quinta-feira, 23 de junho de 2022

UMA ANTIGA VIAGEM Á EUROPA EM 1981 - LONDRES E PARIS

LONDRES 

Deixei Barcelona cedo e cheguei à terra da rainha ao meio dia. Esperava encontrar dificuldades na alfândega, porque ouvi dizer que eram muito rigorosos com bagagem mas não revistaram nada e a passagem foi totalmente livre. Tomei o metrô no aeroporto de Heathrow e vim direto até a estação Russel Square. Por azar, as escadas rolantes não funcionavam e subi seis lances por uma estreita escada de segurança, em caracol, carregando a mala. 
Me hospedei numa casa-pensão, a Edimburg House, na Bernard Street, conforme a indicação do livro. Se em Portugal e Espanha o tempo estava excelente, aqui estava feio, ameaçando chuva. Como tinha feito lanche no avião, após me instalar fui visitar o British Museum, que fica a dois quarteirões do hotel. Aos poucos fui descobrindo que o lugar em que estou é perto de muito do que quero ver. 
O Museu é enorme, com fachada imponente. Foi o primeiro museu do mundo a se tornar público na década de 1920. Seu enorme acervo é devido principalmente a peças trazidas de diversas partes do planeta por exploradores britânicos, (o que até hoje causa polêmica entre os países espoliados) e também por diversas coleções doadas por milionários, colecionadores e outros beneméritos, inclusive da nobreza inglesa. 
Como um dos mais importantes museus da Europa, possui obras de todo tipo, dos mais diferentes países do Ocidente e do Oriente, de todos os continentes e de todas as épocas.
De pequenos templos gregos como o de Ártemis, original, a barcos nórdicos milenares, objetos de decoração, joias, moedas, documentos, papiros, esculturas, livros raros e muito mais, tantas obras tornam impossível uma descrição abrangente.
 Entre as atrações principais pode-se citar: 
- A Arte egípcia, que realmente é sensacional, com centenas de sarcófagos, múmias, pinturas murais, papiros, joias e esculturas grandes e pequenas sobre a história desse antigo povo. Próximo 
está a grande e famosa pedra da Roseta, pela qual o estudioso francês Champollion descobriu o significado dos hieróglifos egípcios.
- Arte Grega, com vasos, cerâmicas, vidros, pequenas imagens, enorme estatuária, inclusive partes originais do Parthenon (de Atenas) como murais esculpidos, frisos e outros, trazidos da Grécia pelo explorador inglês Lord Elgin. 
- Arte da Babilônia, da Assíria e da Mesopotâmia como os famosos leões com cabeça de reis, de uns 3 metros de altura  e o enorme Mausoléu de Helicarnasso. 
E muita escultura e objetos da Roma antiga, da Suméria, do Oriente e da África.  Achei muito bonito um grande vaso azul, translúcido, da época romana, bem conservado, denominado vaso Portland porque um nobre com esse nome o trouxe da Itália. O Museu possui ainda seções de indumentária e móveis de várias épocas, da Antiguidade até o século 19. A exposição de vidros e objetos art-nouveau é primorosa. 
Tem inúmeras coleções de arte  do Japão, da China, da Pérsia e demais países do Oriente Médio e até uma escultura dos gigantes de pedra da ilha de Páscoa.
Meio tonto ao ver tanta coisa, saí quando fechou e fui fazer um lanche com chocolate quente para espantar o frio. Voltei para o hotel, mas não resisti e fui ver a Londres noturna. Caminhei pela Russel Square que é muito arborizada, como outras praças pela região. Entrei numa rua típica, chamada Bedford Place, aquela que se vê em filmes, toda com casas brancas iguais, grades e entrada superior e inferior. As casas tornaram-se pequenos hotéis, clubes e associações. Passei novamente em frente ao Museu e saí na Bloomsbury Street, a rua de  reunião de famosos escritores, como Virginia Wolf. Continuei pela Shaftesbury Avenue, com cinemas, teatros, inclusive o Globe e fui dar direto no Picadilly Circus, a tão famosa praça de Londres com seu monumento central e os leões.
Entre as muitas lojas, uma chama-se Swan&Edgar. Lembrei do personagem Swan do livro do Proust e de moi même. Na Regent Street admirei ainda existirem lojas tão antigas como a Mappin-Web, Woodwedge, Liberty e outras. Paralela A Regente St., num trecho pequeno fica a outrora tão famosa Carnaby Street de onde surgiu a mini-saia e os Beatles se apresentaram. Já não causa a sensação da década de 60. De simpático há a taberna Shakespeare Head, muito típica, com uns 3 andares revestidos de madeiras e a cabeça do poeta em esmalte. Voltei pelo mesmo caminho e reparei na Russel Square, o hotel Russel, muito grande e, todo iluminado, deu para ver da entrada, espelhos, bronzes e lustres de cristal.
Esta região na qual estou é muito próxima de teatros e o Covent Garden fica a alguns quarteirões.
Pela manhã seguinte peguei um ônibus-tour, aqueles de de dois andares, que deu umas duas horas de voltas pela cidade exibindo os pontos mais importantes. Para mim foi ótimo porque eliminou uns 60% de praças e monumentos que queria ver. Passamos pelas atrações St.James Palace, National Gallery, The Horse Guards com os guardas em uniformes vermelhos e à cavalo, Abadia de Westminster, Torre de Londres, Mansion House (aonde mora o prefeito), Catedral de São Paulo, Parlamento, Lambeth Palace, Tate Gallery, Ponte de Waterloo, ponte das Torres, Park Lane, Centro econômico da City, aonde vi o inglês típico de chapéu coco e bengala. E outras ruas que gostei muito. Estranhei apenas não passar em frente ao palácio de Buckinghan.
Findo o Tour, almocei e fui visitar a Tate Gallery que é fabulosa não só de pintores ingleses, mas universais, com obras de Klee, Kandinsky, Naum Gabo, Brancusi, além de Cézane, Braque, Picasso, Léger e tantos outros.
Mas as maiores coleções são, é claro, dos ingleses, tais como Turner, Gainsborough, Reynolds, Constable, William Blake e demais, antigos e modernos.
Saindo da Galeria fui à Abadia de Westminster e a achei fabulosa. É toda em estilo gótico sóbrio com aplicações de dourados nas colunas, nos lustres e nos vários altares. Cheguei até o altar (paga-se 1L) e fiquei imaginando quanto reis ali foram coroados. Há uma Capela Real, gótica, construída por Henrique 7º, cheia de belos vitrais e grandes bandeiras das províncias inglesas.
Toda a Abadia serve de mausoléu para reis ingleses falecidos e também para ingleses famosos como cientistas, escritores e outros. Assim, entre muitos, lá estão Santo Eduardo, Elisabeth I, Maria Stuart, Guilherme, o Conquistador, o escritor Charles Dickens, o cientista Spencer etc. Os jazigos reais rivalizam-se uns com outros em luxo. Atrás do altar-mor situa-se a Cadeira da Coroação, do ano de 1.300, na qual são coroados todos os reis ingleses. Ela é bastante simples, mas tremendamente histórica. Enquanto estava entre os jazigos de Elisabeth I e de Maria Stuart, que ficam lado a lado, um padre, num microfone, pediu a todos, 1 minuto de oração pela paz universal, rezando o Padre Nosso.Foi emocionante. Ao sair da Abadia fui andar pelos jardins laterais do Parlamento, junto ao rio Tâmisa, aonde são exibidas obras conhecidas do escultor francês Rodin. Esperei numa longa fila para entrar no Parlamento e visitei só a Câmara dos Comuns porque queria ver o local aonde Wiston Churchill tanto discursou. Apesar de construído no século 19, o edifício é em estilo gótico, com decoração em mosaicos e muitas esculturas.
Peguei um cheíssimo metrô para voltar e fiz um lanche num shopping center perto do hotel. Descobri um ótimo supermercado e uma sucursal do Correio, que me deixou feliz porque em geral, nas capitais que estive, as pessoas compram selo e colocam as cartas nas caixas do Correio pelas ruas. Só que eles sabem quantos selos colocar e eu não. Aproveitei para mandar cartões para a família e amigos.
Tenho só falado das partes boas da viagem, mas as ruins também acontecem como se perder algumas vezes, sentir-se só, estar sob tensão ante o inesperado, não gostar de determinada alimentação e fugir para os lanches e sanduíches, o que me fez emagrecer demais, unindo-se ainda ao andar tanto.
Nesses passeios a pé descobri que a cidade tem uma porta antiga e pedaços de sua antiga muralha medieval.
Na manhã seguinte fiz um tour a Windsor, cidade muito próxima a Londres. Pelo caminho há um belo e típico rio inglês, o rio Eton, muito cheio, ladeado de árvore. Passamos pelo célebre colégio Eton, com igreja gótica bonita. Antes de chegar a Windsor vimos uma reserva ecológica que pertence a rainha-mãe.
O Castelo de Windsor é enorme, com várias partes construídas pelos diversos reis ingleses que ali moraram. Com muitas torres, a maior foi construída no reinado de Henrique VIII. Como atrações vimos, na entrada, o desfile da guarda e dentro, a capela de São Jorge, salas e os quartos reais. Falei que a Abadia de Westminster era o mausoléu dos reis, mas aqui também há muitos reis falecidos como Henrique IV, Henrique VIII, Carlos I, além de reis mais atuais como George VI, pai da atual rainha. A Capela é grande, com belos vitrais e também cheia de bandeiras. Toda de madeira esculpida e com brasões pelas paredes, nela se reúne o Conselho da Ordem da Jarreteira, com lugar especial para o rei e seu herdeiro. A construção foi terminada por Henrique VIII para ser seu Mausoléu. Existem muitos jazigos com trabalhos artísticos exagerados, mas o de Henrique VIII é apenas uma lápide no chão. Ainda pertencendo ao corpo da Capela, atrás, há uma capela menor, do século 19, gótica, para não destoar do resto das edificações, construída pela rainha Vitória como mausoléu para seu marido o príncipe Alberto. É bonita, mas muito exagerada na ornamentação.
Fomos aos apartamentos reais que ainda são usados pela rainha Elisabeth II.  Visitamos a Câmara de Waterloo, enorme, sóbria, repleta de quadros da realeza. A Sala do Trono, muito ornamentada, com tapetes azuis, espelhos, belos lustres e também com diversos quadros de reis, sendo o maior e muito bonito o da atual rainha. O trono é pequeno, sem ostentação. Achei a sala mais bonita a de Recepções, toda com enfeites dourados, espelhos e lustres enormes, mas mesmo assim, sóbria e elegante. Há a São Jorge Hall, grande, com dois tronos pequenos, cheia de retratos e enfeites e uma Sala de Armas. Visitamos as salas da rainha: de audiência, escritório, de visitas pessoais e as salas do rei com quarto de dormir, de vestir e escritório. Curioso que não se entra no quarto da rainha porque o dela ainda é usado. Por toda as salas do palácio vê-se quadros famosos de séculos atrás, móveis antigos, grandes lustres, tapeçarias e belos tapetes.
Na saída, almoçamos gostosamente numa taverna típica aonde conheci um casal canadense que perguntou de onde eu era e que ficou muito espantado quando contei que minha cidade de São Paulo tinha 8 milhões de habitantes. Ele trabalhava na I.B.M. e falei que em São Paulo a I.B.M. possuía alto e grande edifício. Não sei se ele acreditou, porque acho que pensava que no Brasil só havia índio.
Da taverna, dirigimo-nos para Hampton Court. Pelo caminho vi muitas casas de campo e paisagens bonitas lembrando quadros de Constable e Gainsborough.

Passamos pelo memorial do presidente Kennedy e lembrei da inauguração com a rainha, a Jacqueline Kennedy e os filhos.

Hampton Court foi moradia do rei Henrique 8º. É muito histórico e tem o estilo gótico inglês, menos rebuscado e em cor escura. Além de grande, com torres e portas enormes de madeira, tem na fachada o famoso relógio astrológico. Tive grande decepção por visitarmos apenas pequena parte porque estava em restauros, o que achei um absurdo a agência de turismo não avisar antes de pagarmos. Assim, apenas vimos o grande Hall e algumas salas do rei. É mais histórico que bonito. Fomos para os jardins que são grandes e conservados como quando iniciados. Cada um foi construído para uma mulher do rei o que justifica ter tantos já que ele casou muitas vezes. Há uma videira de estufa que dizem ser original e que ainda dá uvas. Numa pequena ala envidraçada jogou-se uma partida de tênis pela primeira vez na história, segundo a guia. Sentei no jardim, tentando sentir o clima de época e lembrando do que li e do que assisti sobre a história desse palácio.
Voltamos a Londres às 17 h.
Fui passear pelo Covent Garden e gostei muito. Tem vários pequenos mercados de flores e de frutas, artesanato, galerias comerciais e barzinhos. Os frequentadores são na maioria estudantes e muita gente que imagino ser de teatro, porque além da Ópera House existem outros vários. Há a famosa Igreja do Ator, celebrizada em textos pelos autores Inigo Jones e mais tarde Bernard Shaw, cuja sua peça teatral Pigmalião, ali se passa. Destruída por um incêndio no século 18, a Igreja foi reconstruída no século 19.
Jantei, voltei para o hotel e escrevi diversos cartões aos familiares. O silêncio em Londres depois das 22 h é quase total e estou numa região próxima ao Centro urbano. A cidade é muito vigiada por pequenos aviões e helicópteros, creio que para verificar o trânsito.
É só imaginar sirenes tocando e está criado um clima da 2ª. Guerra Mundial.
Obs: a Ópera House está apresentando Arabella, do Richard Straus, com a cantora Kiri te Kanawa, a diva operística do momento. Em novembro está anunciada a vinda do célebre pianista Maurício Pollini.
Isto é que é maravilhoso no 1º Mundo, o melhor na arte e em tudo mais está aqui.
Na manhã seguinte fui a Catedral de São Paulo. É a maior igreja que entrei, até o momento. Apresenta os estilos Renascimento e Barroco, épocas de seu início e término. Tem enorme abóbada com bonitas pinturas internas, mas o mais belo trabalho de decoração está acima do altar mor cujo teto possui pequenas abóbodas com mosaicos coloridos belíssimos, nos quais predomina a cor dourada. Apesar do tema ser diferente me lembrou o também admirável mosaico da cúpula da Mesquita de Córdoba. O altar, com imagens sensacionais e todo em mármore, é cercado por altas portas de ferro com aplicações douradas, num efeito bastante bonito. No chão, em frente, há uma inscrição em homenagem ao ex 1º ministro inglês Wiston Churchill. Por toda a Igreja se encontram diversos pequenos monumentos aos heróis nacionais.
Como curiosidade havia uma vitrine com o bouquet de casamento de Lady Diana com o príncipe Charles além do convite do casamento. (As flores deviam ser cópias, pois o casamento tinha sido muito meses antes). Aliás, por toda cidade ainda se vê lembranças como pratos, xícaras e fotos do tema.
Desci para a grande Cripta aonde, entre outros, estão enterrados almirantes como Nelson e Wellington, pintores como Turner e Millais. No centro situa-se uma pequena capela militar. Próxima a Cripta situa-se a Sala dos Tesouros com antiguidades como objetos sacros de prata, livros, capas e vestimentas de diferentes ordens reais, mas não há o exagero das igrejas latinas.
Depois da Catedral fui a Torre de Londres ver as joias da Coroa. Não é apenas uma torre, é uma fortaleza com fosso e é um conjunto de torres, antiquíssimo, sendo a principal a White Tour, datada do ano de 1050. Cada torre tem sua data. E nomes na entrada como Porta dos traidores, dos covardes, etc. Abrigam museus de armas, de armaduras, de instrumentos de tortura ou de decapitação sempre lembrando seus hóspedes famosos, principalmente Tomas Morus e Ana Bolena. As joias e prataria ficam num edifício à parte com o interior todo modernizado e muito bem vigiado por guardas e câmeras. No andar de cima situam-se pratarias, cetros reais, baixelas, medalhas, insígnias, colares de ordens, com muito ouro, prata e pedrarias, além de uma batina ou vestido e o manto da coroação trabalhados em ouro.
Embaixo, num porão protegido eletronicamente e com portas de aço ficam as joias e objetos de ouro. As peças são realmente bonitas: vasos, pratos de decoração, enormes castiçais e candelabros, em ouro. Ao lado, num circuito em forma de estrela tendo em cada ponta duas vitrines, exibem-se as coroas de diferentes reis e rainhas, anéis, cruzes, cetros em ouro e pedras preciosas. A coroa da atual rainha feita em 1953, além do grande rubi central e demais pedras preciosas, exibe o diamante Small Star of Africa, um pedaço do grande diamante Star of Africa, (mais de 300 quilates) que está encravado em cima do cetro real de ouro, usado apenas na cerimônia de coroação. O número de coroas e tiaras com brilhantes, pérolas, rubis e esmeraldas é enorme.
Andei pela torre para sentir sua história e após, impregnado de realeza, resolvi tomar um plebeu metrô e ir ver o palácio de Buckinghan, descendo no parque Saint James. Isso porque queria ver o palácio em sua visão da avenida frontal rodeada de jardins e com o grande monumento da rainha Vitória em frente ao palácio.
Aliás, o que há de monumentos à rainha Vitória, em frente de todos os palácios, é impressionante.
Pensei que fosse possível visitar o palácio e abraçar a rainha, mas não deu. Ela estava na Escócia (kkkkk ).Fiquei vendo a guarda, e a fachada com o famoso balcão central.
Os portões são bonitos e imponentes com aplicações de bronze dourado. Aliás todo o lugar é muito elegante com parques como o Saint James, Green Park e o enorme Hyde Park, que percorri uma parte pequena por ter já andado muito. Voltei pela avenida central, The Mall, passando por Clarence House, Malborough Palace até o Admiralty Arch, na avenida, de mármore, grande e bonito, com 3 portões por onde passam os carros, sendo que o maior, do meio, todo em dourado, só se abre para a rainha. Esse Arco divide a avenida The Mall da Trafalgar Square, com a coluna do Almirante Nelson no meio e ao fundo a National Gallery, que não entrei por estar bastante cansado. Mas deu ainda para andar e ver por fora o famoso Albert Hall, sala de concertos, de arquitetura circular, tendo na frente a escultura do príncipe Albert, marido da rainha Vitória, precocemente falecido. Aliás, estou meio tonto de tanto museu. E não estou nem na metade da viagem.
Voltei para o hotel para descansar. E lá pelas 18h45 saí para assistir My Fair Lady no antigo teatro Adelphi. O espetáculo foi simpático, com uma boa representação, cenários mais práticos que luxuosos, sendo alguns cenários móveis, com recurso de aproximação ou recuo conforme a necessidade da encenação. A voz da cantora no papel de Elisa Doolitle era fraca. Só não me arrependi por ser uma peça tão famosa, tantos anos encenada em Londres. Mas a mesma peça que assisti anos antes em São Paulo, com a Bibi Ferreira e o Paulo Autran foi melhor encenada e cantada. 
Saindo do teatro, voltei a pé, me despedindo de Londres. Passei pelo Covent Garden, aonde músicos tocavam e uma carrocinha de castanhas mostrava o azul do braseiro. Só faltava a Audrey Hepburn como florista.
Pela manhã tomei o avião para Paris e cheguei às 15h30. 

Et bien, je suis a
PARIS!

Cheguei à cidade-luz às 15h30 e depois de muita indecisão no aeroporto, tomei o ônibus 351 Nation que me deixou na place de la Republique, após cobrar absurdos 22 francos ou seja 4 dólares. Ali tomei o metrô para o Jardim de Luxemburgo e vim para o Hotel de Flandres, na rua Cujas, travessa do Boulevard Saint Michel.
O Hotel é velho, sem elevador e o quarto é normal. Estou pagando 50 francos, mais 10 pelo café da manhã. O mais caro até então.
O que muito agrada aqui é o local, o Quartier Latin, e estou a um quarteirão da Universidade da Sorbonne. Na sua igreja está enterrado o Cardeal Richelieu (já comecei a entrar na história) que descobri por acaso ao ver sua estátua e placa, em frente à igreja, quando saí para fazer um lanche. Entrei na praça da Escola, vi alunos saindo e entrando dos prédios acastelados e me senti em casa. Fui seguindo pelo Boulevard Saint Michel e numa esquina, deparei com algo que já tinha visto e me conduziu à minha infância. Um castelinho do século 16, no melhor estilo gótico francês, que conhecia de uma coleção de cartões antigos franceses de meu avô, que os trouxe da França em 1914. É o Museu Cluny, antigo e pequeno mosteiro, atualmente com acervo de obras da época medieval. Fiquei emocionado ao pensar que meu avô também tinha estado ali há quase 70 anos atrás.
Fui descendo pelo Boulevard e reparando como em todas as ruas transversais e avenidas existem cafés, restaurantes, docerias, lojas e cinemas, com muita gente e muito turista. No fim do Boulevard, já anoitecendo, senti um vento muito forte, entrei à direita e vi uma ponte. Logo pensei se seria o rio Sena. E era. Me dirigi rápido para vê-lo e quando cheguei, olhei para à direita e deparei com a fachada da Notre Dame, toda iluminada. O impacto foi tão inesperado que fiquei com olhos cheios de lágrimas. Caminhei até ela e fiquei um tempo enorme admirando, apesar do frio e do vento que vinha do rio. Enquanto estava sentado fora, porque já estava fechada, de repente uma luz forte começou a vir pelo Sena, iluminado ainda mais a catedral e todos os prédios arredores.
Era um barco turístico (bateau mouche) com faróis poderosos, iluminando a noite para os turistas que nele estavam. 
Para me esquentar, andei novamente, pela Île de la Cîté, local de milionários famosos, depois pelo Quais Bourbon, Pont Saint Louis, sempre pensando na beleza da Catedral com seu trabalho gótico milenar, seus vitrais, a Rosácea frontal, as torres milenares e toda a história que já passou por ela. Por outra ponte do Sena vi ao longe muitos prédios e o obelisco da Place de la Concorde.
O Boulevard Saint Michel, próximo ao rio Sena, tem uma estátua monumental de Saint Michel com uma fonte, infelizmente seca. E próximo, um salão de chá, todo iluminado com seus lustres de cristal, tendo a fachada e letreiros em estilo art-nouveau. Achei bonito. Por estar tarde, voltei para o hotel e vi numa grande avenida paralela à rua Cujas, o Pantheon, todo iluminado. Não imaginei que o local fosse tão bom, apesar do hotel ser tão simples. E muito perto também, está o Jardim de Luxemburgo. A única nota desagradável é que achei as ruas muito sujas e os monumentos mau cuidados. Que diferença para quem vem de Madri e Londres.
Paris abre às 10 h, como Madri e Londres. Saí com calma e fui a igreja Saint Etienne du Mont aqui perto, construída por Luiz XV para abrigar o corpo de Sainte Genéviève, padroeira de Paris. Iniciada no período do Gótico foi terminada no Renascimento e possui decoração Barroca. Em 1805, quando o Papa Pio VII foi obrigado a vir a Paris para coroar Napoleão como Imperador, ele rezou aos pés da Santa. Fui depois ao Panteão, que é em frente. Edifício grandioso, com cúpula enorme, construído no século 19, conserva nos jazigos os grandes da pátria, entre os quais os escritores Victor Hugo e Émile Zola.
Tão próximo do Jardim de Luxemburgo fui conhecê-lo e vi o palácio Luxemburgo, antiga residencial real e agora prédio oficial do Senado.
Admirando as famosas entradas de metro desenhadas pelo artista Guimard (que só conhecia em livros) fui de metrô até a Notre Dame des Invalides, igreja construída por Napoleão III para abrigar os restos mortais de seu tio Napoleão I. Enorme, com grande cúpula, decoração no estilo clássico, tem a tumba do Imperador no centro, mas no andar de baixo, podendo ser contemplada tanto de cima na galeria, como embaixo. Exagerada, como de resto toda a Igreja, percebe-se que é um monumento a Napoleão I e não apenas seu jazigo. Na igreja, também estão enterrados o Rei de Roma, filho de Napoleão e ainda José Bonaparte, irmão do Imperador.
Após, passei pelo Hotel des Invalides, belo palácio construído por Luiz XIV, que abriga o Museu Militar e situa-se no mesmo quarteirão, porém do lado exatamente oposto à Igreja. Andando pelas várias avenidas e ruas cheguei ao Campo de Marte aonde está a Tour Eiffel. É muito imponente, entre jardins, com ampla visão por todos os lados. Era tão grande a fila para o elevador que subi, pela escada, parando nos vários estágios, até o topo. A vista é belíssima e abrange toda a cidade. Só atrapalhou o enorme número de turistas (como eu). Ao descer, descansei ao sol para esquentar porque o frio está ficando mais forte. Fui ao Palais de Chaillot, no Trocadero, que é em frente, do outro lado do rio Sena. De lá tem-se outra visão belíssima da Torre, com toda a sua imponência. No Palais de Chaillot situa-se o museu de Arte de Monumentos de Paris.
Continuando a andar pela avenida Kleber, toda arborizada, fui ver o Arco do Triunfo, na Étoile, atual praça Charles de Gaulle. É um arco muito grande e bonito, tendo no centro o fogo sagrado para o soldado desconhecido. Subi até o topo, sem elevador, mas a vista para todos os lados, valeu muito. Voltei pela avenida dos Champs Elisée, muita larga, muito arborizada, com comércio fino, galerias de arte, restaurantes e cinemas. Aproveitei para almoçar. Sempre andando pela avenida vi, numa travessa lateral, o Grand Palais e o Petit Palais, um em frente ao outro. Tanto o Grand (que parece um bolo de noiva) quanto o Petit (mais elegante) são locais de exposições temporárias e próximos a um pequeno parque chamado Gal. Eisenhower, em homenagem ao militar norte-americano da 2ª. Guerra Mundial e ex presidente dos U.S.A. (que vi em São Paulo, quando de sua visita oficial, no final da década de 50). Sempre andando pela avenida cheguei a Place de La Concorde, com o famoso obelisco egípcio, ao centro, oferecido pelo Egito ao rei Luiz Felipe, em 1831. A Place tem antigos prédios governamentais. Fora da praça, em extremidades opostas, no fim de uma rua, está a Igreja de Madeleine, que parece um templo grego e no fim da outra rua está a Câmara dos Deputados, também cheia de colunas. De longe, uma construção está de frente para a outra e o rio Sena no meio. A ponte que o atravessa é muito bonita com lampiões tríplices e pés de ferro ornamentados.
Até então eu estava na rive Droîte. Ao atravessar a ponte passei para a rive Gauche. As margens do Sena estavam repletas de pequenas bancas de livros usados, discos, selos, estampas, artesanato e alguns artistas pintando. (Parecia filme)
Nessa margem a avenida tem vários nomes: quais Anatole France, Voltaire, De Conti, etc. Ao me aproximar da Notre Dame, como estava aberta, entrei e me emocionei.
É bastante sóbria, num gótico puro, imponente e é muito alta. Os vitrais coloridos com cenas religiosas dão uma luz especial, mas os mais bonitos são as duas enormes rosáceas frontais numa arte sensacional. Possui em cima, duas galerias laterais. O atual altar fica no centro, com imagem de N. Senhora, sob a abóboda. Mas ao fundo vê-se outro, maior, com uma Pietá em mármore, muito bonita. O Coro é todo em madeira com cenas religiosas entalhadas e com policromia ainda original. A Igreja começou a ser construída em 1.160 e as torres não estão terminadas e acho que nunca mais estarão. (Deveriam ter como acabamento, pequenas torres apontando para o céu). Os lugares para acender velas são inúmeros e acendi para minha mãe. A Igreja estava muito iluminada porque ia haver missa. Mas demorou tanto que desisti de esperar e saí caminhando pelos boulevards Saint Germain e Saint Michel. Fiz um lanche/pizza com vinho tinto e voltei ao o hotel. O que me espanta aqui em Paris é como tudo é bem mais caro. Uma passagem de ônibus, num circuito pequeno paguei o equivalente a 120 cruzeiros. Em Londres, num percurso maior gastei 40 cruzeiros. Também a alimentação é cara. O que me salva são os McDonald’s no qual um cheeseburguer custa 6F, menos que a passagem do ônibus que foi 7F. Por falar em preço, à tarde, na Champs Elisée vi o preço da excursão que quero fazer aos castelos do Loire: 75 dólares. E ainda pretendo ir a Chartres e Versailhes. Pensei ir ver o pianista Claudio Abbado tocar com a Orquestra de Londres, na Sala Pleyel. Mas o preço me fez desistir. Ainda tenho muita viagem pela frente.
Este Quartier Latin também parece uma festa contínua, como em Madri. As ruas estão sempre cheias, o que dá uma alegria especial.
Hoje, domingo de manhã, fui a Igreja Val de Grace, aqui perto. Era um antigo mosteiro do século 12 que no século 17 foi restaurado por Ana D’Áustria, esposa de Luiz XIII.
É bonita, num estilo Renascença com acabamentos Barrocos. No altar, há grande escultura em mármore sobre o nascimento de Cristo sob um dossel dourado com colunas coríntias, como as do Vaticano. Era frequentada pelos reis e toda a Corte. 
No caminho vi cenas de um domingo pela manhã: pessoas passeando com cachorros, outras fazendo ginástica e muitas com um pão bengala, debaixo do braço, sem embrulhar. Fui passear outra vez no jardim de Luxemburgo, que ainda está florido e admirei suas várias estátuas, um lago com fonte no meio e o palácio, que de perto é bem maior do que tinha achado antes. Atrás dele, numa pequena praça fica a igreja de Saint Sulpice, gótica e bastante grande. No altar há uma N.Senhora, em mármore sobre umas nuvens, que se espalham pelas colunas num trabalho muito diferente e de difícil execução.
Toda essa região é o início de Saint Germain de Près e na Place Odeon, situa-se o célebre teatro Odeon onde hoje atua a Comédie Française. Fiquei imaginando quantas vezes a atriz Sarah Bernardt deve ter atravessado aquelas portas. Dentro, num hall em cima, há estátuas e pinturas das glórias do teatro francês.
Depois de um lanche, fui para os lados da Notre Dame para conhecer o Hotel de Ville, palácio da Prefeitura de Paris, numa grande praça, tendo a fachada coberta de estátuas. Na volta, passei pela torre de Saint Jacques, gótica e alta. Acredito que fazia parte de alguma igreja, destruída.
E perto fica a praça com dois grandes teatros: o De la Cité e em frente o Teatre National que se chama Sarah Bernardt.
Atravessando o Sena fui visitar a Saint Chapelle, que tem uma decoração gótica espetacular. É feita de colunas muito finas tendo entre elas centenas de vitrais coloridos e rosáceas trabalhadas. As colunas são pintadas em azul com filetes dourados e a abóbada e arcos também pintados em azul com aplicação de flor de Liz (a flor real) em dourado. O altar também é todo dourado, em estilo gótico. A sensação que tive foi a de estar dentro de um caleidoscópio. Só lamentei tanta beleza não estar bem cuidada.
A Capela situa-se dentro do Palácio da Justiça que ocupa todo o quarteirão. Do lado da entrada para a Capela, numa torre, na quina da construção há um enorme relógio astronômico, todo em metal dourado que dá o nome a Torre do Relógio. Ainda nesse enorme Palácio da Justiça, no lado que dá para a margem do Sena fica a Concièrgérie, prisão de muitos séculos, aonde permaneceram o rei Luiz XVI e a rainha Maria Antonieta até a morte. A cela de Maria Antonieta é pequena e propositalmente horrível. Ao lado, fizeram um pequeno museu de suas últimas coisas. Além dos processos judiciais que sofreu, há uma carta para Madame Elisabeth, irmã do rei, na qual pede que cuide dos filhos e o fac símile do famoso bilhete escrito com alfinete, pedindo ajuda a amigos.O bilhete original está no Arquivo do Estado.
Saí apressado e oprimido para o sol mas fiquei muito surpreso ao ver que o tempo estava escuro e frio.
Ainda quis ir a Place de Vosges, e atravessando novamente o Sena, andei rápido porque ela fica bem mais longe, numa parte antiga, com ruas medievais, estreitas e tortas. A praça fica no Marais e é toda fechada por construções acasteladas, do século 17. No meio tem um grande jardim. As construções foram habitações de famosos como o pavilhão da rainha Ana d’Áustria, o pavilhão do cardeal Richelieu e a casa de Victor Hugo, que visitei. Por dentro das construções vê-se que possuem grandes jardins internos.
Muito perto situa-se a Praça da Bastilha que como lembrança só tem um alto monumento à Vitória (da Justiça). Tomei o metrô e voltei a praça do Hotel de Ville para ir ao Centro Pompidou, que é perto, numa outra praça. Na minha opinião o Centro não é bonito e destoa completamente do local, com sua construção moderna e feia. É todo de vidro, com estruturas aparentes, cheio de tubulações pintadas, ocupando as laterais. Me pareceram servirem de condutores utilitários como refrigeração, eletricidade e água. Mas a sua importância cultural é tão grande que desfaz qualquer má impressão. Sobe-se até o último andar por uma série de escadas rolantes externas que ficam dentro de tubulações de vidro. À medida que subi, fui vendo os telhados de Paris e uma bela visão da Sacré Coeur de Montmartre, ao longe.
No 5º e último andar há a exposição Paris – Paris, de 1937 a 1957, que exibe esses 20 anos em todas as suas realizações sociais, tendo como manifestação principal a Arte. Numa estrutura baseada principalmente em quadros e esculturas, possui obras de mestres como Picasso, Matisse, Braque, Léger, Giacometti e tantos outros do período. Exibe dois áudio-visuais com fotos, capas de revista, jornais, que dão a história da época, inclusive a 2ª guerra mundial. Cada manifestação artística tem o seu correspondente na literatura e na música e vídeos apresentam depoimentos atuais das personalidades que viveram esse momento. Há a presença física de objetos como roupas de Dior e de Balenciaga, design de indústria, maquetes de arquitetura, móveis modernos como por exemplo: de Le Corbusier, televisores, variados eletro-domésticos, vidros
artísticos (Daum), luminárias, automóveis e inclusive uma miniatura do avião Caravelle. Existem bonecas e manequins surrealistas, criação do artista Salvador Dalì e a famosa e discutida escultura de Picasso: um selim de bicicleta transformado em cabeça de touro. No meio da exposição, a interrompendo, há um stand todo em preto sobre o período negro da 2ª. Guerra mundial também com fotos, filmes, documentos, depoimentos, uniformes e bandeiras. E na saída, muitos affiches de propaganda desde apresentação do cantor-ator Maurice Chevalier até cigarros, artigos de beleza, perfumes e outros decoram as paredes.
Desci para o Museu de Arte Moderna que ocupa o 4º e 3º andares. A quantidade de peças em quadros e esculturas dos artistas modernos é incrível. São tantas que só dá para falar os nomes principais senão não pararia de escrever. E mesmo os nomes mais conhecidos têm inúmeras obras expostas. Assim, os Picassos, Légers, Braques, Klees, Chagalls, Kandinskys, Matisses, Giacomettis, Brancusis, me deixaram maravilhado.
Deixei o museu pelas escadas rolantes, rolando de cansaço pois não aguentava mais andar. Descansei embaixo, no saguão, aonde tem anfiteatro, livraria e outras pequenas exposições que não fui ver. Na rua, em frente ao museu havia gente tocando, fazendo malabarismos, vendendo artesanato, bem alegres.
Voltei para o hotel e quase chegando começou a cair uma chuva com pingos gelados como nunca tinha sentido. Nem em Nova Iorque, num novembro com neve, senti pingos tão frios.
Estou no quarto, escrevendo, esperando a chuva passar para descer e jantar antes que fechem os restaurantes. E depois, dormir para descansar. Penso como tenho andado em todo lugar, o dia inteiro. Claro que pego ônibus e metrô, mas os museus, as igrejas, os palácios, as praças obrigam andar bastante.

Hoje, pela manhã fui a Montmartre, ver a Sacré Coeur. É uma igreja enorme, toda branca em estilo românico-bizantino, apesar de ser construída no século 19. O teto tem belas decorações em mosaico. A vista das escadarias e dos terraços são atrações à parte. Vê-se quase toda Paris, com a torre Eiffel bem distante. Andei por diversas ruas e comi doces de creme muito gostosos num frio desagradável, sob um céu azul. Todo o bairro possui construções bem antigas e diferentes e fachadas com esculturas e relevos. Fui a praça Pigalle e vi perto, o Moulin Rouge, tão famoso.
No final do passeio, desci a enorme escadaria e fui de metrô a Étoile, no começo do Foubourg Saint Honoré, para comprar ingresso para o recital do pianista Claudio Abbado, mas o preço me fez desistir. Vou continuar escutando os discos que tenho dele, em São Paulo. Voltei, me distraindo com o comércio chique do Foubourg.
Fiz um lanche numa galeria e comprei o bilhete de excursão para os castelos do Loire. Novamente de metrô, desci na Place de la Concorde. Segui pela Rue de la Paix e parei em frente ao restaurante Maxim’s, imaginando quanto gente famosa passou por aquela porta. Já que estava perto entrei na Igreja Madeleine.
É como um templo grego, com sua colunas, muito grande e bem decorada com mosaicos nas suas três pequenas abóbodas internas. Dali, pelo Boulevard des Capucines cheguei até a Ópera, que é um teatro Belle Époque, com enfeites externos rococó de efeito bonito.
Dentro, até aonde permitem entrar, as escadarias e decorações são sensacionais, com muito mármore rosado, espelhos, pinturas, enfeites dourados e lustres de cristal enormes. A plateia não estava aberta, mas pela escadaria havia uma exposição de figurinos usados em diferentes óperas, muito luxuosos, especialmente os de representação Oriental.
Sai da ópera lá pelas 13 h e fui, de metrô para o Louvre, que é perto. O prédio, em si, é enorme. Desde o Renascimento até o século 19, sempre teve novas alas construídas, com muito fausto. Atualmente, só podia servir de museu, nos seus 14 quilômetros de galerias. Ainda bem que me deu um ataque de lucidez e visitei só o que era mais importante.
Vi o quadro da Monalisa, as esculturas gregas Vitória de Samotrácia e Vênus de Milo e as esculturas dos dois escravos de Michelângelo. Ao lado da Monalisa há outros dois quadros religiosos do Leonardo da Vinci, para mim, muito mais bonitos.
Depois passei pelas seções de arte egípcia e grega.
A Arte Egípcia é grande com muitas estátuas, sarcófagos, relevos, cerâmicas, joias e diversos utensílios. Mas os ingleses têm bem mais múmias. (No museu, eu quero dizer, porque nunca encontrei povo tão sem calor humano com turistas)
Também a Arte Grega é grande, com muita estatuária, lápides tumulares, objetos e partes de antigos templos.
Mas tudo fica meio igual a outros museus em outros países com peças semelhantes. É por isso que o ideal é ver o que é diferente em cada um. Passei rapidamente por diversas galerias e parei no que reconheci de obras mais famosas como de Rafael, Rembrandt, Velasques e os diversos franceses tais como Watteau, Fragonard, Delacroix, Davi, Coubert e outros.
(Os Impressionistas estão no museu Jeu de Pommes).
Ao sair, andei pelos jardins das Tulherias, cheio de flores, apesar do frio. Nele há o Arco do Carrossel. Ficando atrás dele, tem-se uma visão curiosa: vê-se o Arco em primeiro plano e no espaço aberto do centro dele, mais adiante vê-se o obelisco da praça da Concórdia e mais longe o Arco do Triunfo, todos numa linha reta. (Numa outra volta a Paris, bem mais tarde, vi, na mesma reta, o Arco do Carrossel, o Obelisco, o Arco do Triunfo e muito ao longe o enorme Arco de la Défense, no novo e moderno conjunto de prédios executivos, quase fora de Paris, construído nos anos 90)
Andando devagar cheguei ao Museu Jeu de Pommes, aonde estão os pintores Impressionistas famosos: Manet, Monet, Degas, Van Gogh, Cèzanne, Toulouse Lautrec, Gauguin, Renoir e tantos que levaria muito tempo descrevendo. Gostei demais. Descansei nos jardins e segui pela rue Saint Honoré (aonde se localizam as lojas de Ungaro, Gucci, Balmain, Cardin etc.) até a Place Vendôme onde encontrei o comércio mais fino de Paris em joalherias, tais como Cartier, Van Cleef, Boucheron, Bulgari, expondo nas vitrines, joias com diamantes, rubis, esmeraldas, enormes e muito ouro. No centro da praça há uma coluna com relevos de cenas de batalha e a escultura de Napoleão no topo, vestido de César (ridículo!). Na praça, situa-se ainda o famoso Hotel Ritz, (onde se hospedou o alto comando alemão, na 2ª. Guerra). Possui bela entrada e, simplesmente, tinham 3 Rolls Royce parados em frente. Paris tem muito Rolls Royce. Em frente ao restaurante Maxim’s estava estacionado um, todo branco, esperando alguém. Na volta peguei o metrô nas Tulherias e vim para o Hotel, após lanche, num café próximo.
Na manhã seguinte, fui a Versalhes. Acho que qualquer palácio, daqui para frente, será de difícil comparação.
Não vou descrever porque escreveria páginas e já se sabe muito sobre ele. Foi emocionante ver de perto salas tão conhecidas por fotos. O luxo é enorme em todo ele, mesmo assim destacam-se os quartos do rei e da rainha, a Capela, a Ópera (toda em dourado e azul) e, é claro, o deslumbramento que é a Galeria dos Espelhos, enorme, com os tetos pintados com cenas belíssimas, lustres esplêndidos, paredes decoradas, com acabamentos em pequenas esculturas e ornamentos dourados. Aliás todo o palácio é repleto de enfeites dourados, pinturas nos tetos e quadros bonitos. O luxo dos móveis e objetos de decoração também são admiráveis.
Nas grandes escadarias fiquei imaginado a multidão enfurecida subindo à procura dos reis.
Os jardins são enormes e as flores davam um colorido especial. Fui ver por fora o Grand Trianon e o Petit. A arquitetura do Grand Trianon é em estilo néo clássico, com mármores rosados. O Petit é uma mansão clássica construído para a rainha Maria Antonieta para ter sua vida particular, longe da Corte. Os dois ficam muito distantes do palácio principal. Fui também ao Humeau de la Reine, pequena fazenda com animais e aves, aonde a rainha se divertia como camponesa. Ali há um pequeno moinho simpático, mas o que me emocionou foi lembrar uma antiga foto de meu avô e de minha bisavó, sua mãe, na escadinha do moinho há 70 anos atrás. Voltei outra vez para o palácio e para a estação, chegando em Paris às 16h30. Com tempo livre, ao ver a propaganda, fui ao cine Paramount, no boulevard Montparnasse assistir o filme Le Choix des Armes, com o Ives Montand, Catherine Deneuve e Gérard Depardieu. Fui pelos três artistas importantes, mas o filme foi fraco, com final piegas.
Voltei ao hotel para dormir porque amanhã vou ver os castelos do Loire.
Saindo muito cedo de Paris, visitamos três:
Chambord, Chennonceaux e Amboise.
-Chambord é o mais bonito, muito grande, cheio de ornamentos e pequenas torres. Dentro, os amplos salões estão quase vazios, assim como os outros castelos visitados. Neste, o que há de interessante são as duas escadas duplas internas cruzando uma com a outra, idealizadas por Leonardo da Vinci. Construído por volta de 1.500, o castelo não chegou a ser habitado pela corte de Francisco I e só serviu de moradia real em épocas de caçada.
-O castelo de Chennonceaux é menor e mais bonito. Construído sobre o rio Loire, parece uma bela e imponente ponte acastelada.
Também muito vazio de móveis, possui magníficos jardins. A seu respeito existe a romântica história de ter pertencido a Diane de Poitiers, amante do rei Francisco II e rival da rainha Catarina de Médici. Após a morte do rei, a rainha obrigou a amante a deixá-lo.
-O Castelo de Amboise é o mais antigo e histórico. Além dos vários reis que o habitaram, também Joana D’Arc e Leonardo da Vinci foram seus hóspedes. O pintor, está, inclusive, ali enterrado, numa pequena capela gótica junto a uma das muradas.
Sob uma esplanada, o castelo tem a aparência de uma fortaleza com seus grandes muros. Para chegar até ele e seus jardins, subimos por um longo túnel todo murado, muito largo para a subida de cavalos e cavaleiros. Achei um interessante sistema de defesa porque fechando-se o túnel seria difícil ser invadido pelos inimigos.
Só por fora passamos pelos castelos de Blois, Chaissy (hoje, hotel), pelo de Chaumont e pelo de Chaverny, muito simpático, tendo na frente uma matilha de cães de caça. Casada com um nobre francês, esse castelo pertence a uma descendente da princesa Isabel, do Brasil.
A região do Loire é bonita com campos, florestas, casas acasteladas, muito gado, carneiros e plantações, inclusive de videiras. Pelo caminho, vi grandes tonéis de madeira cheios de uva, puxados por pequenos tratores. A região é fértil e tem reservas florestais para animais. Mesmo em Chambord via-se cervos pastando nas matas. Perto de todo esse encantamento natural existem duas torres de aço, altas e brilhantes, pertencentes a usina nuclear do Loire que fornece energia à região.
Almoçamos numa taverna típica: Taverne du Roi, com telhado acastelado, traves de madeira entre a argamassa e enorme lareira que muito me agradou porque o frio aumentava. Aliás, o Loire é uma das regiões mais frias da França e não sei porque tem cerca de 300 castelos ali construídos, pois sendo todos de pedra já são verdadeiras geladeiras. Lembro de uma história contada anos depois, em São Paulo, pela Condessa de Paris, bisneta da princesa Isabel do Brasil, quando do lançamento de seu livro de Memórias, que no castelo D'Eu aonde morava, para ir de um salão com lareira para outro, ao atravessar os longos corredores, ela precisava colocar casaco, cachecol e luvas por causa do frio.
Gostei também no Loire das pequenas cidades que envolvem alguns dos castelos. Parecem de contos infantis.
Em Paris, esqueci de comentar algo interessante, para mim: na parte de trás do Museu Cluny, vi umas ruínas, inclusive subterrâneas, que não sabia o que eram. Fui informado que eram antigas termas romanas do século 2 D.C.(A.C.). É admirável como o império romano se estendeu por toda a Europa (à exceção, é claro, da pequena aldeia normanda do Aterix e do Obelix).
Continuando meu roteiro pessoal fui, de trem para Chartres, na manhã seguinte, saindo da Gare Montparnasse, para ver a fabulosa catedral. E que bom que fui. Ela é belíssima, iniciada em 1.200 e além da construção gótica e de suas torres diferentes, mas geniais, possui vitrais por todos os lados, com cenas religiosas, num trabalho artesanal espetacular. A rosácea principal, na entrada parece o desenho de um floco de neve.
A igreja é tão ornamentada que as portas laterais rivalizam-se com a entrada principal, tal o trabalho de esculturas em pedra, que exibem. A torre principal parece um bordado. Todo o estilo da igreja é gótico, com enormes colunas, mas os acabamentos em talhas e imagens chegam até o período barroco. (Como já comentei, as edificações que levaram séculos de construção acabaram adotando diversos estilos posteriores, de decoração). Muitas das esculturas medievais estão guardadas na sala do tesouro para sua preservação, sendo substituídas por cópias. Mesmo em outras igrejas e em outros países, a maior parte das esculturas externas estão sendo substituídas por cópias para preservação das antigas, por causa da ação do tempo e da poluição.
O altar principal de Chartres contém uma enorme imagem de N. Senhora da Assunção, esculpida em mármore, num bloco único, de efeito impressionante.
O chão, escadarias, portas são tão antigos que a gente se transporta para a época. Na igreja foram sagrados vários reis da França e era frequentada por Joana D'Arc. A sala do Tesouro é pouco atrativa em objetos, mas vale por ela mesma porque é uma antiga capelinha gótica. 
A cidade é muito simpática na sua parte antiga, com ruas estreitas, casas com telhados trabalhados, e uma limpeza impressionante nas ruas. Em uma delas havia uma casa bem antiga, da Idade Média, com esculturas em madeira. É tombada pelo patrimônio francês.
Voltei a Paris às 20h. Jantei e vim comer doces no quarto.
Hoje, 01.11.81, é meu último dia em Paris. Fiquei feliz em trocar minha passagem de volta ao Brasil por Roma, ao invés de Paris, como estava previsto, porque assim ganho mais tempo para viajar, visto que na volta eu teria que dormir novamente em Paris, até o próximo voo para São Paulo.
Passeei pela Avenida Foch até o Bois de Boulogne, vendo os antigos e ricos prédios aonde famosos como Onassis, Sofia Loren, Niarchos, Madame Sukarno, a ex imperatirz Farah Diba e outros têm moradia.
Entrei um pouco no parque Bois de Boulogne apenas para ter a sensação de "sentir" e ver alguma coisa, porque seu tamanho é enorme e levaria o dia todo. Caminhando até a Champs Elisée, após gostoso lanche, tive uma inspiração genial de ver a exposição “O Fausto do Gótico”, exposta no Grand Palais. Foi sensacional. Ocupando 3 andares, exibia imagens, retábulos, livros de horas e missais em pergaminhos trabalhados, mantos religiosos, tapeçarias, joias e marfins sacros. As peças eram de 1.300 a 1.400 e muitas foram emprestadas de museus como o Metropolitan, o British, o Louvre e outros. Estava muito bem montada, com iluminação perfeita e áudio visuais explicando o que se exibia. Até hoje, essas imagens em marfim dos séculos 13, 14, considero entre as mais sensacionais que vi, especialmente pela simplicidade e beleza de suas esculturas.
Saí do Museu e fui reservar minha passagem de trem para a Suíça. Como tinha tempo e estava próximo, voltei ao Louvre para me despedir da Vênus de Milo, da Vitória de Samotrácia e da Gioconda. Andei, após, pela Saint Honoré vendo outra vez o comércio chique e tomei um ônibus para o Hotel.
Despedi-me bem de Paris com esses dois museus.
Amanhã parto para Genebra.
Estou lendo a revista Paris Match para ver o que acontece com a Sofia Loren. Parece que o marido Carlo Ponti está mal.
Esqueci de comentar que a estação de metrô do Louvre é decorada com obras de arte de diferentes épocas. Me parecem verdadeiras porque estão protegidas em caixas de vidro.
Obs: nessa época (1981) era fácil entrar nos museus e ver o que se desejava. Anos mais tarde, é que ficou difícil entrar, esperando em longas filas, por causa da expansão do turismo).

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