terça-feira, 2 de dezembro de 2014

LIVRO FIO DE CRISTAL - NELSON FREIRE

Tive a felicidade de assistir, ao vivo, pela primeira vez, o pianista Nelson Freire, que todos conhecem tão bem, inclusive, internacionalmente. Sempre o ouvi em CDs ou na rádio Cultura, em São Paulo, e gostei muito do filme documental produzido pelo cineasta João Moreira Salles. Mas pessoalmente, nunca o tinha assistido. Até este domingo, 30.11, quando ele se apresentou na Sala São Paulo (SP), junto com a OSESP - Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, sob regência do maestro Roberto Tibiriçá.
O pianista tocou, de Frédéric Chopin, o Concerto nº 2 - em Fá menor, Opus 21, composição de cerca de 1830, conforme o catálogo. Apesar de gostar muito de música, conheço, somente e infelizmente, as que me “tocam” mais, como as deste compositor.
A execução admirável, me deixou bastante empolgado, ante tanta demonstração de Arte.
Ao final da apresentação, pela interminável veemência dos aplausos, Nelson Freire regressou ao palco mais três vezes, pois a plateia não se conformava com sua retirada. Em cada retorno, executou um pequeno trecho de músicas que devem estar sempre em seu repertório, para ocasiões como essas, peças em torno de uns cinco minutos.
Ao tocar só, sem a exuberância de uma orquestra, músicas suaves, de teor tão delicado, é que deu para que eu sentisse melhor, o que é ouvir um grande artista. Até pensei que, para mim, teria sido preferível que ele tivesse se apresentado sozinho, desde o início. Sem qualquer desmerecimento ao grande Maestro e à ótima orquestra. Talvez fosse a emoção da presença brilhante, um som mais íntimo na grandeza da Sala ou minha preferência por solos de piano mais “doces”, mas o fato é que me comovi demais.

Já estive na presença de outras grandes celebridades, inclusive nas Artes, luminares que engrandecem nossa existência. Mas há tanto tempo atrás, que havia perdido a sensação dessa emoção.
Ao sair, com o contentamento de ter participado, outra vez, de algo maior, refleti, como sempre, na ambiguidade do ser humano.
Como podemos ter tão magníficos desempenhos em tantas atividades científicas e artísticas e, ao mesmo tempo, sermos o pior ser da face da Terra. Esse fato contraditório sempre me confunde e incomoda bastante e está bem expressado em muito do que escrevo.
Entretanto, ao invés de pensar em questões complexas, de difícil entendimento, mais valioso é comprazer-me com o que vi e ouvi, glorificando o lado humano, quando nos transporta ao melhor.

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