segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

LIVRO HOTEL DELÍRIO - O COMEÇO DE TUDO- INTRODUÇÂO E CAPA


INTRODUÇÃO


A vida é um hotel, um acolhimento no qual se entra, usufrui e sai.
Como, entre os seres, abriga, também, o humano, acho inspirador comentar
as maneiras da passagem por ela, visto que nossa espécie gera todo tipo
de personalidade, como atores em cena num teatro.
Essa variedade, para o bem e para o mal, incita comportamentos
e consequentes atividades, que em qualquer grau psíquico, do lúcido
ao patológico, admite-se questionar o quanto viver pode ser delirante,
nas filosofias, nas ciências, nas artes e, especialmente, no convívio social.
Meditar sobre o Universo, sobre um ou mais deuses, conjeturar a razão
do viver, são temas, por si só, comprovantes.
Unindo-se ao desempenho coletivo ou individual do viver, a ideia se       
completa.
O título é controverso, mas o exponho, pelos atos que nos compõem.

Aspiro que o que aqui escrever seja criativo, realista e, infelizmente, menos idealista que o delírio de super-homem desejado por Nietzsche, já que acredito que estamos longe da possibilidade de o ser humano atingir o seu ápice: ser melhor a si mesmo e ao que o envolve.


HOTEL DELÍRIO 

-O começo de tudo-


Na deliciosa época de Faculdade, na qual somos o centro do universo, donos do mundo e de todas as verdades, fase na qual nossos pais passam a ser jurássicos e só o nosso grupo nos compreende, estudei na Cidade Universitária da USP: local de muita comunicação entre as diversas escolas, de inúmeros movimentos sócio-políticos e de tantas festas a comparecer quanto o número de aulas. Frequentava muitas, experimentava a tudo e, às vezes, extrapolava.
Numa das várias folias, numa fria noite de fim de junho, na semana das comemorações dos santos foguetórios, fui, com muitos amigos, à um porão de casarão quase abandonado e nos aquecemos em volta da fogueira do quintal, com excesso de música, conquistas, fumos e até pinhão, pipoca e quentão.

Faltou o São João.
Na noite gelada, muito quentão, para mim, foi a principal questão, pois outros incentivos não me interessavam. Ao beber demais, após horas de convívios, abraços e demais carícias, resolvemos, uma colega e eu, sair em busca de um pequeno hotel qualquer, noite à dentro. Estávamos no final da rua Frei Caneca, em São Paulo, e fomos descendo para o Centro. Alguns hotéis com moças trabalhadoras noturnas, na porta, não nos entusiasmaram (nem nós a elas). Continuando pela rua da Consolação, encontramos um hotelzinho exatamente em frente à Biblioteca Municipal. Na minha dupla visão, embaralhada pelo vinho e por anseios ardorosos, olhei rapidamente o neon vermelho, gritando dentro da noite: Hotel Delírio. Entrei, entre surpreso e confuso, achando que nome tão explícito para esse tipo de lugar, reclamava um pouco mais de sutileza. Enfim, num quarto, menos sujo do que supunha, nos abandonamos ao que pretendíamos, entre momentos de descanso e recomeços, fazendo jus ao nome do hotel, até raiar o dia.

Meses depois, indo, uma tarde, à Biblioteca, por necessidade de pesquisas, demorei mais que o pretendido e sai de lá à noite.
Qual não foi a minha surpresa ao ver, das escadas da Biblioteca, o pequeno hotel, do outro lado da rua, com o neon vermelho explodindo: HOTEL DEL RIO.
Como? Hotel Del Rio. Cadê o HOTEL DELÍRIO?
Achando muito engraçada minha confusão, voltei divagando como o pré-consciente, aliás, o próprio consciente, nos faz ver as coisas que desejamos.

No acúmulo dos anos, continuando a divagar, penso nos delírios da minha existência. Assim, não os denominava, pois os julgava, somente, quando doentios. Mas quantos devaneios, imaginações e esperanças, camuflados, não os representaram. O primeiro deles, presumir, a mim mesmo, ser melhor do que realmente era. Depois, os que, ingênuo, desejei: as expectativas da ilusão de felicidades plenas ou os da busca do ideal.
Felizmente, escapei de delírios como o religioso (tão perigoso, se fanático), o da palavra (quando errada) e dos excessos de narcisismo, prepotência, preconceitos, maldade atroz e outros intermediários, entre lucidez e delírio.
Mas, não escapei de certas neuroses ou das fantasias que me alienam para aguentar as frustrações cotidianas.
Nem das que me fazem suportar os rumos do mundo, como, por exemplo, as utópicas: sonhar que acabem as guerras, a fome, a miséria.
O que pode ser mais delirante do que não existir uma paz social porque a cupidez dos obsessivos pelo poder e sua estupidez a tornam impossível?

Anteriormente considerados delirantes, cientistas, inventores, hoje, têm seus projetos não só admirados, mas concretizados. No campo da ciência, ninguém se arrisca mais, considerar qualquer invenção delirante. Não? Mas como denominar aquelas que podem acabar com o Planeta em minutos? 
Embora discutível e apreciando ou não a obra, talvez, o único delírio ameno, seja o do artista, que tem a liberdade de expressão, sem uma obrigatoriedade de coerência com a sociedade. 
Enfim, apesar de ser decepcionante admitir, acredito que todos nós, artistas, cientistas, inventores ou comuns, sempre, encontraremos à nossa frente um faiscante neon vermelho, com a significativa e incontestável observação: Delírio.


 


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