Claudio Abbado, mas o preço me fez desistir. Vou continuar escutando os discos que tenho dele, em São Paulo. Voltei, me distraindo com o comércio chique do Foubourg.
Fiz um lanche numa galeria e comprei o bilhete de excursão para os castelos do Loire. Novamente de metrô, desci na Place de la Concorde. Segui pela Rue de la Paix e parei em frente ao restaurante Maxim’s, imaginando quanto gente famosa passou por aquela porta. Já que estava perto entrei na Igreja Madeleine.
É como um templo grego, com sua colunas, muito grande e bem decorada com mosaicos nas suas três pequenas abóbodas internas. Dali, pelo Boulevard des Capucines cheguei até a Ópera, que é um teatro Belle Époque, com enfeites externos rococó de efeito bonito.
Dentro, até aonde permitem entrar, as escadarias e decorações são sensacionais, com muito mármore rosado, espelhos, pinturas, enfeites dourados e lustres de cristal enormes. A plateia não estava aberta, mas pela escadaria havia uma exposição de figurinos usados em diferentes óperas, muito luxuosos, especialmente os de representação Oriental.
Sai da ópera lá pelas 13 h e fui, de metrô para o Louvre, que é perto. O prédio, em si, é enorme. Desde o Renascimento até o século 19, sempre teve novas alas construídas, com muito fausto. Atualmente, só podia servir de museu, nos seus 14 quilômetros de galerias. Ainda bem que me deu um ataque de lucidez e visitei só o que era mais importante.
Vi o quadro da Monalisa, as esculturas gregas Vitória de Samotrácia e Vênus de Milo e as esculturas dos dois escravos de Michelângelo. Ao lado da Monalisa há outros dois quadros religiosos do Leonardo da Vinci, para mim, muito mais bonitos.
Depois passei pelas seções de arte egípcia e grega.
A Arte Egípcia é grande com muitas estátuas, sarcófagos, relevos, cerâmicas, joias e diversos utensílios. Mas os ingleses têm bem mais múmias. (No museu, eu quero dizer, porque nunca encontrei povo tão sem calor humano com turistas)
Também a Arte Grega é grande, com muita estatuária, lápides tumulares, objetos e partes de antigos templos.
Mas tudo fica meio igual a outros museus em outros países com peças semelhantes. É por isso que o ideal é ver o que é diferente em cada um. Passei rapidamente por diversas galerias e parei no que reconheci de obras mais famosas como de Rafael, Rembrandt, Velasques e os diversos franceses tais como Watteau, Fragonard, Delacroix, Davi, Coubert e outros.
(Os Impressionistas estão no museu Jeu de Pommes).
Ao sair, andei pelos jardins das Tulherias, cheio de flores, apesar do frio. Nele há o Arco do Carrossel. Ficando atrás dele, tem-se uma visão curiosa: vê-se o Arco em primeiro plano e no espaço aberto do centro dele, mais adiante vê-se o obelisco da praça da Concórdia e mais longe o Arco do Triunfo, todos numa linha reta. (Numa outra volta a Paris, bem mais tarde, vi, na mesma reta, o Arco do Carrossel, o Obelisco, o Arco do Triunfo e muito ao longe o enorme Arco de la Défense, no novo e moderno conjunto de prédios executivos, quase fora de Paris, construído nos anos 90)
Andando devagar cheguei ao Museu Jeu de Pommes, aonde estão os pintores Impressionistas famosos: Manet, Monet, Degas, Van Gogh, Cèzanne, Toulouse Lautrec, Gauguin, Renoir e tantos que levaria muito tempo descrevendo. Gostei demais. Descansei nos jardins e segui pela rue Saint Honoré (aonde se localizam as lojas de Ungaro, Gucci, Balmain, Cardin etc.) até a Place Vendôme onde encontrei o comércio mais fino de Paris em joalherias, tais como Cartier, Van Cleef, Boucheron, Bulgari, expondo nas vitrines, joias com diamantes, rubis, esmeraldas, enormes e muito ouro. No centro da praça há uma coluna com relevos de cenas de batalha e a escultura de Napoleão no topo, vestido de César (ridículo!). Na praça, situa-se ainda o famoso Hotel Ritz, (onde se hospedou o alto comando alemão, na 2ª. Guerra). Possui bela entrada e, simplesmente, tinham 3 Rolls Royce parados em frente. Paris tem muito Rolls Royce. Em frente ao restaurante Maxim’s estava estacionado um, todo branco, esperando alguém. Na volta peguei o metrô nas Tulherias e vim para o Hotel, após lanche, num café próximo.
Na manhã seguinte, fui a Versalhes. Acho que qualquer palácio, daqui para frente, será de difícil comparação.
Não vou descrever porque escreveria páginas e já se sabe muito sobre ele. Foi emocionante ver de perto salas tão conhecidas por fotos. O luxo é enorme em todo ele, mesmo assim destacam-se os quartos do rei e da rainha, a Capela, a Ópera (toda em dourado e azul) e, é claro, o deslumbramento que é a Galeria dos Espelhos, enorme, com os tetos pintados com cenas belíssimas, lustres esplêndidos, paredes decoradas, com acabamentos em pequenas esculturas e ornamentos dourados. Aliás todo o palácio é repleto de enfeites dourados, pinturas nos tetos e quadros bonitos. O luxo dos móveis e objetos de decoração também são admiráveis.
Nas grandes escadarias fiquei imaginado a multidão enfurecida subindo à procura dos reis.
Os jardins são enormes e as flores davam um colorido especial. Fui ver por fora o Grand Trianon e o Petit. A arquitetura do Grand Trianon é em estilo néo clássico, com mármores rosados. O Petit é uma mansão clássica construído para a rainha Maria Antonieta para ter sua vida particular, longe da Corte. Os dois ficam muito distantes do palácio principal. Fui também ao Humeau de la Reine, pequena fazenda com animais e aves, aonde a rainha se divertia como camponesa. Ali há um pequeno moinho simpático, mas o que me emocionou foi lembrar uma antiga foto de meu avô e de minha bisavó, sua mãe, na escadinha do moinho há 70 anos atrás. Voltei outra vez para o palácio e para a estação, chegando em Paris às 16h30. Com tempo livre, ao ver a propaganda, fui ao cine Paramount, no boulevard Montparnasse assistir o filme Le Choix des Armes, com o Ives Montand, Catherine Deneuve e Gérard Depardieu. Fui pelos três artistas importantes, mas o filme foi fraco, com final piegas.
Voltei ao hotel para dormir porque amanhã vou ver os castelos do Loire.
Saindo muito cedo de Paris, visitamos três:
Chambord, Chennonceaux e Amboise.
-Chambord é o mais bonito, muito grande, cheio de ornamentos e pequenas torres. Dentro, os amplos salões estão quase vazios, assim como os outros castelos visitados. Neste, o que há de interessante são as duas escadas duplas internas cruzando uma com a outra, idealizadas por Leonardo da Vinci. Construído por volta de 1.500, o castelo não chegou a ser habitado pela corte de Francisco I e só serviu de moradia real em épocas de caçada.
-O castelo de Chennonceaux é menor e mais bonito. Construído sobre o rio Loire, parece uma bela e imponente ponte acastelada.
Também muito vazio de móveis, possui magníficos jardins. A seu respeito existe a romântica história de ter pertencido a Diane de Poitiers, amante do rei Francisco II e rival da rainha Catarina de Médici. Após a morte do rei, a rainha obrigou a amante a deixá-lo.
-O Castelo de Amboise é o mais antigo e histórico. Além dos vários reis que o habitaram, também Joana D’Arc e Leonardo da Vinci foram seus hóspedes. O pintor, está, inclusive, ali enterrado, numa pequena capela gótica junto a uma das muradas.
Sob uma esplanada, o castelo tem a aparência de uma fortaleza com seus grandes muros. Para chegar até ele e seus jardins, subimos por um longo túnel todo murado, muito largo para a subida de cavalos e cavaleiros. Achei um interessante sistema de defesa porque fechando-se o túnel seria difícil ser invadido pelos inimigos.
Só por fora passamos pelos castelos de Blois, Chaissy (hoje, hotel), pelo de Chaumont e pelo de Chaverny, muito simpático, tendo na frente uma matilha de cães de caça. Casada com um nobre francês, esse castelo pertence a uma descendente da princesa Isabel, do Brasil.
A região do Loire é bonita com campos, florestas, casas acasteladas, muito gado, carneiros e plantações, inclusive de videiras. Pelo caminho, vi grandes tonéis de madeira cheios de uva, puxados por pequenos tratores. A região é fértil e tem reservas florestais para animais. Mesmo em Chambord via-se cervos pastando nas matas. Perto de todo esse encantamento natural existem duas torres de aço, altas e brilhantes, pertencentes a usina nuclear do Loire que fornece energia à região.
Almoçamos numa taverna típica: Taverne du Roi, com telhado acastelado, traves de madeira entre a argamassa e enorme lareira que muito me agradou porque o frio aumentava. Aliás, o Loire é uma das regiões mais frias da França e não sei porque tem cerca de 300 castelos ali construídos, pois sendo todos de pedra já são verdadeiras geladeiras. Lembro de uma história contada anos depois, em São Paulo, pela Condessa de Paris, bisneta da princesa Isabel do Brasil, quando do lançamento de seu livro de Memórias, que no castelo D'Eu aonde morava, para ir de um salão com lareira para outro, ao atravessar os longos corredores, ela precisava colocar casaco, cachecol e luvas por causa do frio.
Gostei também no Loire das pequenas cidades que envolvem alguns dos castelos. Parecem de contos infantis.
Em Paris, esqueci de comentar algo interessante, para mim: na parte de trás do Museu Cluny, vi umas ruínas, inclusive subterrâneas, que não sabia o que eram. Fui informado que eram antigas termas romanas do século 2 D.C.(A.C.). É admirável como o império romano se estendeu por toda a Europa (à exceção, é claro, da pequena aldeia normanda do Aterix e do Obelix).
Continuando meu roteiro pessoal fui, de trem para Chartres, na manhã seguinte, saindo da Gare Montparnasse, para ver a fabulosa catedral. E que bom que fui. Ela é belíssima, iniciada em 1.200 e além da construção gótica e de suas torres diferentes, mas geniais, possui vitrais por todos os lados, com cenas religiosas, num trabalho artesanal espetacular. A rosácea principal, na entrada parece o desenho de um floco de neve.
A igreja é tão ornamentada que as portas laterais rivalizam-se com a entrada principal, tal o trabalho de esculturas em pedra, que exibem. A torre principal parece um bordado. Todo o estilo da igreja é gótico, com enormes colunas, mas os acabamentos em talhas e imagens chegam até o período barroco. (Como já comentei, as edificações que levaram séculos de construção acabaram adotando diversos estilos posteriores, de decoração). Muitas das esculturas medievais estão guardadas na sala do tesouro para sua preservação, sendo substituídas por cópias. Mesmo em outras igrejas e em outros países, a maior parte das esculturas externas estão sendo substituídas por cópias para preservação das antigas, por causa da ação do tempo e da poluição.
O altar principal de Chartres contém uma enorme imagem de N. Senhora da Assunção, esculpida em mármore, num bloco único, de efeito impressionante.
O chão, escadarias, portas são tão antigos que a gente se transporta para a época. Na igreja foram sagrados vários reis da França e era frequentada por Joana D'Arc. A sala do Tesouro é pouco atrativa em objetos, mas vale por ela mesma porque é uma antiga capelinha gótica. 
A cidade é muito simpática na sua parte antiga, com ruas estreitas, casas com telhados trabalhados, e uma limpeza impressionante nas ruas. Em uma delas havia uma casa bem antiga, da Idade Média, com esculturas em madeira. É tombada pelo patrimônio francês.
Voltei a Paris às 20h. Jantei e vim comer doces no quarto.
Hoje, 01.11.81, é meu último dia em Paris. Fiquei feliz em trocar minha passagem de volta ao Brasil por Roma, ao invés de Paris, como estava previsto, porque assim ganho mais tempo para viajar, visto que na volta eu teria que dormir novamente em Paris, até o próximo voo para São Paulo.
Passeei pela Avenida Foch até o Bois de Boulogne, vendo os antigos e ricos prédios aonde famosos como Onassis, Sofia Loren, Niarchos, Madame Sukarno, a ex imperatirz Farah Diba e outros têm moradia.
Entrei um pouco no parque Bois de Boulogne apenas para ter a sensação de "sentir" e ver alguma coisa, porque seu tamanho é enorme e levaria o dia todo. Caminhando até a Champs Elisée, após gostoso lanche, tive uma inspiração genial de ver a exposição “O Fausto do Gótico”, exposta no Grand Palais. Foi sensacional. Ocupando 3 andares, exibia imagens, retábulos, livros de horas e missais em pergaminhos trabalhados, mantos religiosos, tapeçarias, joias e marfins sacros. As peças eram de 1.300 a 1.400 e muitas foram emprestadas de museus como o Metropolitan, o British, o Louvre e outros. Estava muito bem montada, com iluminação perfeita e áudio visuais explicando o que se exibia. Até hoje, essas imagens em marfim dos séculos 13, 14, considero entre as mais sensacionais que vi, especialmente pela simplicidade e beleza de suas esculturas.
Saí do Museu e fui reservar minha passagem de trem para a Suíça. Como tinha tempo e estava próximo, voltei ao Louvre para me despedir da Vênus de Milo, da Vitória de Samotrácia e da Gioconda. Andei, após, pela Saint Honoré vendo outra vez o comércio chique e tomei um ônibus para o Hotel.
Despedi-me bem de Paris com esses dois museus.
Amanhã parto para Genebra.
Estou lendo a revista Paris Match para ver o que acontece com a Sofia Loren. Parece que o marido Carlo Ponti está mal.
Esqueci de comentar que a estação de metrô do Louvre é decorada com obras de arte de diferentes épocas. Me parecem verdadeiras porque estão protegidas em caixas de vidro.
Obs: nessa época (1981) era fácil entrar nos museus e ver o que se desejava. Anos mais tarde, é que ficou difícil entrar, esperando em longas filas, por causa da expansão do turismo).

domingo, 5 de junho de 2022

UMA ANTIGA VIAGEM PELA EUROPA EM 1981: PORTUGAL E ESPANHA -

Ao recordar este roteiro, quero esclarecer que esta viagem teve especificamente interesse cultural:  histórico e artístico. Queria conhecer palácios, monumentos, igrejas, fortalezas e tudo o mais que preencheu minha infância e adolescência por meio de estudos escolares, livros, fotos, filmes e relatos familiares sobre o continente europeu. 
Não tive pretensão alguma de fazer referências sociológicas comportamental sobre os povos, nem sobre sua economia ou sua política.


PORTUGAL
Com a cara e a coragem, um livro guia norte-americano, pesada bagagem e sem reserva de hotel pois ainda não existia Internet, embarquei em 4 de outubro de 1981 para a Europa, via Portugal, realizando um sonho que tinha desde a infância, o de conhecer muitos países. Pagando uma absurda taxa de depósito compulsório imposta pela ditadura militar da época para quem viajasse ao exterior, quase no valor de uma passagem, cheguei à noite ao aeroporto de Viracopos, perto de minha cidade de São Paulo, de onde partiam os voos internacionais. Ao entrar na pista escura me assustei com o tamanho do avião iluminado, parecendo um dinossauro, era um Boeing apelidado Jumbo, da Cia área brasileira Varig. Dentro, estranhei um espaço interno tão apertado para tão grande nave, mas enfim me acomodei e partimos “por ares nunca dantes navegados” por mim, parafraseando o poeta Luiz de Camões que no seu livro Os Lusíadas, inicia “Por mares nunca dantes navegados”. Paráfrases à parte, a viagem esteve boa até o final do jantar. Mas após tornou-se muito cansativa. Sem conseguir dormir, sem ler com a escuridão a bordo e sem poder assistir um filme porque na época ainda não havia esse conforto, não via a hora de chegar. E exatamente nessa hora tão aguardada, pela manhã, com o avião sobrevoando Lisboa, o jantar começou a demonstrar sinais de rebeldia, não sei se por ansiedade, por medo do desconhecido, precisei correr ao toillette e aliviar o estômago. Na saída, uma aeromoça indignada me repreendeu e um senhor me mandou sentar rapidamente em qualquer banco vazio e atar o cinto. Assim que o fiz, os pneus pousaram no chão e aterramos. Mais tarde esse senhor me explicou que no baque do avião ao chão eu poderia bater a cabeça no teto baixo ou ainda quebrar algum membro. Agradeci muito e fiquei pensando que só faltava eu entrar na Europa de ambulância. O aeroporto era pequeno e feio. Hoje sei que há um moderno e bonito. Na Alfândega tudo foi normal e me informaram sobre um ônibus especial chamado Linha Verde pelo qual paguei caros 50 escudos. Mas o trajeto foi enorme e fui conhecendo partes novas e antigas de Lisboa, passando por prédios cívicos e por monumentos como o de Luiz de Camões e do Marquês de Pombal, muito grandes e bonitos. Desci na praça São Carlos, no Rossio em frente ao teatro D.Maria (rainha de Portugal, mãe de D.João VI), que é uma construção enorme, muito maior do que faz supor os livros do escritor português Eça de Queiroz (do qual sou grande leitor). Atravessei para a praça da Figueira e fui em busca da rua João das Regras local do Hotel Portugal, indicado no livro-guia. Era um prédio antigo, bem conservado e subi por 4 altos andares, sem elevador, carregando a pesada mala até chegar ao quarto que ficava num adaptado sótão. Mas enfim, por 600 escudos, com banho e café da manhã, não dava para reclamar. Apesar de cansado, resolvi sair porque não ia poder dormir com a excitação de tudo conhecer. Com um mapa peguei o ônibus 43, de 2 andares, na praça da Figueira e fui conhecendo ruas como da Alfândega, do Comércio, dos Sapateiros, do Arsenal, todas com prédios antigos, até chegar a praça do Comércio, enorme, imponente, com um arco de entrada grande e bonito. É toda ladeada por construções do século 18, tendo em frente o porto do grande rio Tejo, de onde saíram todas as viagens portuguesas de exploração pelo mundo, do século 15 em diante. Saindo da praça fui andando pela avenida que acompanha o rio e que tem vários nomes: 24 de Julho, da Índia e Belém. Nela situam-se o Museu dos Coches, o Mosteiro dos Jerônimos, a Torre de Belém e o palácio Belém, presidencial. À exceção do palácio que possui construção comum, os outros são muito bonitos. O Museu dos Coches, antiga escola de equitação do século 18, contém uma exposição de carruagens, citadinas e seges para viagens, que nunca imaginei existir. São de construção italiana, espanhola e portuguesa, com esculturas externas e internamente revestidas de seda, brocados e pinturas de paisagens nos tetos. Pertenceram à realeza, a nobreza e ao clero. Continuando pela avenida, quis ver do outro lado da pista um grande monumento aos Descobrimentos com caravela e navegadores, todo em mármore, à beira do rio. A avenida tem duas largas pistas e ilha no meio. Quando comecei a atravessar, olhei para a esquerda, fui caminhando e comecei a ouvir uma insistente buzina pela direita. Quando olhei vinha um caminhão enfurecido na minha direção. Corri para a ilha do meio e só aí reparei que a avenida possuía mão de ida e vinda em cada pista. Achei um absurdo, mas quando lembrei que em São Paulo, aonde moro, certa época, havia ônibus elétrico que vinha em mão contrária à pista dos carros e que salvei uma senhora de ser atropelada, achei melhor não julgar. Vi o belo monumento e continuei na mesma calçada até a Torre de Belém, toda de mármore branco, esplendorosa no céu azul, também a beira do rio. Ela não é grande, mas muito bonita, quadrada, em estilo gótico. Fiquei apenas no andar térreo, admirando a vista e ao longe, alta ponte sobre o rio. Na volta, ao atravessar novamente para ir ver o Mosteiro dos Jerônimos, olhei muito bem para todos os lados. O Mosteiro mereceria um capítulo à parte. Tem esse nome por abrigar a Ordem de São Jerônimo. Sua construção foi iniciada pelo rei D.Manuel em 1503. A fachada é toda trabalhada em arabescos, folhas de acanto e demais ornamentos, esculpidos em pedra, num trabalho artesanal sensacional. Dentro, seus 3 andares internos possuem o mesmo trabalho nas colunas e nos arcos, ladeando um jardim. A igreja maior, dedicada a N.S. de Belém também em decoração gótica, mantém os elaborados túmulos em mármore do poeta Luiz de Camões e do navegador Vasco da Gama, descobridor do caminho para as Índias. Contente por ver tanta arte antiga voltei para o hotel, descansei e saí para jantar. Após, andei pela av. da Liberdade até a praça Marquês de Pombal. Nela há o monumento já referido do Marquês que foi 1º ministro do rei D. José, no século 18. Este despótico ministro ferrenho inimigo da Ordem religiosa dos Jesuítas os expulsou de Portugal e do Brasil pela influência política que exerciam. No entanto, foi bom político e o reconstrutor da cidade após o destruidor terremoto que Lisboa sofreu no século 18. Em frente à praça se estende um jardim grande e bonito. Na volta, pelos caminhos vi gente simpática, bem vestida, muitos jovens, entre vários prédios bem antigos. Passei pela estação Central de Trem com grande fachada e pesquisei os horários para Sintra e Queluz. Às 23 h. voltei para o hotel. Da janela vi a paisagem do Castelo de São Jorge, todo iluminado, pensando no dia intenso de novidades e arte que passei. Acordei cedo e fui para a Estação Central tomar o trem para Queluz. Foi uma viagem rápida passando por pequenas cidades da grande Lisboa. A cidade de Queluz é simpática, na parte antiga, e muito maior do que imaginava. Andei por umas vielas e gostei das placas das ruas, azulejos do século 19, com os nomes em molduras floridas encimadas por uma coroa real já que a cidade foi real. O palácio, por fora não impressionou porque entrei por uma ala lateral. Mas o achei bonito quando vi, dos jardins, a entrada principal, rococó, com estátuas na fachada. O interior é decorado em dourados, sedas, móveis luxuosos e quadros com histórias de reis e rainhas. Entre muitos, havia da Imperatriz Amélia e do imperador D.Pedro I, do Brasil. As salas mais bonitas foram a dos espelhos com o trono, a de música, a de azulejos e a dos embaixadores. O quarto aonde nasceu e morreu D.Pedro I é interessante por ser histórico para nós brasileiros. Os jardins grandes e bem tratados possuem várias estátuas e fontes. Uma ala antiga interna do palácio ainda é forrada de seda creme original do século 18. Fiquei um bom tempo admirando um artesão restaurar partes de uma decoração com folhas douradas. Voltei à estação e fui para Sintra. A cidade também é agradável, com casas muito típicas, altas e tetos tendo em volta madeira rendilhada como acabamento. Há muito verde e flores. Visitei o palácio Vila Real, uma construção em estilo gótico meio indefinido, com duas chaminés cônicas enormes e feias, que depois vi que pertenciam à cozinha. É muito histórico com passagens de reis famosos como D.João III e D.Sebastião. As salas mais atraentes, para mim, foram dos Cisnes, com pinturas dessa ave em prateado e do Conselho com enorme brasão real entalhado no teto e ainda nas paredes laterais os brasões das 25 famílias mais nobres do país. O único nome que encontrei da minha família foi Ribeiro. (Aliás, aqui no hotel só me chamam: - Ó seu Ribeiro). Depois de muitas salas, saí meio enjoado pelo odor de coisas velhas. E caminhei em direção ao palácio da Pena, subindo extensa colina. Mas valeu à pena. A construção, do século 19, tem estilos medieval, oriental e clássico, bastante misturados. Mas por dentro tem belos quartos de reis e rainhas, assim como os salões, sala de banquete e outras. Achei a mais interessante a sala de Saxe, em porcelana dessa cidade alemã, com azulejos em relevo com policromia. Na descida do palácio almocei uma fritada de ovos com batata e comi uma queijadinha em homenagem ao escritor Eça de Queiroz, que escreveu que as melhores queijadinhas de Portugal eram as de Sintra. Voltei a Lisboa com a fritada e a queijadinha resmungando. Comecei a ficar com dor de cabeça e coisa estranha, com um sono incontrolável. Resolvi não dormir e andar para espairecer. Aproveitei para ir visitar as ruínas medievais do castelo de São Jorge, uma espécie também de antiga fortaleza, por sua localização ao alto. Dele avista-se toda a cidade com suas partes antigas e modernas, muitos jardins e o rio Tejo, ao fundo. Nas ruínas, pavões, patos, cegonhas, passeiam entre os turistas. Na ida tomei um ônibus no Rossio, mas na volta, como era descida, vim a pé porque queria ver as atrações da parte baixa, especialmente a Catedral. A Sé de Lisboa é medieval e bastante sóbria, sem enfeites, exibindo o estilo gótico original e imponente. Perto fica o famoso bairro da Alfama, com suas vielas e becos cheios de casinhas amontoadas, muito floridas. E também as diversas tabernas com suas mesinhas. Um casal francês comentou que lembrava Montmartre, em Paris. Aliás, o que há de turista aqui em Portugal me espantou. Em todos os palácios, museus e restaurantes vê-se americanos, ingleses, alemães e outros. 
Na manhã seguinte, fui ao Estoril. Se não tivesse ido seria a mesma coisa. O Cassino é bonito, tem casas e prédios finos e praia pequena e feia. Aqui só interessa vir como milionário e usufruir seus prazeres. Apenas ver, é perder tempo. Ainda bem que é perto. Na volta, fui a Fundação Golbekian e gostei muito. Embora poucas, tem obras importantes de diferentes épocas especialmente inglesas e flamengas. É muito grande e moderno com as peças muito bem expostas, em iluminação especial. A ala de objetos art- nouveau expõe joias e trabalho em vidros, sensacionais dos grandes mestres Gallé, Lalique e Daum. Além do acervo, havia uma exposição temporária do escultor Henry Moore ocupando quase todo o museu e o jardim, aonde colocaram as maiores. A Fundação fica numa parte mais moderna da cidade no fim do parque Eduardo VII. Voltei ao Rossio para almoçar e apesar de ser tarde, tudo ainda estava cheio. Resolvi comprar um queijo, pão e doce e vim comê-los no hotel. O queijo era francês, de caixa, com o nome La Bonne Vache. Lembrei que ele me salvou algumas vezes em Nova Iorque.
Descansei e fui visitar o palácio real da Ajuda iniciado por D.João VI, no século 18/19 e terminado por D.Luiz, antepenúltimo rei português. É grande, imponente com suas salas e quartos suntuosos. Também nele há uma sala decorada com porcelana de Saxe, como em Sintra. Acho curioso importarem porcelana da Alemanha já que a indústria de azulejos em Portugal foi sempre tão prestigiada e espalhada pelo país e pelo Brasil Colônia. 
As salas do trono e de baile são belas, mas a mais deslumbrante foi a sala de banquetes com mesa posta para umas 100 pessoas, com porcelanas, pratarias e lustres de cristais belíssimos. Por todo o palácio há quadros da família real portuguesa e de outras realezas europeias unidas por casamento. Há um quadro muito simpático de D.Pedro II, jovem. Ainda hoje, o palácio é usado para cerimônias oficias.
Ao sair, um ônibus me deixou próximo ao Museu de Arte Antiga que possui quadros de várias épocas, desde medieval até o século 19, de pintores ingleses, italianos, flamengos e portugueses. 
O interessante desse prédio é que antes, foi o palácio das Janelas Verdes aonde morou a imperatriz Amélia do Brasil, viúva de D.Pedro I. D. Amélia de Leuchtemberg era filha do rei da Baviera. Tinha como irmã a princesa Josefina que, pelo casamento, tornou-se rainha da Suécia. Quando D.Amélia faleceu, sem outros herdeiros, tudo o que D.PedroI levou do Brasil para Portugal, quando se exilou (joias, pratarias, quadros e móveis) que estava sob a guarda de D.Amélia, foi herdada por sua irmã na Suécia. Assim, hoje, a baixela de prata dourada usada pela casa real da Suécia é brasileira, com as armas do império do Brasil. E o curioso é que a atual rainha da Suécia é a rainha Silvia, nascida no Brasil.
Voltei ao hotel, descansei e saí para jantar. Dei uma volta de despedida, pois amanhã cedo deixo Lisboa, visitando, na parte alta da cidade, o café A Brasileira, do início do século 20, famoso por sua decoração de cristais e espelhos e por ser lugar de frequência constante do escritor Fernando Pessoa, cuja estátua em bronze, tomando café foi ali recém colocada (1980). Senti não ir a Coimbra, conhecer a cidade universitária dos estudantes de capa preta. Porém como soube que a biblioteca da universidade estava em reformas e ela era o que mais me interessava ver, toda decorada com o ouro brasileiro do século 18, desisti. Afinal, como já afirmei, é impossível ver tudo.
Em tempo: a morte do presidente Sadat, do Egito, me chocou bastante. Por total acaso o vi, de longe, em Nova Iorque, em 1977, quando esteve participando de uma conferência na ONU. Fui ao hotel Waldorf Astoria e ele estava ali chegando, num esquema policial fortíssimo, com jornalistas, câmeras de televisão e populares. É estranho como quem quer estabelecer a paz sempre acaba assassinado.
No dia seguinte, embarquei, pensando como o povo português me deixou a impressão de ordeiro, a cidade limpa, o trânsito calmo e sem pobre pelas ruas.

ESPANHA
Cheguei a Madri às 12h. No trajeto do aeroporto ao Centro, admirei prédios periféricos muito modernos. Numa primeira impressão a cidade me pareceu grande e com bastante espaços verdes.
Hospedei-me no Hotel Sevilha, na Gran Via, nº 44. O quarto era pequeno, confortável, com banho e café da manhã por 780 pesetas por dia. Depois de me instalar, logo saí para me aventurar pelas ruas. As avenidas são largas e arborizadas. E os prédios, antigos e luxuosos, exibem esculturas, mármores e bronzes de cima a baixo. O estilo pode ser confuso, mas o conjunto tem um efeito bonito. As pessoas me pareceram mais tradicionais no vestir que Lisboa. Passei por várias praças com monumentos e fontes muito ornamentados, exagerando um pouco nos estilos plateresco e rococó.
A 1ª visita importante foi conhecer o palácio real.
Se ontem admirei tanto o palácio da Ajuda em Lisboa, hoje nem sei o que dizer deste. É enorme, com duas mil salas. Visitamos 45 delas, com o guia explicando. Como sempre, as mais bonitas são a de baile, do trono e de banquetes. Mas a mais interessante foi a sala Gasparini, tendo o nome desse artista italiano por ter sido decorada por ele inteiramente de azulejos com desenhos em relevo, principalmente florais, esplendorosos, num efeito formidável. A porcelana aqui utilizada é espanhola, do século 18/19, da antiga fábrica do Retiro.
O palácio é tão grande, tão suntuoso, com pinturas nos tetos, nas grandes escadarias e nos quadros das enormes paredes, com objetos de decoração, coleção de relógios antigos, de armas, móveis magníficos, imensos lustres de cristal, que senti estar sozinho, sem alguém para repartir meu entusiasmo. A capela, que é enorme, foi (até agora, pois não sei o que ainda virá pela frente) a igreja mais esplêndida que vi. Na saída, em frente ao palácio, estranhei ver a fachada de uma grande igreja, mas só ela, sem construção atrás. Já escurecendo, resolvi jantar e assimilar tanta arte e beleza. Fiquei assustado com os preços. Qualquer sanduíche custava 200 pesetas. Os hotéis são mais baratos e melhores que Lisboa, mas a alimentação é bem mais cara. Voltei ao hotel para me trocar e saí outra vez para ver a noite.  Achei formidável a animação e o número de pessoas nas ruas. Sem sono, apesar de cansado, fui ao cinema, na sessão das 22h. Isso porque estava passando o Filme The Mirror’s Crack, com a Elisabeth Taylor, Kim Novak e Rock Hudson. Queria ver a atuação conjunta das duas “stars”. O filme é fraco e dublado para o espanhol. A sessão de cinema foi um show à parte. Um cine teatro com cadeiras numeradas, lanterninha fardado e pessoas bem arrumadas. Foi exatamente como era São Paulo na década de 50. Houve intervalo entre o telejornal e o filme. As pessoas conversavam durante a sessão o que me espantou, ante o silêncio das plateias em São Paulo. Voltei ao hotel à meia noite e as ruas continuavam repletas de gente, inclusive crianças. 
Pela manhã, desci a Gran Via para conhecer a praça de Espanha com grandioso monumento, em bronze, do escritor Miguel de Cervantes, tendo embaixo, pequenas esculturas de D.Quixote e do Sancho Panza. Depois fui ali perto, ao templo Dubod, constituído por pequenas ruínas egípcias doadas pelo governo do Egito porque a Espanha contribuiu para salvar os templos egípcios, transportados para outro lugar, pois seriam alagados pela construção da represa de Assuam. Outros países também deram sua contribuição.
Continuando, fui até o palácio Liria, moradia da atual Duquesa D’Alba, porque há dias de visitas ao enorme acervo de arte. Mas estava fechado. Teve parte de sua construção destruída (e reconstruída) na guerra civil, nos anos 30. Tudo isso atravessando avenidas e parques. Madri é um imenso jardim. Atravessei a ponte Segóvia, sobre o rio Manzanares até o Paseo de la Florida, com as duas igrejas iguais, a de Santo Antonio e a do Panteão do pintor Goya. Nesta última, além do túmulo do pintor, há as célebres pinturas no teto que na época causaram escândalo porque o artista, ao invés de pintar os santos entre os nobres nas laterais do teto, como encomendado, os pintou entre os pobres. As pinturas são emocionantes por elas mesmas, por eu imaginar o pintor ali trabalhando e por lembrar do filme que assisti, quando criança, no qual a atriz norte-americana Ava Gardner, no papel de duquesa D’Alba, no filme A Vida de Goya, entra na igreja e ri da audácia do pintor. Da igreja fui pela Porta de Toledo em direção a Plaza Mayor. Antes passei pela Catedral de San Isidro, igreja antiga em estilo monumental, como tudo é aqui. Em cima do altar, após metros de ornamentos, há um caixão de prata com pequena abertura de vidro, no qual se conserva o corpo do Santo. Felizmente não se vê nada.
Sempre achei um absurdo essa ideia mórbida da Igreja Católica. Não sei porque os Departamentos Sanitários permitem. E já que estou criticando, o que tenho visto de prata e ouro como coroas, ostensórios, candelabros, resplendores nas igrejas acho que daria para acabar com muita pobreza do país.
Cheguei à Plaza Mayor e a achei curiosa. É toda fechada pela mesma e contínua construção antiga, com vários arcos para passagem. Havia uma feira de livros e estava muito cheia com bares e restaurantes, cadeiras ao ar livre e músicas tocando. Numa noite de sábado essa praça deve ser um delicioso carnaval. Passei depois por um castelinho do século 18, cheio de guardas. Era o Ajuntamento Militar. Em frente havia um protesto de estudantes com faixas e cartazes: “Ayuntamiento no nos venda”. Era uma demonstração pacífica contra a entrada da Espanha na Otan. (Hoje, com a loucura do Putin e a invasão da Ucrânia, aqueles antigos estudantes devem dar graças a Deus)
Pela Calle Mayor fui até o palácio dos Deputados. Fica na praça das Cortes e é imponente. Na mesma região ficam hotéis caros como o Ritz e o Palace, bem conservados e luxuosos. Queria estar num deles. Atravessei a praça da fonte de Netuno e finalmente cheguei ao Museu do Prado, a outra importante visita do meu roteiro. Também ele se situa entre jardins e ao entrar fui direto para uma lanchonete me alimentar.
O Museu, não há dúvida, está entre os mais importantes da Europa. Também tem obras desde a Idade Média até o século 19. Exibe pinturas preciosas como dos italianos Fra Angélico, Rafael, Veronese, Boticelli, Ticiano; flamengos como Bosch, Van Dick, Van Eik e muitos espanhóis como Rubens, Murillo, Zurbarán. Mas as atrações espanholas principais são Velasques e Goya. Nas salas de Velasques, entre vários quadros como Los Borrachos, Las Lanzas, o Duque de Olivares, além de retratos de reis e rainhas, há o célebre Las Niñas, obra monumental em tamanho e arte, que até a atualidade encanta pela instigante composição e interpretação de suas cenas. O Prado possui ainda pequena, mas boa ala de arte greco-romana. Ao sair, o dia ainda claro me animou a ir até o Parque El Retiro, o maior e principal da cidade, com muitos jardins, estátuas e grande lago, exibindo ao fundo, um monumento ao rei Afonso XIII. Sentei, vendo as pessoas e os barcos no lago. Saí pela Porta del Sol e na praça das Cibeles tomei um autobus para a Gran Via. Desci tarde, às 21h30, para jantar e tudo estava muito cheio. Depois dos cheeseburguers, voltei pelas ruas atrás do hotel e descobri mais uma igreja, a da Buena Dicha, com uma imagem sensacional na entrada, uma N. Senhora de madeira, provavelmente do século 17, tendo uns 150 cm. que em seu manto abriga pequenas esculturas de mulheres, homens e crianças. Também deparei com um cine teatro moderno que apresentava a peça Bodas de Sangue, do poeta Garcia Lorca, dirigida pelo cineasta Carlos Saura. Infelizmente, aquela noite tinha sido a última representação. Lamentei perder.

O muito que vejo não é só feito andando. Tomo muito ônibus e os lugares que vou ou estão no meu roteiro ou no do livro-guia, além dos que descubro por acaso, ao passar em frente. 
Tenho falado tão bem de Madri que parece que não tem partes feias. É claro que tem. Porém, as partes importantes são luxuosas e bem cuidadas.

Hoje estive em Toledo e achei emocionante.
Logo que entrei pela porta de antiga muralha, me arrepiei. 
A cidade se iniciou por volta de 1.180 e é das mais antigas da Europa, em conservação. Toda de altos e baixos, com ruas estreitíssimas, em muito poucas passam carros. Bastante destruída na guerra civil espanhola, felizmente teve os monumentos principais poupados.
Ao avistar a catedral fiquei realmente maravilhado com sua estrutura gótica, sua alta torre, seus vitrais e o tamanho de suas portas. Construída a partir do século XIII, tem 25 capelas, além do Altar principal e do Coro. Estranhei, ao entrar, não ter visão total do espaço interno porque cerca de 20 metros antes do Altar situa-se o Coro, com inúmeras pequenas cadeiras do lado esquerdo e do direito, para sentarem os eclesiásticos que acompanhavam as cerimônias. Dessa maneira, o espaço para o público fica mais reduzido que o das igrejas tradicionais.
Tanto o Altar quanto o Coro, com suas cadeiras e coberturas, são decorados por centenas de imagens ou cenas religiosas, numa grande profusão de entalhes esculpidos na madeira. Assim também são os altares laterais e as paredes de mármore. O que forma um conjunto admirável de esculturas.
O Altar principal é todo policromado em ouro velho e tem atrás um enorme painel de madeira, de vários metros de altura, com centenas de santos esculpidos quase até o teto. 
Os vitrais coloridos, com a luz, formam um gigantesco caleidoscópio.
Além da beleza em si mesma, a catedral inclui as atrações:
- sala do tesouro com peças dos séculos VII e VIII, especialmente um nicho contendo um pequeno altar em prata dourada com um ostensório em ouro cravejados de pérolas, rubis, esmeraldas e diamantes não lapidados;
- sala do Capítulo aonde o cardeal, demais prelados e padres se reuniam. O teto é decorado em dourado e tem pinturas em estilo românico e gótico e móveis e trono cardinalício do século XIV;
- Capela dos Reis, trabalhada em madeira policromada e pinturas de santos;
- Sacristia, com móveis enormes e um afresco belíssimo da Assunção da Virgem aos Céus, da Idade Média.
A Sacristia é também um pequeno museu com peças doadas à Igreja tais como a coroa e espada do rei Sancho IV (a coroa é bem rústica apesar do ouro e das pedras preciosas). Exibe capas de cerimônias religiosas bordadas em fios de ouro e prata e uma preciosa coleção de quadros sacros de pintores como El Greco, Velasques, Ticiano, Goya e outros. Num armário de canto há 4 grandes globos terrestres, em prata, sustentados por animais e com deusas e ninfas em cima, adornando. Representam os 4 continentes até então conhecidos Europa, Ásia, África e América.
Uma atração diferente foi ver a imagem da Virgem Maria, na parede atrás do altar mor. Está num grande oratório, do período barroco, envolto por esculturas de anjos e santos, do chão ao teto. É iluminada pelo sol, conforme o horário, por um óculo de vidro, no teto, dando um efeito especial.
Subi a torre por estreita escada em caracol. Um turista italiano comentou que só faltava Quasímodo, personagem sacristão do livro O Corcunda de Notre Dame, de Vitor Hugo. De cima, além de toda a cidade, avista-se o teto da igreja em arcos e colunatas góticas.

Deixei a Igreja meio tonto de tanta história e arte. Aliás, no momento nem dá para apreender a sua total importância. 
Andei até o Alcazar, um palácio-fortaleza, que apesar de ser construído por Felipe II, atualmente é mais um museu sobre a guerra civil da década de 30. Não entrei porque não quis estragar a impressão da catedral com esse tema sem interesse para mim.
Fiz um lanche num barzinho bem moderno, dentro de uma casa bem antiga. Como a vida não pode parar, parece contraditório ver motos, vitrines comerciais, som de música pop num local tão antigo. O Toledano é extremamente informativo e gentil. Assim, cheguei ao museu e casa de El Greco. São interessantes. Mas a obra mais famosa do pintor “ O Enterro do Conde de Orgaz” fica na igreja de São Tomé. Fiquei um bom tempo contemplando. Saindo, passei em frente à igreja de San Jerônimo de los Reys. Entrei por estar em frente e que bom que entrei. Ela é toda do período mais rebuscado do estilo gótico, em mármore, num efeito esplêndido. Tanto o claustro, como os corredores, colunas e arcos de sustentação são de mármore trabalhados em recortes rendados e folhas de acanto. Na igreja as imagens, do século XVI, são policromadas em ouro e demais cores. Em um altar lateral, fiquei muito contente ao ver uma imagem de N. Senhora da Conceição muito semelhante a uma que possuo, em escala bem menor, o que, para mim, pode confirmar a antiguidade da minha.
Passei pela Sinagoga Judia e por pequena Mesquita. As duas estavam fechadas. É interessante como a cidade retrata a profusão de povos e religiões que teve nos séculos passados. 
Escurecendo, dei um passeio final, já saudoso, pelas vielas e embarquei no ônibus para Madri.
Hoje, pela manhã, todos os meus planos burocráticos deram errados. Pretendia ir ao Ofício de Turismo para pegar folhetos sobre Sevilha, Córdoba e Granada; pretendia trocar dólares; pretendia por cartões no Correio e pretendia reservar minha passagem aérea para Barcelona. Deixei a 2ª. Feira para isso quando tive a desagradável surpresa de saber que era feriado nacional e tudo estava fechado.
Resolvi então adiantar minha visita ao palácio do Escorial que fica a uma hora de Madri. Na estação Atocha tomei um trem moderno, elétrico, tipo metrô, mas que foi muito devagar por reparos na linha e parar em várias estações. Contudo a paisagem era tão bonita com os campos já outonados, as árvores oliveiras ainda verdes, num céu anil, que não me incomodei. Cheguei a cidade de El Escorial que nem sabia que existia. Pensei que, com esse nome, só houvesse o palácio. Ela é bem comum.
Porém, o palácio é espetacular. A construção, a maior que o rei Felipe II edificou, lembra mais um mosteiro. Como atrações principais tem no interior uma igreja enorme tanto em tamanho como em altura, com as abóbodas e galerias pintadas com cenas religiosas. O altar principal encaixa-se num vertical conjunto arquitetônico em madeira esculpida, com imagens em diferentes níveis, como andares.( Um pouco semelhante à Toledo).
As imagens de baixo têm tamanho natural. À medida que vão subindo, o tamanho vai aumentando para corrigir a perspectiva. Assim, as últimas, muito no alto, têm quase o dobro do tamanho das primeiras, na parte de baixo, mas parecem ter a mesma altura. Apesar de muito mármore colorido e bronze dourado a igreja é sóbria, no estilo renascença, sem adornos exagerados. Em galerias, de cada lado do altar, estão os famosos grupos escultóricos, tão divulgados nos livros de arte: de um lado, Felipe II, sua mulher e filhas rezando em genuflexórios. Do outro, Carlos V, sua mulher, filhas e irmãs, também rezando em genuflexórios. Essas esculturas em bronze dourado formam um grupo belíssimo.
Os apartamentos reais têm o gosto de decoração conforme os reis que os habitaram. Os de Felipe II, primeiro rei a habitá-lo, têm salas pequenas, sem ostentação, com cama e baldaquim simples, armários para as vestimentas escuras que usava e escritório.
Na sua austeridade excessiva, quase monástica, era fervorosamente católico e impunha sobriedade em toda a corte. A sala com seu trono foi a mais despojada que vi. Apesar de enorme e com tapeçarias exibindo mapas de todos os seus domínios, o trono é um banco em X, com uma almofada bordada.
Esse rei, foi o mais poderoso de sua época. Em razão de conquistas e casamentos familiares, seu império incluía grande parte das Américas, inclusive o Brasil (por 60 anos), partes da África e da Ásia e na Europa: Portugal, Espanha, Alemanha e Áustria.

Foi o maior rival de Elisabeth I, da Inglaterra e seu grande erro foi tentar invadir essa ilha britânica com a “invencível armada” de centenas de navios, cuja maior parte naufragou no canal da Mancha durante uma tempestade, obrigando-os a voltar. 
Os outros reis que foram morar no Escorial, tanto os Habsburgos, da Áustria, quanto os Boubons, da Itália e Espanha (pelo direito de sucessão por linhagem nos casamentos realizados) escolheram outras alas do palácio para morar, que foram mobiliando com móveis, quadros, tapeçarias, espelhos, lustres e outros adornos bonitos. Os objetos de decoração são demonstrações de arte admiráveis. Entre tantos, destaca-se a coleção de relógios, numa elaboração impressionante de tipos e formatos. Num deles, uma borboleta dourada ao voar faz o mecanismo andar.
A sala de armas apresenta coleção desde a baixa idade média até o século 18. Há uma pintura de batalha, em toda uma grande ala, que dizem estarem retratados quase um milhão de pessoas. Não contei, por isso não posso confirmar.
A biblioteca ocupa quase todo um andar, com móveis enormes, muito enfeitados em marchetaria e bronzes, livros raros contendo iluminuras pintadas à mão e douradas por lâminas de ouro, globos terrestres da época (faltando países não descobertos), penas para escrever e tinteiros os mais diferentes, pertencentes aos reis e um de Santa Tereza d’Avila. Além, é claro, das extensas estantes com livros de várias partes do mundo, inclusive muitos árabes, talvez pelo grande tempo que dominaram partes da Espanha.
Por todas as salas e em um museu existente dentro do palácio, vê-se quadros religiosos e retratos feitos por todos os pintores importantes daquela época: espanhóis, flamengos e italianos.
Uma das salas mais impressionantes pelo seu luxo é a do Panteão dos Reis, numa ampla cripta. Desci por uma escada, com chão, paredes e tetos revestidos de mármore cinza e rosa, que vai dar numa sala oval também em mármore rosado, com prateleiras de urnas funerárias de mármore cinza e placas de bronze dourado com o nome de todos os reis e rainhas que ali estão. Desde Carlos V e Felipe II até os do século 20.
Pode parecer tétrico, mas é tão luxuosa que nem parece cripta. Restam apenas 3 espaços vazios. O que será que os atuais reis da Espanha pensam disso? Ao sair dali passa-se por outras dezenas de jazigos de parentes reais sem maior interesse a não ser o de D.Juan D’Áustria, irmão natural de Felipe II, que se destacou e morreu em batalha, como herói. Seu jazigo é trabalhado em mármore, com insígnias, armadura e luvas e seu corpo estendido em cima, esculpido no mármore.
O Escorial é tão grande que mesmo com guia apressando e explicando tudo levamos 3 horas para ver apenas as partes importantes abertas ao público.

Peguei o trem de volta e cheguei em Madri as 20h. Vou dormir cedo porque amanhã parto para o sul. Levarei só a mala pequena. 
A maior, combinei deixar aqui no hotel visto que volto daqui a 5 dias. Espero que dê certo.
Obs: tenho gasto a média de 40 dólares por dia prevista, que inclui hotel, passeios e parcas refeições.

Deixei Madri às 8h, pegando o ônibus da Julia Tour. Passamos por Aranjuez (mon amour) e deu para ver a fachada do castelo. Entramos na região da Mancha, sob um céu azul, aonde alguns poucos moinhos mantêm o clima histórico. Paramos em uma taverna em D.José Seren de la Fuente e a guia disse que nela o escritor Miguel de Cervantes se inspirou para escrever o livro D.Quixote de la Mancha. Achei o comentário feito para turistas, mas lá dentro vi que era verdade pois placas do Ministério da Cultura Espanhol confirmavam. Ela está restaurada, tem diversos pátios, alojamentos e sala rústica de alimentação. Prosseguimos viagem com o céu mais azul e o calor aumentando, passando por lugares curiosos como Despeña Perros (Joga cachorros), aonde os árabes jogavam os cristãos (perros) num abismo. Almoçamos em Bailen, cidade aonde, em 1808, um general espanhol derrotou o marechal Murat, do exército invasor de Napoleão. Em seguida vimos a cidade de Ajen, onde a catedral católica é uma antiga mesquita árabe. 

GRANADA
Chegamos ao entardecer. Minha primeira impressão da cidade foi decepcionante. É comum, feia e precisando de uma boa chuva para acabar com a poeira. Parece que o Outono aqui é assim. O rio, completamente seco, deve ser grande porque as pontes são compridas.
Depois de me hospedar no hotel Los Angeles, que é bom, perguntei pela Catedral e capela real e fui seguindo. Entrei numa igreja do século 18, N.S. das Angústias e fiquei abismado com o luxo interior. É do estilo rococó, com muito dourado, mármores e belas imagens, principalmente N.S. das Angústias no altar, com uma coroa de ouro cheia de pedrarias. Andando e a noite caindo, o que diminuiu o calor, fui até a Catedral que por fora é grande, majestosa, bem medieval e a Capela Real que também por fora é muito bonita, toda gótica e com trepadeiras floridas. As duas  são do século 15 e lamentei estarem fechadas. Vou ter que voltar. Foi gostoso andar pela parte central antiga, tão mais interessante que a entrada nova e feia da cidade.
Hoje pela manhã me reconciliei com Granada. Fomos ao palácio do Alhambra, que é belíssimo. As paredes das grandiosas salas são todas decoradas em arabescos, letras do Alcorão e figuras, num trabalho filigranado inacreditável, de arte. (Eu percebo que estou elogiando demais o que vejo, mas tudo merece ser elogiado).
O Alhambra foi construído por volta de 1.300, durante a dominação árabe, no sul do país. Além da beleza e riqueza, inclusive com tetos de ébano e incrustações de marfim, o que me impressionou foi a criação arquitetônica. Numa terra muito quente, possui lagos tanto na entrada, um maior ladeado por leões de pedra, quanto menores internos. As salas têm temperatura agradável porque são altas e entre as paredes e o teto há um trabalho rendilhado vazado para circular o ar e não concentrar calor. E ali colocavam perfumes cujo aroma se espalhava. As salas de banho continham saunas, com brasas abaixo do chão perfurado e teto com várias aberturas em forma de pequenas estrelas para a evaporação. Achei o palácio sensacional.
Depois fomos andar pelos chamados jardins do Generalife, do próprio palácio, recuperado conforme as antigas plantas árabes. Não é tão bonito como vegetação mas suas inúmeras fontes e os jatos d'água dão a sensação de frescor pretendida. A Andaluzia, no verão, tem temperatura de até 45º. Nesses jardins o compositor espanhol Manoel de Falla se inspirou para sua música Noites nos Jardins do Alhambra. Como estava em excursão turística fui aprendendo com a explicação da guia.
Voltamos ao Hotel para almoçar mas como havia uma parada turística para compras que não me interessava, aproveitei para ir conhecer a Capela Real e a Catedral, agora abertas.
A capela real é gótica, pequena e de muito bom gosto na decoração, sem exageros e com imagens dos século 15 a 18. 
Tem altas portas de ferro trabalhado fechando o altar que contém no centro os altos jazigos da rainha Isabel e do rei Fernando, de Castela (que propiciaram a descoberta da América financiando a viagem de Colombo às Índias). Os jazigos em mármore são muito trabalhados, com várias pequenas esculturas e a escultura maior do corpo da rainha em um e a do rei no outro, deitados em cima. 
O interessante é que estão vazios e são só enfeites. Os reis estão enterrados na cripta, em simples caixões de chumbo com coroas, como desejavam.
Já a Catedral é monumental, toda em mármore branco, de estilo gótico e renascentista, com altares laterais, portas e colunas elaboradas. No local do altar também há o enorme painel em madeira com esculturas de imagens em "andares" até o teto, como nas outras igrejas comentadas. Este, no entanto, possui, no centro, sob um baldaquim, um pequeno altar em prata maciça pesando cerca de 500 quilos, conforme li no folheto guia.
O que ainda chama atenção são os dois elaborados órgãos rococó, em metal dourado, um em frente ao outro.
A Sacristia é grande e nela é exposta uma imagem policromada, pequena e bem conservada de N.S. da Conceição, esculpida por Alonso Cano, famoso santeiro espanhol do século 17. 
Há um museu no qual quadros sacros dos pintores famosos e capas em ouro e prata se expõem. 
Saímos de Granada à tarde, via Antequera e Ossuna.
Pelos caminhos vê-se ruínas de palácios, de muralhas e de plantações de oliveiras num chão quase areial. Dava para ver pés carregados de azeitonas.

SEVILHA
Chegamos na cidade por volta das 20 h. Como o motorista não encontrava a rua do hotel demos várias voltas pela cidade o que já deu para ter uma primeira impressão ... desfavorável. Vi uma mistura de construções comuns, velhas e novas, mais feias que bonitas entre portas antigas e restos de muralhas.
Após nos instalarmos, a guia combinou um tour a um bar com danças flamengas. Além de caro, não achei muita graça no show espalhafatoso e repetitivo, embora tenha gostado das músicas.
Na volta ao hotel,  um sino batia meia-noite. É meu aniversário, pela primeira vez em solo estrangeiro.
Pela manhã, também me reconciliei com Sevilha. A cidade tem lugares tão interessantes que é impossível não gostar 
O primeiro passeio foi no jardim Maria Luisa, uma princesa castellana que doou seu palácio San Telmo à Igreja e o extenso jardim à municipalidade. Em 1929, houve nele uma feira mundial de países, cada qual construindo o seu pavilhão. Ainda hoje existem.O da Espanha, como anfritiã, é o maior e mais rebuscado e deu nome à atual Praça de Espanha. Também há a praça América, local do pavilhão dos Estados Unidos, que se tornou, hoje, o Museu de Arqueologia. No Tour pela cidade, vimos a fábrica de tabaco, do século 18 aonde trabalhou a Carmem que originou a ópera de Bizet ( me parece comentário para turista).
Fomos à igreja de N.S. de Macarena cuja imagem tem um curioso rosto que do lado esquerdo está chorando, do lado direito está sorrindo e de frente tem um ar de piedade.
Após, nos dirigimos ao Alcazar de Sevilha, palácio mouro do século 14. É parecido com o Alhambra mas está mais alterado pois os reis católicos que o conquistaram o adotaram como moradia.
Também tem salas com paredes trabalhadas em letras e arabescos
de cima a baixo, portas e tetos com incrustações e rendilhados. Em diversos lugares vê-se as alterações feitas pelos vários reis católicos que o habitaram. Seus jardins são grandes e bonitos.
Saindo do Alcazar já se entra no bairro de Santa Cruz, o mais antigo da cidade, aonde morou o pintor Murillo e aonde o barbeiro de Sevilha tinha sua barbearia.(será?). Também o célebre sedutor D.Juan o habitou e há uma estátua em sua homenagem.
As ruas são muito estreitas, às vezes 1 metro de largura, com casas de 4 ou 5 andares, cheias de flores. Em compensação na parte interna as casas têm pátios grandes e floridos como vimos em algumas delas abertas. Nesse labirinto encontram-se pequenas praças, igrejas e casas históricas de personalidades sevilhanas.
Saindo do bairro chegamos à Catedral, do século 14, construída no lugar de uma antiga mesquita. Ela é belíssima, gótica e parece que é a 3a.do mundo em tamanho. Lembra a de Toledo tendo o Coro na frente do Altar principal e por sua vez também tem atrás enorme construção em madeira com "andares" de imagens até o teto. A decoração vai do estilo gótico ao barroco, com muita douração. Assim como nos altares laterais.
Nela há jazigos de alguns reis de Castela e também o de Cristóvão Colombo, descobridor da América, que é segurado por 4 estátuas de cavaleiros, em ferro, simbolizando os 4 reinos espanhóis: Leão, Astúrias, Castela e Aragão. Há ainda a Capela real, mais no estilo renascença e barroco, que possui um altar de prata no qual está enterrado o rei espanhol São Fernando. E a Sala do Tesouro, com pequenos altares de prata, coroas e cruzes de ouro com pedras preciosas.
Almoçamos no hotel e eu fui ver a Torre do Ouro, do século 13, às margens do rio Gualdaquivir, onde se guardavam as preciosidades. Hoje é um museu de documentos. Andei pela praça dos Touros, muito antiga e voltei à Catedral porque quis subir na torre e avistar toda a cidade. Sua construção era um minarete árabe que foi aumentada para dar um aspecto cristão. De cima, Sevilha parece um pouco oriental. Vê-se aqui muitas mulheres de Tanger e Marrocos, com vestidos compridos e rosto coberto.
Para comemorar meu aniversário, fui jantar num restaurante típico do bairro de Santa Cruz, comendo paella sevilhana e vendo a torre da Catedral iluminada pela Lua, num céu límpido.
Voltei pelas ruas, escutando sons de flamengo e castanholas.
No dia seguinte, saímos de Sevilha bem cedo com destino a Córdoba, passando por  Carmona, cidade da época romana, inclusive com anfiteatro do século II Antes de Cristo (B.C.) e pela cidade de Eceiza, do século 15, com 7 torres algumas com igreja outras sem, e diz-se que numa delas, um rei andaluz escondia seu tesouro.

CÓRDOBA
Chegamos a Córdoba pela parte antiga passando por uma ponte e por um arco de glorificação romanos. O Arco é grande mas está bem abaixo do solo atual da cidade. E fomos visitar a Mesquita que é muito curiosa. Em 900 D.C. (A.C.) foi construída a 1a.parte e pelas décadas seguintes seguiu sendo aumentada. O que mais impressiona é o seu tamanho. As colunas de sustentáculo, anteriormente 1.013 e atualmente por volta de 800 dão a ideia de sua dimensão. Um lugar de destaque, da fase árabe, é um nicho voltado para a Meca, aonde mantinham o Alcorão. Trabalhado em pequenos mosaicos vitrificados coloridos, quase transparentes, emitem uma luz suave, muito bonita, própria ao recolhimento para uma oração. Assim também é o teto que intercala mosaicos coloridos com mosaicos dourados fazendo parecer um local dos contos de Mil e Uma noites.
Com a expulsão dos árabes, a Igreja Católica construiu uma Catedral interna, no centro da Mesquita, que também é muito bonita. No estilo de manter o Coro em frente ao Altar é como as demais catedrais já descritas, sempre com imagens e trabalhos de entalhes belíssimos. Seu estilo é renascentista com acabamentos barrocos. Também tem 25 altares laterais, uma capela real feita por artesãos mouros para os reis católicos, luxuosa sacristia e a sala do tesouro com muitas peças de ouro e prata. Isto está ficando muito repetitivo mas é assim que todas são. 
Depois da Mesquita fomos ao bairro judeu visitar a Sinagoga, grande e bastante decorada, local aonde Spinoza e outros filósofos discursavam. Por falar nisso, em Córdoba nasceram Sêneca e Porceus. Almoçamos no restaurante El Caballo Rojo, muito simpático e deixamos a cidade pela parte moderna, grande e cheia de atividade. Pela mesma região da Mancha voltamos a Madri, lá pelas 21h, passando pelo Museu do Prado, pelas fontes de Netuno e Apolo até a Praça Cibeles, todos muito iluminados.
Madri é bem bonita na sua fachada principal.
Gostei muito de conhecer a Andaluzia, mas ela é muito seca. Para se ter uma ideia, a Serra Nevada não tinha neve alguma.
obs: Soube mais tarde que a Andaluzia, nesse ano, teve uma das     piores secas de sua história.

BARCELONA
Deixei Madri às 10 h. por avião, rumo a Barcelona, chegando uma hora depois. Me instalei no Hotel del Mar. O lugar e o hotel, à primeira vista, quase me fizeram desistir. Só prédios feios, à exceção do palácio governamental, que é próximo. O prédio do hotel bem velho, por dentro é moderno e super limpo. Bem que o livro-guia diz para, na Europa, não se deixar enganar pelo aspecto externo dos hotéis.
Barcelona é muito grande. Do aeroporto peguei um trem especial até uma estação de metrô e troquei 3 vezes de linha para chegar a Plaza del Palácio (governamental) local do hotel.
A pronúncia da língua espanhola aqui é muito diferente, parecendo uma mistura de espanhol e francês. Palácio se escreve Palau, praça: Pau, calle: Correr e assim por diante.
Depois de me instalar, lá pelas 13h, de mapa na mão, como nas cidades anteriores, saí para explorar o bairro gótico, que é bem perto e muito interessante, com ruas estreitas, casas escuras e antigas. É um lugar maltratado urbanisticamente mas nele vê-se muitas ruínas de muralhas, portal, antigas colunas e restos de estátuas da época romana. Totalmente exprimida entre essas ruas situa-se, numa praça pequena, a grande e imponente Catedral, em estilo gótico, iniciada no ano 1.100, com fachada muito elaborada de recortes góticos, pequenas colunas embutidas, muitas estátuas e janelas com vitrais coloridos. É repleta de torres, sendo a central, bastante alta. Achei muito bonita. Seu estilo é o mesmo: ter o Coro em frente ao Altar. Nela se reunia a ordem medieval dos Cavaleiros do Tosão de Ouro e na cripta há um jazigo de mármore com o corpo de Santa Eulália, padroeira da cidade. Também tem muitas capelas interiores cheias de imagens.
Saindo da Catedral, passei por vários ex-palácios de nobres de Barcelona, todos contendo, hoje, um tipo de museu. Um é o arquivo da Coroa de Aragão, outro arquivo sobre a Inquisição e assim por diante. Andando pelas ruas estreitas e me informando com as pessoas cheguei ao Museu Picasso, instalado num desses palácios e que ainda continha salas com paredes de seda, mármores, espelhos e cristais. Do pintor há um bom acervo de telas à óleo e grande coleção de gravuras eróticas. Admirei a famosa tela Dama de Andaluzia, as variações à oleo, que o pintor fez sobre o quadro Las Niñas, de Velasques.
Quis telefonar para minha mãe e cumprimentar pelo seu aniversário. Para isso precisei ir até a central telefônica na Plaza de Catalunha que é enorme e muito movimentada. Pelo caminho fui vendo grandes avenidas e prédios que me pareceram do século 19. A parte moderna da cidade fica mais adiante. Após telefonar me emocionei, com saudades de minha mãe. Da Plaza fui descendo a pé por uma avenida duplicada que é um enorme passeio só para pessoas. Descobri serem Las Ramblas, aonde se situam bares com mesinhas chamados terraças ( há uma com o nome terraça Brasil), bancas de artesanato, de flores, de revistas e jornais, pessoas tocando instrumentos, recitando poesias. Só aqui vi gente mais parecida com o povo jovem de São Paulo. Uma juventude com roupas "vista o que desejar", rapazes com cabelos compridos, e moças à vontade, com vestidos mais decotados ou calças até o joelho, muito diferente de Lisboa e Madri aonde há mais formalidade no trajar.
Prosseguindo por ela, que vai tendo nomes como Los Estúdios, Las Flores e outros, existem cinemas, casas comerciais, museu de Cera, teatro Liceu e uma bonita fachada do palácio da Vireina, que não sei quem foi.
Numa pizzaria, comi uma de mozzarela ao lembrar que nem tinha almoçado, apenas comido uns doces. Continuei descendo até o Paseo Colon, que vai dar na praia e que tem uma grande estátua de Cristóvão Colombo olhando para o mar Mediterrâneo. Caminhei pelo Passeo contemplando os navios e nas marinas da avenida, os barcos menores. Já noite, resolvi voltar ao hotel.
Na manhã seguinte fui ao Paseo de Gracia, aonde se localiza a famosa casa Milá, do arquiteto Antoni Gaudi. Ela possui a arquitetura maluco-genial do artista, num estilo barroco fantástico e art-nouveau.
Dali, tomei o metrô até a praça da Sagrada Família, com a igreja do mesmo nome, também projeto desse arquiteto.
Iniciada em 1882, até hoje não está terminada porque sua construção subsiste por doações. É a arquitetura mais diferente que vi, com altas torres vazadas, numa mistura de estilo gótico-surrealista, arte antiga e inovadora ao mesmo tempo. Ainda sem teto, encontrei o que suponho ser uma provisória igreja, no subsolo, aonde, na cripta, está enterrado Gaudi. Pelos projetos e maquete, quando estiver pronta deverá ser sensacional. (Li, recentemente que só estará terminada por volta de 2050)
A imponência do projeto de entrada é impressionante.
Sempre perguntando, peguei um ônibus para a imponente praça de Espanha com monumentos e palácios, creio que estatais.
Perto, fica o Monte de Montjuich, grande parque com estádio, diversas construções, sendo que a maior, um palácio com abóbodas e torres é o Museu da Catalunha, tendo em frente fontes monumentais. Subi ao cume do parque por um teleférico para ter uma visão geral da cidade e do Mediterrâneo. A vista é bonita mas o mar estava encoberto por uma névoa. Há uma fortaleza que virou museu militar e seus canhões, que ainda lá estão, foram muito usados na 2a. Guerra Mundial.
Desci outra vez pelo teleférico e peguei um ônibus para voltar as Ramblas para ver o palácio Guell, aonde situa-se o Museu do Teatro. O nome Guell é de um mecenas nobre, que financiou muitas construções de arte e lazer. Porém, a maior atração é a construção do próprio prédio, que também é do Gaudi.
Voltei ao Hotel para descansar. E escutei grande barulho de bombas, gritos, vaias e sirenes. Eram estudantes em frente ao palácio do governo se manifestando contra a entrada da Espanha na Otan, como presenciei em Madri.
Após fazer um lanche resolvi visitar o Parque Guell, que não tem nada a ver com o palácio. É uma extensão de área enorme, em outro ponto da cidade. Não pensei que ficasse tão longe, mas por sorte, só fechava às 20h.E com o anoitecer tardio, deu para passear bastante. Iniciado no começo do século 20 pelo mecenas,  mais tarde foi doado à municipalidade. Todo projetado por Gaudi, ele é tão interessante, com construções estranhas, onduladas ou inclinadas, tão repleta de desenhos e recortes que são até difíceis de descrever, sendo a maior parte delas revestidas de mosaicos de cerâmica esmaltada ou pedaços de pedras. Possui inúmeras  colunas, torres, paredes xadrezadas, bancos em formatos diferentes, rosetas decorativas, escultura de animais, tendo tudo um colorido tão intenso que se destaca entre o verde exuberante que o envolve.  Já da entrada vê-se grande e dupla escadaria, com fonte no meio, que conduz a uma construção semelhante a um templo antigo, com 86 colunas muito altas. É a sala Hipòstila, ( li no guia) tendo no teto medalhões enormes de mosaicos coloridos. As colunas sustentam em cima, enorme terraço que constitui a praça principal, a Gran Plaza, com bancos construídos junto a inteira murada ondulada, parecendo uma grande serpente, que a envolve, revestida com o já citado mosaico colorido. Dela avista-se quase toda a cidade, destacando-se a construção da igreja da Sagrada Família. 
Todo o parque tem construções diferenciadas, como pérgolas com colunas inclinadas; edificações decoradas por pedras desiguais, em relevo; terraços com muros de pedra rendados também irregulares e telhados cujas coberturas lembram casas de contos infantis. Numa alta casa, de decoração interior estilo art-nouveau/Gaudi, com móveis desenhados por ele, viveu o arquiteto. Li que parte das construções têm significado simbolista mitológicos e religiosos. Inclusive, no parque, num pico mais alto situa-se um cruzeiro com 3 cruzes, sendo a maior dedicada a Jesus Cristo. Não subi até lá por ficar muito distante.
Há um anfiteatro grande com bancos ladrilhados coloridos aonde se realizam concertos e outras atrações.
(Anos mais tarde li que o parque foi classificado pela Unesco como patrimônio universal)
Já noite, voltei para a Plaza do Palácio e fiz lanche no bairro gótico que estava bastante animado, cheio de barzinhos e boates, por trás das portas antigas. Comi gostosos doce de chocolate.
Nesta última noite em Barcelona, descobri que o sino que escuto tanto é da Igreja Del Mar, do século 15. 
Não consegui ver tudo o que queria de Barcelona, mas conheci o principal do meu roteiro. E deixo a cidade contente por tê-la conhecido.