O QUE A MENTE
INTENSAMENTE
SE OCUPA,
NÃO SÓ A MINHA,
POIS, A MUITAS, PREOCUPA,
É A CONSEQUÊNCIA FUTURA
DA ILÓGICA AGRESSÃO ECOLÓGICA
NA QUAL O SER HUMANO ATUA.
DA COMBINAÇÃO DOS GENS,
UTILIZAMOS ÍNFIMA PARTE.
QUANDO FOR IMINENTE,
QUAL SERÁ A IMAGEM
DE ADEQUAÇÃO, NA ARTE
DE UMA OUTRA COMPLEIÇÃO?
SURGIR UM ENTE QUE ORIGINE
DESSE CAOS QUE NOS DOMINA
E SOBREVIVA.
AO IMPOR SUA CONSISTÊNCIA,
COMO SERÁ A DECORRÊNCIA,
DA NOVEL MUTAÇÃO?
AO LONGO DOS CAMINHOS
HÁ A PRIMEIRA BUSCA,
MAIOR QUE O DO TEMPO PERDIDO.
É A UNIÃO DE DUAS VIDAS
QUE, INDIFERENTES NO SEU ARDOR
AOS DESENCONTROS
DAS RAPARIGAS EM FLOR
OU ÀS INCONSTÂNCIAS,
ENGANOS E DESILUSÕES
DAS PRISIONEIRAS E FUGITIVAS,
INICIAM O CLAMOR DO AMOR
NOS JOVENS ANOS QUERIDOS,
ÁVIDOS A SEREM VIVIDOS.
COMPOR
É UM FEITIÇO
DE AGRADÁVEL
COMPULSÃO
EM CRIAR
FANTASIAS,
MISTÉRIOS,
SEDUÇÕES.
CATARSE
NA POESIA.
CONFISSÕES
DE CRITÉRIOS,
MUITAS
INQUIRIÇÕES,
ALGUNS
DESPAUTÉRIOS,
VÁRIAS SENSAÇÕES.
NOS REFLEXOS DA ALMA
HÁ UM ESPELHO DOURADO,
PEQUENO, QUADRADO.
UMA SALA SOLENE,
UM VASO CHINÊS,
UM PORTA RETRATO.
NO FUNDO DA IMAGEM,
UM MENINO CORRENDO,
PASSANDO, SE VENDO.
O MENINO BRINCANDO,
CAINDO, BRIGANDO,
CRESCENDO, SE VENDO.
NO ESPELHO DOURADO
O MENINO FORMADO.
ALGUMAS LUTAS VENCEU.
VÁRIAS VIDAS VIVEU.
E O ESPELHO DOURADO,
PEQUENO, QUADRADO,
NO TEMPO PERDEU.
OLHOS MAGOADOS,
OLHOS AUSENTES,
TENTANDO O PASSADO
VIVER NO PRESENTE.
OLHOS SEM COR,
EM TRISTE TORPOR,
SEM MAIS FIXAR,
POIS NÃO HÁ TEU OLHAR.
OLHOS VAZIOS,
SEM CALOR.
TORNARAM-SE ARREDIOS.
OLHOS VADIOS!
JÁ NEM OLHOS DE DOR,
JÁ NEM MÁGOA ABAFADA,
SÓ OLHOS, MAIS NADA,
AQUELES OLHOS DE AMOR.
TELENY
TELENY OU O REVERSO DA
MEDALHA
Autor: Oscar Wilde e
Amigos
Editora HEDRA
2008
Um jovem aristocrata
Camille des Grieux, ao assistir um concerto beneficente, do qual sua mãe é
uma das patrocinadoras, sente despertar uma forte emoção ao encontrar o
violinista húngaro René Teleny. Este, ao vê-lo, do palco, também fica
impressionado mas, age como se já esperasse o encontro, como algo predestinado.
Toca maravilhosamente bem, em função de um amor que pressente. Camille, assustado
com o aflorar desse sentimento tão exacerbado por um homem, prefere não mais encontrá-lo,
evitando seus concertos e sua presença. Tenta, como prova a si mesmo, seduzir
uma jovem empregada da casa, mas, apesar do desejo, não conclui o ato porque a
moça não o permite. Continuando a se enganar, vai a um bordel feminino de baixa
categoria, com amigos, e sai enojado, não apenas sexualmente, mas com o retrato
da miséria humana desses locais. Ao saber, por sua mãe, que o violinista vem
tocando muito mal e está quase sem plateia, volta, uma noite ao teatro,
escondido no fundo do camarote, interessado em revê-lo. Sem olhar, mas ao
sentir a presença de Camille, ele começa a executar uma peça triste,
admiravelmente bem tocada, deixando o público, novamente, encantado.
Ao encontrarem-se,
Camille aceita o convite do artista e não mais bloqueia seus anseios. Os dois
iniciam um romance e o jovem aristocrata conhece a felicidade na companhia e
nos braços do violinista.
Embora felizes, Teleny,
descendente de ciganos, tem presságios de que alguma coisa poderia
estragar tão intenso amor. Mais experiente nas práticas homo afetivas, o
violinista delicia Camille, que sente-se cada vez mais atraído. Frequentam
festas e algumas orgias de extremo exagero, encontrando nobres, autoridades e
pessoas que Camille jamais imaginaria poderem estar ali. O casal é invejado por
muito dos presentes, pela alegria que demonstram em terem um ao outro.
Gastando mais do que
podia, o violinista acaba com dívidas e ao saber que Camille quer pagá-las, recusa
totalmente. Sem contar, Camille salda os débitos.
Sua mãe, admirando o amigo do filho,
fala cada vez mais sobre sua arte e beleza.
Embora sabendo que
seria um absurdo, Camille chega a sentir um pouco de ciúmes.
Uma sutil mudança
começa a ocorrer na união dos dois e o jovem aristocrata sente algo misterioso quando
o violinista adia encontros e faz viagens inesperadas. Com ciúmes, passa a
rondar sua casa, da qual, inclusive, possuía a chave de entrada, mas nada vê.
O artista
sempre volta a encontrá-lo, amando loucamente, apaziguando-o. Seu olhar, porém,
expõe uma tristeza que Camille não consegue interpretar. Os dois sabem que se
amam e que não poderiam viver separados. Ao se tocarem, os corpos ardem de amor
e desejo.
No entanto, Camille
continua inseguro. Uma noite, na qual o artista diz ter que viajar, antes da
despedida, Camille quer confessar que, por carinho, saldou suas dívidas.
Mas a carruagem chega e o jovem nada diz. Num último
abraço, Teleny parece um fantasma, com os olhos cheios de agonia. Camille, mais uma vez, fica intrigado.
Aproveitando a ausência do amigo, volta ao seu escritório e
interessa-se por todo o serviço que tinha deixado a cargo de seu administrador.
Trabalha até o anoitecer. Já muito tarde, vai vagando a esmo. Quando, por
saudades, seus passos o levam até a casa de seu amor, vê luz e movimentos. Tudo
deveria estar vazio. Desconfiado de ladrões, usa sua chave e, sem qualquer
barulho, chega ao quarto do violinista.
Escuta vozes. Sem querer acreditar, olhando pelo buraco da fechadura, vê
uma linda jovem senhora, revelando um corpo maravilhoso, no ato do amor com o artista. Querendo fugir, sem saber como agir ante a decepção, não refreia sua
curiosidade e entra abruptamente no quarto, vendo que a jovem senhora é a sua
mãe. Sai atarantado, sem reações, completamente aturdido. Vai até o rio, aonde
joga-se. É salvo por desconhecido e passa dias numa clínica. Quando melhora, sua
primeira intenção é voltar à casa do amante, pedindo uma explicação, pois não
consegue deixar de amá-lo e até perdoá-lo. Ao chegar, escuta gemidos e vê
o violinista com uma faca enterrada no peito. Num esforço final, ele declara seu amor a Camille e morre
em seus braços. O jovem aristocrata fica doente por semanas e o drama sai em jornais, de
maneira velada.
Teleny deixa uma carta a
Camille dizendo que, como a mãe dele tinha pago suas dívidas e estava apaixonada por ele, esta foi a única maneira de indenizá-la, a única razão de sua
infidelidade.
Toda essa história,
desde seu início, Camille está contando para um amigo não revelado. Quando ele
pergunta sobre o que aconteceu com a mãe, o filho diz que uma outra vez
contaria as aventuras dela.
Considerações:
O livro, ao que se
pensa, foi escrito por amigos de Oscar Wilde e teria sido revisado por ele.
Publicado pela Livraria Francesa de Londres, em 1893, os 200 exemplares foram
recolhidos, juntamente com os manuscritos e colocados numa caixa, no Museu
Britânico. Poderia ser consultado, mas só seria publicado, novamente, em 1986.
A ação parece acontecer
em Paris (o que não fica claro, apesar de nomes e certas frases serem
ditas em francês, principalmente no bordel).
Se for verdadeiro, o
fato torna o livro mais curioso, como se, sendo ambientado na França, país de
conhecidas liberdades, pudesse ser validado ante a censura inglesa. No entanto,
foi escrito por ingleses e revisado por um irlandês.
Seu texto, muito
romântico, é bastante obsceno nas descrições dos relacionamentos. O exagero do
amor, o arrebatamento, os estremecimentos de deleite, a liberdade licenciosa,
os êxtases, revelados nos seus mais íntimos detalhes físicos, me pareceram, mais
do que uma gratuita pornografia, uma proposital vontade de rebeldia dos
autores, ao divulgar a homossexualidade existente na Inglaterra, (punida pela
lei), mas conhecida e abafada, conforme os interesses do falso moralismo do
período vitoriano.
Contudo, o próprio conceito
da obra, na minha opinião, vem a ser contraditório, porque demonstra uma essência muito moralista,
ao fazer com que seus principais personagens sofram grande tragédia,
terminada na morte de um deles, como se tal amor jamais pudesse dar certo na
vida real e precisasse, ainda, ter o supremo castigo do espantoso envolvimento
da figura materna.
Talvez, esse final tenha
sido criado, até pela existência de resquícios morais latentes no subconsciente
de seus escritores, como se precisassem dar uma justificativa a um texto tão
sensual e ousado, inconcebível de ser publicado e aceito, na época.
Obs: Oscar Wilde
(1854-1900) famoso romancista irlandês, casado e pai de dois filhos, ao se
apaixonar (e ser amado) por um jovem aristocrata inglês, foi processado e preso
por homossexualismo, de 1895 a 97, em Londres. Após sua liberdade passou a
viver na França e na Itália. Escreveu obras famosas como:
O Retrato de Dorian Gray, Salomé, O Príncipe Feliz, O
Leque de Lady Windermere, O Jovem Rei, O Fantasma de Canterville e Contos.
AH! O SAGRADO EVANGELHO
COMO SE TORNOU VELHO
PARA A CONVIVÊNCIA ATUAL.
TODOS OS BONS PRECEITOS
CEDERAM ANTE NOSSOS DEFEITOS.
AMAI COMO A TI MESMO,
VIROU CONCEITO A ESMO.
COM A COBIÇA QUE ATIÇA,
DÊ A DEUS O QUE É DE DEUS,
O MUNDO MODERNO DEU ADEUS.
E É TÃO CONTRADITÓRIO.
É NOTÓRIO QUE TODOS QUEREM PAZ,
MAS NINGUÉM SE PREOCUPA MAIS.
A INTENSA INDIFERENÇA
ENFRAQUECEU NOSSA MORAL
PARA AFASTAR ESSE CAOS.