LIVRO FIO DE CRISTAL - VELHICE

OS TEMPOS AJUDARAM. É VERDADE.
A VELHICE CHEGA BEM MAIS TARDE.
MAS CHEGA. E TOLICE É SONHAR
QUE O FIM DO VIÇO TRAGA, CONSIGO,
PAZ E CONTEMPLAÇÃO.

AO CONTRÁRIO,
POR SUA IRREVERSÍVEL FRAGILIDADE,
TRAZ INÚMERAS DIFICULDADES.
DESEJA-SE VER, FALTA VISÃO.
DESEJA-SE OUVIR, FALTA AUDIÇÃO.
DÓI AQUI, DÓI ALI, DÓI ACOLÁ.
DOEM ... OS VÁRIOS ARREPENDIMENTOS.

O ACUMULADO CONHECIMENTO,
ACUMULA-SE SOB O ESQUECIMENTO.
TENTAR LEMBRAR ALGUM NOME OU TÍTULO,
É DAR INÍCIO AO CAPÍTULO DA CAPITULAÇÃO.

REMEMORAR SAUDADES, COMOVE      
PELA NOSTALGIA DAS PERDAS AMADAS,
DA PLENITUDE, NA LONGÍNQUA JUVENTUDE.

E, PELA AUSÊNCIA DE PARTICIPAÇÃO,
ISOLADO DO SEU LAVOR,
O IDOSO ESFORÇA-SE EM SE EXPOR,
PARA, A SI MESMO, SE IMPOR.

EXISTEM PRECIOSAS EXCEÇÕES.
AQUELES QUE AINDA CONSERVAM 
OS GENEROSOS PRESENTES:
BEM-ESTAR E MENTE, EXCELENTES.
MAS SÃO RAROS, MUITO RAROS.

LIVRO FIO DE CRISTAL - MOTE PERPÉTUO

TUDO O QUE FALAMOS,

MUITO ANTES FOI FALADO.

OS SENTIMENTOS,

OS SIGNIFICADOS,

TUDO, ANTERIORMENTE,

FOI IGUALMENTE SENTIDO,

DESCRITO, COMPARTILHADO.

O QUE PENSAMOS,

O QUE DESEJAMOS,

O QUE SOFREMOS,

JÁ FOI, DANTES, PENSADO,

DESEJADO, SOFRIDO.

ATÉ O QUE CALAMOS,

QUE NUNCA SERÁ

DITO, NEM ESCRITO,

ECOA NO ESPÍRITO

COM AS REITERADAS VERSÕES

DE TUDO QUE JÁ FOI SILENCIADO.

É A SEIVA DE VIDA,
CONTINUAMENTE,
SEGUIDA.

LIVRO VIDE VERSO - SABOR DE CANSAÇO

RESTA UM SABOR DE CANSAÇO
EM PROCURAR,
EM LUTAR,
EM SENTIR
E ESPERAR E CONTINUAR.

RESTA UM SABOR DE AMARGURA
EM SORRIR,
APLAUDIR,
DISFARÇAR
E SOFRER E CONTINUAR.

RESTA UM SABOR DE LOUCURA
EM PERDER,
SE CONFORMAR,
O TEMPO PASSAR,
E VIVER E CONTINUAR.

LIVRO VIDE VERSO - ARCO-ÍRIS

NO INÍCIO DO ARCO-ÍRIS
AS ESPERANÇAS,
A ILUSÃO DOS IDEAIS,
A FÉ INVICTA,
AS DECISÕES.

NO MEIO DO CAMINHO,
AVALIAÇÕES DE LUZ
E DE SOMBRAS
NO CERNE JULGADOR.
REGOZIJOS,
METAS CUMPRIDAS,
EXPIAÇÕES.

NO FIM DO ARCO-ÍRIS,
O OURO DAS LEMBRANÇAS,
ALGUMAS EMOÇÕES,
AUSÊNCIAS,
A PAZ DA INDIFERENÇA,
EXTINÇÕES.

LIVRO VIDE VERSO - ONDE APORTAR?

AONDE IR
SEGUINDO VIDAS.
ONDE APORTAR
FUGINDO EM MIM?
AUSÊNCIA EM SER.
LÁGRIMAS MUDAS.
SÃO PINGOS DE FOGO
NOS CÓRREGOS INTERNOS
DAS DECEPÇÕES PROFUNDAS.
AUSÊNCIA EM TER.
MORTO, ME MATO.
NADA MAIS SOU.
SIGO POR AÍ ...
É O QUE RESTOU.

LIVRO VIDE VERSO - ESTE DESERTO

NOITE TRISTE, NOITE FRIA
DAS NOITES DESTE DESERTO.
HORAS EM QUE PERTENÇO
A GENTE QUE NÃO ESQUEÇO,
A TUDO ALÉM E INCERTO.

NOITES DE FUGA E MÁGOA
ESCURAS, PERDIDAS, VARADAS,
ILUMINADAS POR UMA SÓ CHAMA:
REVER MINHA QUERENÇA,
ESQUECER A ALMA EXILADA.

AH! NOITE, TRAZ-ME O SOL
E O SOM DO MEU DESPERTAR.
ACABE MAIS ESTA AFLIÇÃO
E, NA CLARIDADE DO DIA,
A RECLUSÃO AFASTAR.

LIVRO VIDE VERSO - OUTRA VEZ ELIS REGINA

SEMPRE, AO VER NA TV
UM TRIBUTO A VOCÊ,
RELEMBRO A SURPRESA
E A TRISTEZA
QUANDO SUA ARTE,
TÃO CEDO CALADA,
CALOU MINHA VOZ.
E CONTINUO, ANOS APÓS,
SEM LENITIVO
A ESTE SILÊNCIO..
AH!  ELIS, MAIS UMA VEZ,
NESSA RIMA INFELIZ,
A AUSÊNCIA QUE NÃO SUPEREI.
A SAUDADE QUE JAMAIS QUIS

LIVRO FIO DE CRISTAL - HISTÓRIA CURIOSA - O CACTO

     

 

NA DÉCADA DE TRINTA, DO SÉCULO PASSADO, A PLANTA CACTO TEVE MOMENTOS

DE GLÓRIA, POIS FOI MUITO UTILIZADA COMO DECORAÇÃO NAS CASAS MODERNISTAS.

À ÉPOCA, VISITANDO O ATELIER DO PINTOR ANTONIO GOMIDE, O ARQUITETO GREGORI WARCHAVCHIK LHE DEU DE PRESENTE UM PEQUENO VASO COM A PLANTA,

AVISANDO-O QUE NÃO ERA DO TIPO VERTICAL. ELA OCUPARIA GRANDE ÁREA.

VISITANDO SEU PRIMO RAPHAEL GOMIDE RIBEIRO DOS SANTOS (MEU AVÔ), O PINTOR,

SEM MAIOR INTERESSE EM JARDINAGEM, LEVOU-A, PEDINDO-LHE QUE A REPLANTASSE.

ASSIM FEITO, O CACTO VINGOU, ESPALHANDO-SE SOBERBAMENTE. DURANTE ANOS, ACOMPANHOU A HISTÓRIA DE VIDA DOS MEUS AVÓS, SEUS FILHOS E NETOS.

NA DÉCADA DE 70, QUANDO OS TRÊS PERSONAGENS INICIAIS NÃO MAIS VIVIAM,

HOUVE, EM SÃO PAULO, UM VERÃO MUITO QUENTE. NUMA TEMPERATURA

EXAGERADA, RELEMBRANDO, TALVEZ, SUA ORIGEM DE ÁREAS SECAS, NASCEU

NO CENTRO DA PLANTA UM ARBUSTO, QUE FOI CRESCENDO FINO E ALTO.

AO TÉRMINO DE SEU DESENVOLVIMENTO, SURGIRAM, NO CAULE, VÁRIOS CACHOS

DE FLORES BRANCAS, QUE A TODOS ESPANTARAM E AGRADARAM.

UM CALOR TÃO INTENSO, COMEÇOU A PROVOCAR FORTES TEMPESTADES. FICÁVAMOS ASSUSTADOS PELO CONSTANTE TITUBEAR DA NOVA ATRAÇÃO DO JARDIM.

E, REALMENTE, NUMA NOITE DE CHUVA E VENDAVAL, O CAULE AMANHECEU ABATIDO.

NÓS, QUE O ACOMPANHAMOS DESDE O INÍCIO, TAMBÉM FICAMOS EXTREMAMENTE

ABATIDOS. SOUBEMOS, DEPOIS, QUE DURARIA APENAS A ESTAÇÃO.

ESTA FAMILIAR HISTÓRIA SERVIU DE TEMA PARA MINHA POESIA,

O CACTO, NO LIVRO VIDE VERSO, RELEMBRANDO O MUITO QUE SOBREVIVEU.

LIVRO FIO DE CRISTAL - CRÍTICA ANÔNIMA

FINALMENTE UMA CRÍTICA!
DE ALGUÉM ANÔNIMO.
PARA ESTA MERA GRAFIA
É QUASE UM FENÔMENO.

ACREDITO QUE PARA MUITOS
DEVO PARECER PRESUNÇOSO.
EM TÃO PEQUENO ESPAÇO
E POUCO CONHECIMENTO,
COMENTAR TÓPICOS ERUDITOS.
QUIÇÁ, ACHEM RIDÍCULO,
JÁ QUE NÃO SOU UM PENSADOR.

ENTRETANTO, SINTO-ME ORGULHOSO,
MESMO DE MANEIRA SIMPLES,
EM DIZER O QUE PRETENDO.
AOS QUE SOUBEREM CONTRADIZER
APENAS TEREI QUE AGRADECER.  
PREFIRO A DESAVENÇA À INDIFERENÇA.

CONFESSO CERTA INTOLERÂNCIA
EM ME MANIFESTAR SÓ DEPOIS DE LER
O QUE UM SÁBIO ESCREVER.
NÃO É ARROGÂNCIA.
TUDO É TÃO SUBJETIVO,
TUDO PODE SER OU NÃO SER,
QUE OPTO, TAMBÉM, SER INTUITIVO
E OUSAR A EXPERIÊNCIA DO VIVER.

NÃO ESQUECI O AMOR, NEM A FLOR,
QUE, ALIÁS, ESVAECEM CADA VEZ, MAIS.
PORÉM, NESTE TEMPO,
VEJO MAIOR SENTIDO
EM ESCREVER AS SÉRIAS QUESTÕES
QUE A PRÁTICA TRAZ.

LIVRO FIO DE CRISTAL - SEXO

PENSAR EM SEXO...
A NATUREZA O FEZ
COM TANTO ENCANTO
PELO SUCESSO DA CRIAÇÃO.
NO ENTANTO,
QUÃO MAIS COMPLEXO
FOR SEU SENTIDO
MAIS AFETA NOSSA PERCEPÇÃO.
PELA FUNÇÃO DO VIVER,
DOMINA, NÃO SÓ POR GERAR,
MAS, PELO INTENSO PRAZER.
COM AFEIÇÃO OU SEM
EXERCE O FASCÍNIO QUE TEM.
QUANDO HÁ AMOR
É NÉCTAR  QUASE SAGRADO.
CONTUDO, SUA SEDUÇÃO
TAMBÉM TRAZ DECEPÇÕES:
FRUSTRAÇÃO, TRAIÇÃO, CORRUPÇÃO.                    
DA CARÊNCIA DO SEU AMPLEXO
EMERGE, DO EMOCIONAL,
GRANDE PARTE DOS COMPLEXOS.
EXISTE A LIBIDO SUBLIMAÇÃO.                 
PORÉM, NÃO ESTÁ EM NOSSA GÊNESE
REPRIMIR O FRUIR DESSA EMOÇÃO,
QUE NÃO É SÓ PARA PROCRIAÇÃO.
SEJA QUAL FOR A IDADE 
HÁ O FEMININO ANSEIO,
HÁ A VARONIL SEXUALIDADE.

LIVRO FIO DE CRISTAL - BRINCADEIRAS COM ÂNGELA

COMO É GOSTOSA
UMA BOA PILHÉRIA.
NÃO A MALDOSA,
QUE É ZOMBARIA.
MAS, A BRINCALHONA,
A DIVERTIDA FACÉCIA,
QUE RESGATA NOSSO RISO,
TÃO EM RISCO
ENTRE OS CONFLITOS.
QUE, EM SUA CONSISTÊNCIA,
SEM INQUIETAR A CONSCIÊNCIA,
NOS ALEGRA, NOS ACALMA
E AGRADA A ALMA.

 

LIVRO FIO DE CRISTAL - 70 ANOS

                   

                   

70
ANOS DE DIAS E DE NOITES.
TEMPOS DE VÁRIAS ALEGRIAS
E DE DIVERSOS AÇOITES.
DAS FICÇÕES DA INFÂNCIA
À REAL MATURIDADE.

POR PERSONALIDADE
DE RARAS OUSADIAS
E CONSTANTES RELUTÂNCIAS,
QUANTOS ENSEJOS PERDIDOS
E DESPERDIÇADAS IMPORTÂNCIAS,
TARDIAMENTE RECONHECIDOS.

MUITA OPORTUNIDADE,
DE MELHOR VIDA, TALVEZ,
PODERIA SER VIVIDA,
SEM A INTENSA TIMIDEZ       
QUE LANÇOU AS CHANCES FORA.

O ARREPENDIMENTO
VEM AGORA.       
COM OUSADO ATAQUE
E INÚTIL VERDADE,
POIS, A QUALQUER INTENTO ...
É MUITO TARDE.

LIVRO VIDE VERSO - O POR DO SOL

COMPREI OS RAIOS
DO POR DO SOL
E AS NOITE DE LUAR,
NOS SÍTIOS QUE TE DEI.
E POR SER TEU,
TORNOU-SE PORTO MEU.

LÁ, NO INÍCIO
DO NOSSO LAR,
ONDE CRESCEU,
NO RUMO DOS NOSSOS TRILHOS,
O BRILHO DOS NOSSOS FILHOS.

LÁ, AONDE UM POUCO
ERA TUDO
E TUDO FOI POUCO
QUANDO A VIDA A LEVOU.

MAS, EM MIM FICOU
O NINHO DE AMOR
QUE TIVEMOS
E QUE TEREI,
POIS FOI TEU, FOI NOSSO
E NUNCA ESQUECEREI.

LIVRO VIDE VERSO - BRINCAR COM PALAVRAS

VI POR VER,
SEQUER SEM SABER
O QUE VI.
VI QUE VIA
O QUE NÃO QUERIA,
QUANDO VI
QUE O QUE VI
NADA TINHA A VER
COM O QUE ESPEREI VIR,
COM O QUE SEMPRE QUIS VER:
VOCÊ.

LIVRO FIO DE CRISTAL - RETRAIMENTO

ESTA SOLIDÃO
NÃO É UM RETRAIMENTO,
NEM UMA TRAIÇÃO
ÀS RELAÇÕES QUERIDAS.
É UM RESQUÍCIO DE LAMENTO
PELO DESINTERESSE NA VIDA.
UM INÍCIO DE ENCERRAMENTO
PELOS CONCEITOS SEM EFEITOS,
PELO CANSAÇO DOS DEFEITOS.
É UMA SOLIDÃO DE RENÚNCIA
QUE ANUNCIA, A MIM,
UMA DENÚNCIA DE FIM.

LIVRO FIO DE CRISTAL - A 31ª BIENAL DE SÃO PAULO - considerações pessoais

É extremamente difícil tentar definir o que é Arte.

Essa opinião vem se confirmando, nos últimos anos, principalmente, em relação às exposições das galerias e das Bienais: Arte contemporânea parece ser qualquer coisa que alguém assim a considere, independente do que a obra representar. O conceito tradicional da estética do belo cedeu, há muito tempo, aos diferentes significados artísticos surgidos.
Se a liberdade passou a ser tão grande, prefiro simplificar, parafraseando Marcel Duchamp que declarou: "Arte será tudo o que eu disser que é", dizendo, modestamente, que, para mim, Arte, (visual, sonora, olfativa e demais) é toda expressão criativa que me sensibilizar.
Fica mais fácil.
E o que me sensibiliza em Artes Plásticas, já que falamos da 31ª Bienal, é fundamentalmente, o belo, a coerência e harmonia entre o tema e sua realização, em obras precursoras ou não. Seja em uma Pietá de Michelangelo, de Brecheret ou um busto de Brancusi; um Cristo de Ticiano ou de Aleijadinho; um impressionismo de Manet, Van Gogh ou uma figura feminina de Gustav Klimt; uma colagem de Braque ou uma abstração de Albers, Rothko ou Volpe. O Gótico, a arte holandesa, a japonesa e, assim, tantas mais.
As Bienais sempre trouxeram projetos de vanguarda. Lembro, em algumas das décadas anteriores, a maneira como saía empolgado ao ver uma ação inovadora, que nos mais diferentes tipos de suporte: telas, esculturas, vídeos e outros, me fazia admirar e aprender os diferentes rumos no qual a criatividade podia ser exercida.
Há alguns biênios, a minha impressão, deixou de ser assim.
A exemplo de épocas anteriores, desde a década de 20, internacionalmente, e a partir dos anos 60, no Brasil, voltou à cena, nos anos 80/90, com grande entusiasmo, a exibição artística: Instalação. Por permitir muita liberdade de ação, os artistas, principalmente iniciantes, acreditaram que, através dela, poderiam ser válidas qualquer tipo de composição.
A Instalação trouxe muita dúvida ao ser considerada Arte, não  apenas por seu conteúdo, mas, também por não ter permanência, destinada apenas a uma exibição, desaparecendo após e perdendo o propósito de reflexão e transcendência. Ocupando grandes espaços e salas especiais, algumas serviram de base ao surgimento de ótimas obras, mas, a maioria, a muito engano. Qualquer aglomerado de objetos estranhos ou absurdos foi assim classificado. Isso deixou o observador espantado, por não compreender tanto o significado do que via, como a falta de talento. Recordo, numa Bienal do passado, que um monte alto de tênis velhos e sujos, sobre uma base de terra, expunha-se como uma instalação.
Nesta 31ª Bienal de São Paulo, o tema foi “Como ... coisas que não existem”, no sentido de preencher as reticências com termos como ler, aprender, escrever, criar, ou seja, tentar representar o que não existe.
Não entendi a proposta, pois o que vi, não me ajudou a imaginar o que não existe. Ao contrário, tudo me pareceu já visto, muitas vezes. Talvez nas áreas destinadas a crianças, nas quais muitas desenhavam, esse assunto, como uma brincadeira, tenha encontrado maior receptividade.
Bastante visível e muito existente, a questão mais evidente desta Bienal foi a intenção de protesto, de rebelião e de resistência a todas as formas de perseguição: política, religiosa, econômica e sexual.
Assim, diversos artistas colocaram, em suas obras, conturbações humanas como a escravidão, o confinamento indígena, o homossexualismo, o aborto, o tratamento penitenciário, as torturas ditatoriais, a religião e a opressão capitalista.
Uma parte considerável dos vídeos, que assisti, teve como enfoque a pobreza social e a manutenção de tradições culturais, em diversos países. A técnica de filmagem e encenação foram comuns, à exceção de um vídeo inglês que, com outro enfoque temático, comentava, na forma de um musical bastante original, a opressão de empregadores sobre seus empregados.
Com produções criadas e montadas de maneira convencional, notou-se a falta de ideias avançadas ( e em suportes mais modernos), características de uma Bienal, tais como arte cinética, holográfica, computadorizada ou até mesmo o grafite (não digo, rabiscos).
Diversas Instalações expuseram sua comunicação em simples e toscas folhas de madeira aparente. Pinturas e desenhos exprimiram-se através de grandes páginas de papel, soltas ou coladas, e em tecidos, de muitos metros, como grandes faixas, com frases e estampas. Uma grande rede com mapas desenhados e outros objetos suspensos do teto, preencheram alguns espaços.
Telas, de grande tamanho, destinadas a pinturas, tinham rostos de detentos, injustiçados ou não. Outras, com temas indígenas. Outras ainda, com manifestações de grupos de pessoas que, integradas a composições fotográficas, apresentaram interferências perturbadoras e interessantes. Assim também, uma instalação com efeitos eletrônicos, dentro de uma vitrine, que simulava uma confusa situação, parecendo ser um fim de festa da decadência social consumista.
Com cerca de 250 obras (muitas, inclusive, dos anos 70 e 80), de artistas nacionais e estrangeiros, principalmente sul-americanos, ficaria difícil fazer muitos comentários. E se dissesse algum nome de artista, teria que citar todos.
O que muito se destacou, para mim, nas novas mostras, foi a grande rebeldia demonstrada em esculturas, instalações e vídeos sobre diversidade, sobre política/economia e sobre religião.
Tais como: 
-a perseguição social e policial que sofrem as minorias pela
vivência sexual e a sua revolta ao injusto tratamento, como na obra Linha de Vida, com jornais denunciadores de assassinatos gays, colagens, objetos, roupas extravagantes (como provocação libertária) e vídeos;
- a violenta e polêmica crítica sobre a exploração do poder colonialista, político e econômico, como na escultura (proibida para menores de 18 anos) Haute Couture 04 Transport, na qual um cachorro alemão penetra uma líder feminista boliviana, que por sua vez, penetra o rei espanhol Juan Carlos, que despeja flores, pela boca. Ao redor, nas paredes, mini pessoas escavam riquezas em túneis de minas, como se fossem formigas num formigueiro, trabalhando, como escravas, para o capitalismo. O interessante sobre o autor, que vim a saber pelos jornais, é que foi um terrorista, preso por diversos atentados em Londres, na década de 70;
- o questionamento à submissão e vassalagem que geram as religiões em seus fiéis, nas obras Deus é Maricas, Errar de Deus e o vídeo Inferno que propuseram insurreições de muita agressividade e impacto.

Algumas Instalações, do Oriente Médio, resgataram costumes, abandonado por seus países, o antigo artesanato popular, feitos em tecidos, tapetes, madeiras e outros ornamentos, muito bonitos.
Outra, chilena, atraía por sua leveza plástica, expondo, penduradas em diferentes níveis de altura, matrizes de impressão de jornais, em metal, acetato ou filme, nos quais se percebiam manchetes sobre a violência política, a policial e a criminosa. A transparência das matrizes em acetato, compunha-se com a luz ambiente, em belos matizes.
Também um enorme e diferente mapa, criado por artista chinês, com lugares verdadeiros e imaginários, utopias e anarquismos, feito à mão, a exemplo da tradição caligráfica de seu país, sobressaía.
Uma Instalação de esculturas, num escuro ambiente circular, me assombrou, pela tétrica maneira de expor o martírio e execução de figuras humanas rebeladas, de minorias étnicas, com a simulação de enforcamentos e cabeças cortadas.
Espalhadas pelos espaços imensos e de cansativos percursos (a exposição poderia ser mais condensada), obras interessantes, outras menos e com maior ou menor entendimento e satisfação do público, todas se integraram na intenção desta Bienal de mostrar, pela Arte, a contemporânea convivência social: conflitante, incoerente, injusta, persecutória, desorientada
e com árduos rumos de solução.

Um fato curioso e oposto ao assunto temático, foi perceber a alegria de adolescentes de escolas. Fazendo grande algazarra, interessavam-se, é claro, pelas obras mais engraçadas e excêntricas, que exigiam participação pessoal, tais como, um estilizado disco voador, sextavado, tendo o interior todo metalizado, com uma sonoridade diferenciada e imagens psicodélicas.
Por não ter (penso eu) maiores conhecimentos artísticos de comparação ou avaliação, com outras precedentes e melhores inspirações, para a juventude, atualmente, Arte é o que ela vê neste gênero de exposição. Valendo-se da oportunidade de zombar do que não gostou ou exagerar no que achou "genial”, torna tudo mais divertido do que sério, sentindo-se identificada com os costumes liberais da própria época em que vive.
Enfim, adultos ou adolescente, creio que o mais importante, para todos nós, neste tipo de evento, é irmos, conferirmos, interagirmos (ou resistirmos) ao que oferece o momento que vivemos.

EDGARD RIBEIRO DE AMORIM - MTB 16.893

LIVRO VIDE VERSO - AO SÓ ...

AO SÓ,
QUÃO EFÊMERO
É O PRAZER.
SEJA UM ATO DE AFETO,
UM SUCESSO,
UM OBJETO.
O CONTENTAMENTO
VIVE AQUELE MOMENTO.
MAIS INTENSO, SATISFAÇÃO.
MENOS, ESQUECIMENTO.
TALVEZ FAMÍLIA,
FILHOS, UNIÃO,
TALVEZ ATÉ RELIGIÃO
SEJA A GRATIFICAÇÃO
DE MAIOR ALEGRIA.

LIVRO VIDE VERSO - MENTIR

MENTIR
É UMA NECESSIDADE.
MENTE-SE POR DEFESA,
POR CARIDADE,
POR INCERTEZA
OU POR MALDADE.
MENTIMOS A NÓS MESMOS
POIS NADA É MAIS DENSO
QUE A PRÓPRIA REALIDADE.
A MENTIRA É INERENTE
E TORNA-SE EVIDENTE
NO CONVÍVIO SOCIAL,
NO QUAL, A VERDADE
É IMPENETRÁVEL.
TENTAMOS NOS EMBAIR,
PELA FÉ, PELA MORAL
E FINGIMOS QUE
NÃO MENTIMOS.

LIVRO VIDE VERSO - PEQUENOS INSTANTES

A VIDA É REPLETA
DE PEQUENOS INSTANTES.
UNS, SIGNIFICANTES,
NOS RUMAM, CONFIANTES.

OUTROS,
TAMBÉM SIGNIFICANTES,
NOS ISOLAM
DISTANTES.

PORÉM,
ESPECIALMENTE RELEVANTES,
SÃO AQUELES QUE NOS EXPÕEM
TÃO INSIGNIFICANTES.

LIVRO VIDE VERSO - AMAR DEMAIS

AMAR DEMAIS
É TER A ALMA TRINCADA
QUANDO A PESSOA AMADA
                                        SE VAI.

QUERER DEMAIS
É SOFRER DECEPÇÃO
QUE NÃO SE ESQUECE
                       E QUE NÃO SAI.

PENSAR DEMAIS
É NADA RESOLVER
E SEM ACONTECER
                  A IDEIA SE ESVAI.

PONDERAR, É O IDEAL
POIS, SEM O DOMÍNIO DA NOÇÃO,
                         A RAZÃO CAI.

MAS QUEM CONSEGUE?

LIVRO VIDE VERSO - O TRIVIAL ESSENCIAL

QUANDO FINDOU
É QUE SURPREENDE
COMO O TRIVIAL
FOI ESSENCIAL.

UM BEIJO DE MÃE,
UMA BRINCADEIRA,
UM LAR.
UM NATAL,
UMA AMIZADE
UMA ALEGRIA ESCOLAR.

SÃO HONROSOS
OS SUCESSOS PROFISSIONAIS.
PORÉM, OS PEQUENOS GESTOS,
OS SORRISOS, OS CARINHOS,
À MEMÓRIA
PARECEM VALER MAIS.

LIVRO VIDE VERSO - COMO ESQUECER?

COMO ESQUECER
AQUELE AMOR?
AQUELE EGO FERIDO?
NÃO É QUE NÃO
TENHA QUERIDO,
MAS VÁ AONDE FOR,
ELA LEVA
A MENTE CONSIGO.

LIVRO VIDE VERSO - UM PULSAR AO FIM

HÁ EM MIM, UM PULSAR
MAIS PRÓXIMO DO FIM.

ASSIM,
NÃO ACOMPANHAREI
A JOVEM TRILHA DE VIDA
DE PESSOAS QUERIDAS.

O INEXORÁVEL É IMPLACÁVEL.

SINTO, HOJE
O QUE NÃO VEREI AMANHÃ.
SINTO, HOJE ...
A FALTA QUE NÃO FAREI AMANHÃ.

LIVRO VIDE VERSO - ASSAZ DIFERENTES

SOMOS INDIVÍDUOS
ASSAZ DIFERENTES.
AO INVÉS DE UMA SÓ, CREIO
NASCERMOS DE VÁRIAS SEMENTES.

NEGROS, BRANCOS, AMARELOS.
PROCEDEREMOS DO MESMO MEIO?
POR ONDE PASSA O INICIAL ELO
QUE TANTA ALTERAÇÃO TRAÇA
NA COMPOSIÇÃO FÍSICA DAS RAÇAS?

O COSMO JORROU VÁRIAS QUÍMICAS.
MUITAS COMBINAÇÕES SE DISTINGUEM
E INÚMERAS DÚVIDAS SÃO EXPOSTAS.
APESAR DA TEORIA DE DARWIN,
TEREMOS TODOS A MESMA ORIGEM?
RECEIO QUE ESTE ANSEIO
VÁ DEMORAR A TER RESPOSTA.

LIVRO VIDE VERSO - SEM PENSAR EM VALOR

UM BRILHO INTENSO
LUZIU NA AREIA.
UM PEQUENO VIDRO
EXPÔ-SE AO SOL,
COM TODO ESPLENDOR.
O REMOVI
E ME ENVOLVI
NA REFLEXÃO:
VIDRO E DIAMANTE.
UM É DISPONÍVEL
O OUTRO DIFÍCIL.
UM É COMUM
O OUTRO É RARO.
UM É BARATO
O OUTRO É CARO.
E OS DOIS IRRADIAM
EM PLENO FULGOR,
SEM PENSAR EM VALOR.

LIVRO VIDE VERSO - O CACTO

O CACTO,
NUM ATO DE AMOR,
DESPERTOU DE SEU ÂMAGO,
NUM TRIBUTO AO VERÃO,
UM BROTO,
QUE DIA A DIA CRESCIA,
EM RAMOS E FLOR.
MUITO FINO E MUITO ALTO,
NOS DEIXAVA EM SOBRESSALTO
POR SUA FRÁGIL SITUAÇÃO.
TODA CHUVA, TODO VENTO,
QUALQUER MUDANÇA DO TEMPO
O FAZIA ESTREMECER.
VERGAVA, TENTANDO
NÃO ESMORECER.
CERTA NOITE, PORÉM,
UM VENDAVAL FURIOSO
E EXAGERADO, O ABATEU.
NO CHÃO AMANHECEU
E A TODOS NÓS ENTRISTECEU.

LIVRO VIDE VERSO - AMIZADE

AMIZADE
É A BONDADE
QUE O ACASO
OFERECE.
E TECE
UM NINHO DE CARINHO
NO ABRIGO
DO ABRAÇO AMIGO.
É O TOM DE DOÇURA
NA NOSSA AMARGURA.
O ENCONTRO
DO PORTO DE CONFORTO,
NAS IDAS E VINDAS
DA VIAGEM VIDA.