LIVRO VIDE VERSO - CULPA LATINA

O LADINO,
LATINO
SENTIMENTO DE CULPA
É UMA CATAPULTA.

LANÇA DARDOS
MORAIS E RELIGIOSOS
PARA MINAR A TRANQUILIDADE
E TRANSFORMAR EM ERRO
AS ÂNSIAS NATURAIS.

É A EROSÃO QUE CORRÓI
O DIREITO À FELICIDADE.
A OPRESSÃO SENIL QUE CERRA,
HÁ TEMPOS IMEMORIAIS,
OS PROTESTOS DA VERDADE.

LIVRO VIDE VERSO - VAGAR NA RUA

VAGAR NA RUA,
NA VIDA.
OLHAR TUDO,
                    NÃO SER VISTO.

LANÇAR UM GRITO MUDO,
SORRIR UM RISO FIXO,
DESEJAR UM ROÇAR,
                      UM ESBARRÃO.

E SONHAR,
INVENTAR UMA PAIXÃO
QUE PEGUE, VINGUE,
                         SE IMPREGNE

E TRAGA MAIS DOÇURA
A IDEIA DE SE ACHAR
PESSOA NULA, À ESPERA,
                            À PROCURA.

LIVRO VIDE VERSO - À PAGU

PENSA,
POR ISSO TENTA.
LANÇARAM REDES,
ERGUERAM PAREDES.
MENTIRAM,
PRENDERAM,
FERIRAM.
VEDARAM OS ACESSOS
                     E OS AFETOS.

MAS ELA PENSA,
POR ISSO TENTA.
QUISERAM CALAR
MENTE E CORPO.
SE ENGANARAM,
NÃO MORREU.
POIS NOS TEXTOS
QUE ESCREVEU,
SOBREVIVEU.
ELA VIVE
E TENTA SEU INTENTO.

LIVRO VIDE VERSO - JORGE LUIS BORGES

A MUITOS METROS
DA PIRÂMIDE
SE INCLINOU.
SE INCLINOU E AJOELHOU,
A MUITO METROS,
NÃO SEI QUANTOS.
                              POUSOU AS MÃOS NA AREIA,
                              LEVANTOU-AS CHEIA,
                              PARA ESCORRER AO VENTO,
                              COMO ODE, COMO PRANTO.
ASSIM COMO JORGE LUIZ BORGES,
MODIFICOU O DESERTO.
TAMBÉM ELE,
ASSIM COMO ELE.
                               E SÓ COMPREENDEU
                               A GRANDEZA DE
                               TÃO PEQUENO GESTO,
                               PORQUE LÁ CHEGOU,
                               DEPOIS DELE.

LIVRO VIDE VERSO - ÚLTIMAS FLORES

AS ÚLTIMAS FLORES DO VERÃO
VERÃO A TRISTEZA QUE CAUSAM
AO ENCERRAREM A ESTAÇÃO?
PÉTALAS ESPRAIAM AS LUZES,
QUE NO CÉU DESMAIAM.
JÁ SE SENTE NO AR FRIO,
A SUAVIDADE DE ABRIL.
ARAUTO DA NOITE,
O POR DO SOL PROMOVE
MEMÓRIAS E EMOÇÕES
QUE,NO INVERNO DA VIDA,
RELEMBRAM TANTOS OUTROS VERÕES.

LIVRO CINCO MINUTOS PARA MAIO - UMA PENA, UM PAPEL

UM PAPEL,
UMA PENA,
O CASTIÇAL,
UM TINTEIRO ANTIGO.

                             O CENÁRIO IDEAL
                             PARA COMPOR
                             UM CONTO,
                             UM TEMÁRIO,
                             UM ARTIGO.

OU VERSOS
CUJA RIMA
EXPRIMA
O QUE MEREÇA
A PENA.

                             POIS O QUE
                             ESTÁ ESCRITO,
                             ESTÁ DITO,
                             ESTÁ VIVO.

LIVRO VIDE VERSO - AGRESSÃO URBANA

A AGRESSÃO URBANA
DESTA POLUIÇÃO,
DESTE CONGESTIONAMENTO,
PROMOVE
UM DESEJO DE SOBREVIVÊNCIA
QUE APASCENTA O TEMOR,
                                  O CANSAÇO,
                                  A IMPACIÊNCIA.
EM MEIO AO TRÂNSITO
A ALMA PREFERE O TRANSE,
E CALMA, SE RENDE À LEMBRANÇA
DAS BUSCAS DE PROUST,
DE UM VIDRO GALLÉ ...
AO PERFEITO AJUSTE
DE PAZ E CERTEZA
CRISTALIZADAS EM VOCÊ.