LIVRO: AQUÉM DO ALÉM - UM POUCO DE AMOR

A ÚLTIMA CENA, ACENA.
FICAM, NA LEMBRANÇA,
A INOCÊNCIA DE CRIANÇA,
O CARINHO RECEBIDO,
OS CAMINHOS PRETENDIDOS,
AS ALEGRIAS E UTOPIAS. 

O AFETO NA FAMÍLIA,
A BONDADE NA AMIZADE.
O CONFORTO NO APREENDER
O ALENTO DO CONHECIMENTO,
O FASCÍNIO DA CRIATIVIDADE. 

MUITOS AMORES,
AÇÕES E PERCEPÇÕES.
O VALOR DOS AFAGOS ABRAÇOS
A SUPRIR DOÍDOS ESPAÇOS,
E CONSOLAR VÁRIAS EMOÇÕES. 

DA SEIVA NUTRIDA
NA CONQUISTA DE TRAJETOS,
AS ASPIRAÇÕES COLHIDAS
PROPICIAM O DIZER:
VIVI O PROJETO VIVER.

LIVRO: AQUÉM DO ALÉM - UM POUCO DE IRA!

NA POLÍTICA,
A ÉTICA NÃO COMPETE
AOS QUE A QUEREM POSTULAR,
JÁ QUE NÃO A TEM PARA JULGAR.

AGEM NUMA FARSA, QUE DÁ ASCO,
POIS, NÃO PASSAM DE UM GRANDE FIASCO.
MENTEM DESCARADAMENTE
E ENALTECEM A VERDADE TRANSPARENTE.

ACHAM QUE A LEI É UM JOGO APLICADO
CONFORME O VALOR NEGOCIADO.
O ÚNICO IDEAL É O PRÓPRIO INTERESSE.
E O ELEITOR, MAIS UM TOLO ENGANADO.
UM SERVO DO ESTADO, A SER ESPOLIADO.

LIVRO: AQUÉM DO ALÉM - SENTIDO FIGURADO

A BORBOLETA ENTROU.
VOOU... VOOU... E POUSOU.
NOS RAIOS DOURADOS
DA ASA PRETA,
VIA-SE O PRIMOR
QUE A NATUREZA IMPRIME
NA COR DAS AVES,

ALGUNS INSETOS
E NAS FLORES.

NOVAMENTE VOOU
E POUSOU, TRANQUILA.
REPENTINAMENTE,
LANÇOU-SE INQUIETA,
DEBATENDO SUA BELEZA
NA BUSCA DE UM CAMINHO,
COMO SE APRISIONADA.
VOOU ... AFLITA,
ATORDODADA,
ATÉ ESCAPAR

POR ONDE ENTROU,
LIBERTA, ALIVIADA!

LIVRO: AQUÉM DO ALÉM - UM POUCO DE DOR!

AH! VIDA,

SE TANTO ERREI, ME PERDOE.
POR SACRIFÍCIOS QUE FAÇA
OU SÚPLICAS QUE ENTOE,
CONTINUA ÁRDUA A CULPA
DOS INSANOS ENGANOS.

E, TÃO TRISTE
QUANTO O TORMENTO
DO ARREPENDIMENTO,
A PRESENÇA CONTÍNUA
DA AUSÊNCIA QUERIDA,
NÃO DEIXA ESQUECER
SER IMPOSSÍVEL FALAR
TUDO O QUE ANSEIO DIZER.
                                                                
(É PARA MIM)

                  

LIVRO AQUÉM DO ALÉM - ADEUS À GODARD ?!

ADEUS À LINGUAGEM
DIREÇÃO: JEAN LUC GODARD
ANO:2015

A SINOPSE NÃO PODERIA SER MAIS SIMPLES: UMA MULHER TEM UM ROMANCE COM UM HOMEM. (UM FOTÓGRAFO?). PARECEM AMANTES, JÁ QUE ELE FAZ
PERGUNTAS SOBRE O MARIDO. SÃO ACOMPANHADOS POR UM SIMPÁTICO
CACHORRO, QUE ELA PREFERE TER, PARA SUBSTITUIR UM FILHO. DURANTE TODO O FILME, O CASAL DISCUTE A EXISTÊNCIA E  O RELACIONAMENTO, QUE JÁ SUPORTOU GRANDES BRIGAS, ATÉ COM SANGUE, REPETIDAMENTE MOSTRADO, NO SENTIDO DA FRAGILIDADE DAS UNIÕES.
AO ANIMAL, QUE VAGA, PLÁCIDO, PELAS CENAS, (ENTRE AS MAIS BONITAS,
PROPOSITALMENTE) A AÇÃO HUMANA, NÃO PASSA DE TOTAL ABSTRAÇÃO. A ELE INTERESSA, APENAS, O QUE FOR ÚTIL À SUA NATUREZA, NUMA METÁFORA DE QUE O HOMEM ESTÁ PERDENDO A VISÃO DO NECESSÁRIO, NO MUNDO EM QUE VIVE.
SEMPRE TIVE A IMPRESSÃO QUE GODARD FALA PARA SI. NO FILME,  FAZ COM QUE O CASAL EMITA INÚMERAS IDEIAS FILOSÓFICAS E POLÍTICAS, NUMA NARRATIVA COMPLICADA, ENTREMEADA POR INTERMINÁVEIS CITAÇÕES.
NO INÍCIO, APÓS CENAS DE UM BELO VAPOR, UM PORTO E PESSOAS, HÁ UM SENHOR FOLHEANDO LIVROS DE EZRA POUND, DE DOSTOIEVSK, DO POETA SOLZHENYTSEN E OUTROS, COMO A ESSÊNCIA DA LITERATURA. AO LADO, JOVENS ESPIAM O MESMO POETA RUSSO PELO CELULAR, SEM MAIORES
REVERÊNCIAS. TERIAM A INTENÇÃO DE DIZER QUE A TÉCNICA SUBSTITUIRÁ A
LEITURA TRADICIONAL? SERIA UM CONFLITO DE GERAÇÕES? OU TUDO É A MESMA COISA, SÓ DIFERENCIANDO O VEÍCULO?
OUTROS FATOS ACONTECEM ENTRE UM SENHOR AUTORITÁRIO QUE QUER
DOMINAR UMA JOVEM, QUE É, POR ELE, CONSTANTEMENTE MALTRATADA. MAS, QUE NÃO SE DEIXA VENCER, POIS PARA ELA, NADA IMPORTA.
SERIA A JUVENTUDE DESESTIMULADA COM O PODER OU O PODER LUTANDO CONTRA O NOVO? TUDO É TÃO DISCUTÍVEL, COMO ENTENDIMENTO, QUE A HISTÓRIA E A REPRESENTAÇÃO PARECEM APENAS ACESSÓRIOS PARA O PROSELITISMO DO DIRETOR, COMO SEMPRE.
PRODUZIDO EM 3D, ADEUS À LINGUAGEM APRESENTA INCOMPREENSÍVEL FRAGMENTAÇÃO DE IMAGENS, SONORIZADAS POR INEXPLICÁVEIS RUÍDOS.        
A EDIÇÃO DAS CENAS É REPENTINA E HÁ EXAGERADA SATURAÇÃO DE CORES.
APESAR DE COMO ARTE SEREM TELAS PICTÓRICAS INTERESSANTES, TAL ATITUDE PODE CONTER UMA CRÍTICA À NOVA TÉCNICA, COMO QUE PARA DESMISTIFICÁ-LA, JÁ QUE GODARD SEMPRE FOI CONTRA O CINEMA COMERCIAL, ESPECIALMENTE O NORTE-AMERICANO. HÁ, INCLUSIVE, TECNICAMENTE, UMA INVERSÃO DA 3D, LANÇADA PARA O FUNDO DA CENA.
AS TOMADAS MAIS BONITAS SÃO AS LIGADAS À NATUREZA, COM O CACHORRO PASSEANDO POR ELAS. O BELO VAPOR NAVEGA EM TRANQUILAS ÁGUAS, COM INTERMINÁVEIS IDAS E VINDAS E PESSOAS SUBINDO E DESCENDO.
(SERIA A INSINUAÇÃO DE COMO DEVERÍAMOS CONVIVER NO BARCO DA VIDA? )
NAS CENAS INTERNAS DO CASAL, A TELEVISÃO ESTÁ, CONTINUAMENTE, LIGADA EM FILMES ANTIGOS, OSTENTANDO O PASSADO NO PRESENTE. DIVERSAS VEZES, O ÁUDIO CONTÉM FRASES FORA DO CONTEXTO DA IMAGEM.
NA CONTINUADA CONVERSA COM A AMANTE, O RAPAZ DIZ FOTOGRAFAR A REALIDADE SOCIAL AO LADO DA NATUREZA. COMO SE O HOMEM ESTIVESSE
POUCO LIGADO À ELA, MODIFICANDO-A E CRIANDO INVENÇÕES INÚTEIS.
A MENSAGEM, AQUI, PODERIA SER UM TRISTE ADEUS À LINGUAGEM VERBALIZADA, EM RAZÃO DE SER, CADA VEZ MAIOR, A UTILIZAÇÃO DA ELETRÔNICA. NESSE SENTIDO, CITA OPINIÕES DE JACQUES ELLUL, COMO UM GRANDE PROFETA DO FUTURO TÉCNICO-CIENTÍFICO, DO TERRORISMO SOCIAL, DA FORÇA DA PROPAGANDA, DA NANOTECNOLOGIA.  ESSE TEÓRICO, FOI, SEMPRE, CONTRÁRIO AO GOOGLE, IPHONES, E-MAILS.                             
AS MAIS DIFERENTES AÇÕES, COM MUITO NUDISMO, SEXO E NATURALISMOS
ESCATOLÓGICOS, SÃO EXIBIDAS. PARA O RAPAZ, NA REALIDADE, SÓ EXISTE IGUALDADE, ENTRE OS HUMANOS, NO SEXO E NA UTILIZAÇÃO DO BANHEIRO.
INÚMERAS SÃO AS REFERÊNCIAS À MONET, SHELLEY, FAULKNER, EINSTEIN, RODIN, RILKE E TANTAS OUTRAS, ÀS VEZES CONTRADITÓRIAS, SOBRE O PROPÓSITO DE NÃO HAVER NECESSIDADE DE CRIAR O DESNECESSÁRIO, QUE O HOMEM É INSENSÍVEL AO SEU AMBIENTE E QUE SÓ OS DIFERENTES SÃO LIVRES.
O DEBATE EXISTENCIAL CONTINUA COMENTANDO A CONVIVÊNCIA, A FALTA DE SIMPLICIDADE NO VIVER, A CRIAÇÃO DO HOMEM, POR DEUS, PARA SER HUMILHADO, O DESEJO ODIOSO DE FELICIDADE E O PROLETARIADO NO COMANDO DO PODER. TODAS AS CITAÇÕES SÃO FEITAS PELOS PROTAGONISTAS, POR OUTROS INESPERADOS PERSONAGENS OU POR LEITURAS. O FILME É ENTRECORTADO, POR TEMAS: ADEUS – LINGUAGEM - A DEUS E, POR VÁRIOS SUB-TÍTULOS, COMO EM OUTROS FILMES DO DIRETOR.
COM AÇÃO DESCONTÍNUA, PARECE UM JOGO A SER MONTADO.
ALÉM DA COR, É FILMADO EM BRANCO E PRETO E SÃO UTILIZADAS CENAS REAIS, DE ANTIGOS FILMES. HÁ MOMENTOS EM QUE A TELA É INTEIRAMENTE COBERTA, POR RABISCOS E POR INTERVALOS EM PRETO (?!).
E O FILME ACABA EM COLORIDAS E BELAS PAISAGENS.
ESTE CINEASTA FRANCÊS, INOVADOR E DIFERENTE, EMBORA, ÀS VEZES, AINDA SURPREENDA, TORNOU-SE, INFELIZMENTE, INEXPLICÁVEL, PARA MIM, HÁ MUITO TEMPO. O JEAN LUC GODARD DE ACOSSADO ME PARECEU GENIAL.
OUTROS, COMO O DESPRÊZO, PIERROT LE FOU E A CHINESA, FORAM O DERRADEIRO ENTENDIMENTO. AO ASSISTIR E TENTAR DECIFRAR NOVOS FILMES, DESISTI.
ESTE, APRESENTA CENAS DE ÁGUAS, CÉU E FLORES MUITO BONITAS.
A COMPREENSÃO FICA AO CRITÉRIO DA OPINIÃO DE CADA UM.
APESAR DE DIZER MUITAS VERDADES, QUERENDO CRITICAR E ENSINAR O MELHOR VIVER (MESMO NÃO SENDO NENHUM SPINOZA OU NIETZCHE), CONTINUO REPETINDO QUE, PELO SEU EGO EXAGERADO, ACREDITO QUE A ELE SÓ INTERESSE FILOSOFAR, UTILIZANDO UMA RETÓRICA IDEOLÓGICA POLÍTICA JÁ ANTIGA, ANTE A REALIDADE DO MUNDO ATUAL.      
PREOCUPA-SE, AINDA, EM CONTINUAR A CLAMAR POR MAO E CHE GUEVARA, COMO ANTERIORMENTE EXALTAVA O MESMO MAO, LENIN, CASTRO, KOSSYGUINE E OUTROS, NUMA CONTÍNUA ACUSAÇÃO AO CAPITALISMO, QUE, NO ENTANTO, USUFRUI.
TEM RAZÃO QUANDO ATACA O PODER DO ESTADO E O CIDADÃO SER
SUBMETIDO ÀS SUAS MENTIRAS, O QUE ACONTECE EM TODO REGIME POLÍTICO,
CAPITALISTA OU SOCIALISTA.
TENHO A IMPRESSÃO QUE NESTA FILMAGEM, SUA CRÍTICA SE REFERE,
A GRANDE IMPOSIÇÃO, À VIDA, DA TECNOCRACIA GLOBAL.
AS REDES SOCIAIS ESTÃO INSTITUINDO NOVOS MEIOS DE CONVIVÊNCIA, NOVA ESCRITA E NOVAS METÁFORAS. UM FILME COM O TÍTULO ADEUS À LINGUAGEM, FAZ PENSAR QUE, ENTRE AS DIVERSAS CONJECTURAS, O SIGNIFICADO POSSA SER A INVASÃO VIRTUAL, JÁ INSINUADA NO INÍCIO, NO CONFRONTO ENTRE LIVROS E CELULARES. ENTRE IDOSOS E JOVENS. E O ABANDONO AOS ANTIGOS VALORES CULTURAIS. TALVEZ, SEJA POR ISSO QUE A PRIMEIRA CAPA DE LIVRO QUE APARECE É DE POUND, QUE FAZIA REUNIÕES CONTRA A DESAGREGAÇÃO LITERÁRIA NO MUNDO MODERNO.   
SE REALMENTE FOR A PRINCIPAL MENSAGEM, ESSA INTERAÇÃO, AO DIRETOR, NÃO DEVIA MAIS SER ESTRANHA. É A VOZ DA JOVEM GERAÇÃO QUE CONTINUARÁ INOVANDO, ABRANGENDO O PENSAMENTO ESCRITO POR MEIO DA IMAGEM. NÃO CREIO QUE UMA NOVIDADE VENHA DESTRUIR O SIGNIFICADO DE OUTRA. NÃO HÁ DIMINUIÇÃO, HÁ CONTINUIDADE, ACRÉSCIMO E MODIFICAÇÕES. PELO MENOS ASSIM IMAGINO. O LIVRO PODERÁ ACABAR, EM PAPEL, MAS A LITERATURA SOBREVIVERÁ EM E-BOOKS, COMPUTADORES E NAS NUVENS, COMO, TAMBÉM, TODAS AS OUTRAS ARTES E AS CIÊNCIAS. O SUPORTE PODERÁ SER DIFERENTE. A ESSÊNCIA SERÁ QUASE SEMPRE A MESMA, SE, MENTALMENTE, NÃO NOS MODIFICARMOS, POIS, PARAFRASEANDO OS FILÓSOFOS RICHARD AVENARIUS, NO SÉCULO 19 E ORTEGA Y GASSET, NO SÉCULO 20,  E AMPLIANDO O CONCEITO PARA A ATUALIDADE, NÓS SOMOS NÓS, NAS NOSSAS CIRCUNSTÂNCIAS. NA WEB, AS PESSOAS CONTINUARÃO SE INFORMANDO, ESCREVENDO E LENDO.
NO CINEMA, QUE VENHAM OUTRAS DIMENSÕES, COMO A HOLOGRÁFICA, COM A AÇÃO AO VIVO, COMO, ALIÁS, JÁ É POSSÍVEL NA TELEVISÃO.
A LINGUAGEM SEMPRE FOI DINÂMICA. SE ANTES EXPRESSAVA-SE POR SONS GUTURAIS, POR ESCRITOS À PEDRA OU POR TAMBOR, HOJE COMUNICA-SE, AO PLANETA, EM SEGUNDOS, PELA INTERNET. E NOVAS TÉCNICAS CONTINUARÃO A SURGIR.
A CIÊNCIA NÃO TEM LIMITES TANTO EM RELAÇÃO AO SER HUMANO QUANTO AO UNIVERSO. NO FUTURO, ATRAVÉS DA IMPLANTAÇÃO DE ELETRODOS NO CÉREBRO, A COMUNICAÇÃO TALVEZ SEJA TRANSMITIDA E CONTROLADA POR PENSAMENTOS. A NEUROCIÊNCIA, A MODIFICAÇÃO GENÉTICA E OUTRAS POSSIBILIDADES, PODERÃO CRIAR UM NOVO SER, FÍSICA E MENTALMENTE COM MAIOR AUTO CONTROLE. CONTINUARÃO AS MESMAS EMOÇÕES? O INTELECTO SE TORNARÁ MAIS SÁBIO? O QUE AGUARDAR, EM RELAÇÃO A NÓS MESMOS.
ENFIM, DEIXANDO AS DIVAGAÇÕES E VOLTANDO À SÉTIMA
ARTE, COM DIFERENTES EXPRESSÕES OU NÃO, OS FILMES, COMERCIAIS E EXPERIMENTAIS, SEMPRE EXISTIRÃO.
RESUMINDO AS INFERÊNCIAS ALCANÇADAS NESTE, ADEUS À LINGUAGEM
É UMA PRODUÇÃO QUE DEFENDE, EM AÇÕES OU CITAÇÕES, A VIDA NATURAL CONTRA A ARTIFICIAL, REFLETE A FRAGILIDADE DA EXISTÊNCIA ANTE SI MESMA, ANTE OS GOVERNOS, ANTE A COMPLEXIDADE DOS COSTUMES SOCIAIS E SOBRE A AMEAÇA DO EXCESSO VIRTUAL À LINGUAGEM TRADICIONAL.
ENTRE CENAS BONITAS, RUDES, ESCURAS OU FEIAS, DIZ O QUE JÁ SABEMOS:
A DESIGUALDADE SOCIAL PROSSEGUIRÁ, BEM COMO AS GUERRAS, DESTRUIÇÕES E A CEGUEIRA ECOLÓGICA, ENQUANTO O ANIMAL HUMANO CONTINUAR IGUAL. 

ESTAS CONSIDERAÇÕES TERÃO SENTIDO SE FOR ISSO MESMO QUE O FILME QUIS DIZER. SE NÃO FOR, ENTÃO, QUE O CINEASTA ME PERDOE.
ENTENDI MENOS, AINDA, DO QUE PENSAVA.

OBS: O TÍTULO, DESTAS CONSIDERAÇÕES, REFERE-SE A MIM. NÃO AO DIRETOR.

LIVRO AQUÉM DO ALÉM - EM CADA ESQUINA

NÃO CONSIGO MAIS

VER TANTA POBREZA!
QUE A VIDA ME PERDOE
MAS, NÃO DÁ PARA SUPORTAR
EM CADA ESQUINA,
A MISÉRIA DE UMA SINA.

ISSO FAZ COM QUE EM MIM RESSOE
UM NOJO PELA FATÍDICA POLÍTICA,
PELA IMORAL JUSTIÇA SOCIAL.  
E PELO RELIGIOSO CINISMO,
QUE SÓ REFORÇA MEU ATEÍSMO.

SE EXISTISSE UM SER SUPREMO,
COMO DEIXARIA CHEGAR AO EXTREMO
DO SER HUMANO COMER LIXO, NAS RUAS.
PARA A SOCIEDADE FICOU TRIVIAL
VER GENTE VIVER AO ACASO,
DOENTES, SUJAS, SEMI NUAS.
E POUCO ESCONDEM, O DESCASO.

INCAPAZ, ANTE A GRAVIDADE,
DESEJO FUGIR, ME ILHAR.
MAS, COMO ME ESCONDER
E FINGIR IGNORAR?

LIVRO: AQUÉM DO ALÉM - A MORTE ACIDENTAL DE UM ANARQUISTA-CONSIDERAÇÕES

A MORTE ACIDENTAL DE UM ANARQUISTA
AUTOR: DARIO FO
DIREÇÃO: HUGO COELHO
COM: DAN STULBACH, HENRIQUE STROETER, RIBA CARLOVICH, FERNANDO SAMPAIO, MAÍRA CHASSERAUX E RODRIGO BELLA DONA.
TEATRO PORTO SEGURO (SP)
PRIMAVERA DE 2015

ESCRITO EM 1970, ESTE TEXTO, SÓCIO-POLÍTICO, BASEADO NUM CASO VERDADEIRO, RELATA, O SUICÍDIO, NÃO ESCLARECIDO, DE UM FERROVIÁRIO. CONSIDERADO ANARQUISTA, EM UMA DELEGACIA DE POLÍCIA DE MILÃO, NA ITÁLIA, É ACUSADO DE COLOCAR UMA BOMBA NUMA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA, MATANDO VÁRIAS PESSOAS.
SEM DESCOBRIR A VERDADE E PRESSIONADA PELA IMPRENSA, A POLÍCIA O RESPONSABILIZA COMO CULPADO PELO ATENTADO E CAUSA SUA MORTE.
UTILIZANDO-SE DESSE FATO QUE INDIGNOU A OPINIÃO PÚBLICA ITALIANA PELA FALTA DE PROVAS, O AUTOR DARIO FO, EM FORMA DE CÁUSTICA COMÉDIA, ESCREVEU ESTA PEÇA, NA QUAL UM DOENTE MENTAL, SAÍDO, DIVERSAS VEZES, DE UM HOSPÍCIO, TEM A ENFERMIDADE DE PASSAR-SE POR PERSONAGENS, TAIS COMO ENGENHEIRO, MÉDICO, BISPO E SONHA, UM DIA, PASSAR-SE POR UM JUIZ.
DETIDO POR FALSA IDENTIDADE, É LEVADO PARA A MESMA DELEGACIA DO FATÍDICO ACONTECIMENTO. E VÊ SURGIR SUA OPORTUNIDADE.
FAVORECIDO PELO FATO DO ÚNICO FUNCIONÁRIO QUE O SABIA INSANO, PRECISAR SAIR, APÓS INTENSA ARGUMENTAÇÃO, O ALIENADO ACABA CONVENCENDO OS POLICIAIS SER UM INSPETOR, ENCARREGADO DE ESCLARECER O CASO. QUESTIONA A TODOS, FAZENDO-OS REPETIR AS CENAS ACONTECIDAS. ASSIM, PODERIAM EXPLICAR, MELHOR, COMO OCORREU A MORTE.
SEM SABEREM A VERDADE E SENTINDO-SE CULPADOS, ELES OBEDECEM.
ENTRE OS PERSONAGENS DO ELENCO, HÁ A DE UMA JORNALISTA, QUE DUVIDANDO DA DECLARAÇÃO OFICIAL, TENTA AJUDAR A ELUCIDAR A QUESTÃO.
CAINDO EM VÁRIAS CONTRADIÇÕES, ARMADAS PELA INVESTIGAÇÃO DO DEMENTE, FICA CLARO, O QUE É TÃO COMUM EM QUALQUER DELEGACIA DE POLÍCIA, DE TANTOS PAÍSES: OS POLICIAIS, EMBORA JAMAIS CONFESSASSEM, JOGARAM O PSEUDO ANARQUISTA PELA JANELA E DERAM AO ASSASSINATO, A DESCULPA DE SUICÍDIO, PRETENDENDO ENCERRAR O CASO.
O LOUCO PENSA APENAS EM DIVERTIR-SE COMO JUIZ E ATORMENTAR OS FUNCIONÁRIOS E O DELEGADO, POIS, ATÉ PARA ELE, AS INÚMERAS INCOERÊNCIAS DOS INTERROGADOS EVIDENCIAM A MENTIRA.
A ENCENAÇÃO É INTERESSANTE E INICIA-SE, COM ATORES, VINDO DO FUNDO DA PLATEIA, TOCANDO ALEGRE CANÇÃO. NO PALCO, LOGO DE INÍCIO, HÁ UMA EXPLICAÇÃO SOBRE O CASO, FEITA POR DAN STULBACH, NUMA GRANDE INTEIRAÇÃO COM O PÚBLICO, ATRAVÉS DE PERGUNTAS, DE NARRAÇÃO DE HISTÓRIAS QUE AINDA NADA TÊM A VER COM O TEMA, EM COMO SE PENSOU REALIZAR A MONTAGEM TEATRAL E MUITAS CONVERSAS E BRINCADEIRAS, NUMA DESCONTRAÇÃO PROPOSITAL.
ALÉM DOS ATORES, UM TECLADISTA FAZ A IMITAÇÃO DE SONS, COM A BOCA, E TOCA OS ACORDES NECESSÁRIOS AO CLIMA DO MOMENTO EXIBIDO, DANDO GRANDE MOVIMENTAÇÃO AO ESPETÁCULO.
APESAR DE TRATAR-SE DE UMA FARSA SOBRE UM GRAVE CASO POLICIAL, NÃO SEI SE O ORIGINAL ITALIANO EXIGE TANTA COMICIDADE COMO ESSA ENCENAÇÃO APRESENTOU.
À MEDIDA QUE SE DESENVOLVE O TEXTO, OS ATORES INCLUEM VÁRIAS IMPROVISAÇÕES, PERCEBIDAS PELA ASSISTÊNCIA, PROVOCANDO O RISO DE TODOS, PRINCIPALMENTE O DELES MESMOS, QUE PARECEM DIVERTIREM-SE COM A ATUAÇÃO. NÃO QUE ISSO PREJUDICASSE A PEÇA, QUE ALIÁS É, MESMO, UMA GRANDE DENÚNCIA, EM TOM DE PARÓDIA. MAS, FICA MUITO EVIDENTE A FOLIA NO PALCO, COMO UMA GOSTOSA ANARQUIA.
O CENÁRIO APRESENTA UMA BEM CONSTRUÍDA REPARTIÇÃO PÚBLICA POLICIAL. OS ATORES ESTÃO BONS, SUSTENTANDO, CONVENIENTEMENTE, A ENCENAÇÃO E SATISFAZENDO OS ESPECTADORES QUE DELEITARAM-SE COM A BURLESCA AÇÃO.
PARA MIM, A REPRESENTAÇÃO PODERIA SER MAIS SÉRIA. ASSIM O RISO NÃO SUPLANTARIA A GRAVIDADE DO ACONTECIDO. MAS, COMO DISSE, NÃO SEI SE O AUTOR EXIGE ESSA ANÁRQUICA LIBERDADE, NÃO SÓ PARA RIDICULARIZAR O ATO POLICIAL, JÁ QUE UM LOUCO SE PASSA COMO JUIZ DO FATO, MAS, ACENTUAR A FARSA DO QUE É A JUSTIÇA, QUANDO AGE CONFORME O PRÓPRIO INTERESSE.
OU, TALVEZ, TAMBÉM, SÓ PUDESSE REVELAR A INCRIMINAÇÃO ATRAVÉS DE UMA OBRA BUFA, VISTO, NA ÉPOCA, A ITÁLIA ESTAR SOFRENDO INÚMEROS PROBLEMAS EM RELAÇÃO À POLÍTICA, À MAFIA, À TERRORISTAS E PROTESTOS POPULARES GENERALIZADOS.                              

DE QUALQUER MANEIRA O PÚBLICO, RINDO COMO SE TIVESSE ASSISTIDO UMA BOA COMÉDIA, PARECE SAIR DO TEATRO, SEM SUBSÍDIOS PARA REFLEXÃO SOBRE A GRAVIDADE DO TEMA: QUE OS POLICIAIS PODEM SER TÃO ASSASSINOS COMO OS BANDIDOS.

NA VIDA REAL, ESSE CASO FOI ESCLARECIDO MUITOS ANOS DEPOIS. 

OBS: DARIO FO, ESCRITOR E DRAMATURGO ITALIANO, ESCREVEU VÁRIOS LIVROS E PEÇAS TEATRAIS. ENTRE VÁRIAS LÁUREAS, RECEBEU O PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA EM 1997.